Erro em mapa da América do Sul não era o único

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Na apostila de exercícios recebida por João Pedro, José e Nilo, estudantes na capital paulista, a América do Sul tem uma geografia diferente.  
 
O material da 6ª série da rede pública estadual de São Paulo traz um mapa com dois Paraguais. Nenhum deles no lugar certo. O primeiro fica onde deveria estar o Uruguai. O segundo, aparece junto com a Bolívia. E o Equador? Sumiu.  
 
“É ruim, porque prejudica no nosso ensino”, comenta Nilo Henrique do Nascimento, de 14 anos.  
 
A professora de João Pedro Ignácio já avisou: “Não vai passar prova sobre mapa do Brasil porque tem dois Paraguais e vai ficar ruim para gente”, conta João Pedro Ignácio, de 13 anos.  
 
O motivo da confusão?  
 
“Está absolutamente evidente que houve um problema na hora da impressão”, justifica a secretária de Educação de São Paulo Maria Helena Guimarães de Castro.  
 
Cerca de 500 mil apostilas com o mapa errado foram distribuídas às mais de cinco mil escolas do estado.  
 
“O material está sendo recolhido. Não vamos gastar nenhum tostão a mais por essa reimpressão desses cadernos que serão substituídos”, avisa Maria Helena Guimarães.  
 
A Fundação Vanzolini, instituição privada responsável pela revisão e impressão do material, disse em nota ao Fantástico que novos exemplares, corrigidos, chegarão às salas de aula em dez dias.  
 
“Qualquer erro em material didático é grave, porque este material está a serviço da divulgação do saber”, comenta a educadora da USP Silvia Gasparian Colello.  
 
Há mais motivos para se preocupar. A Secretaria de Educação admitiu 17 erros de grafia e informações incorretas nas apostilas que, ao todo, custaram R$ 36 milhões aos cofres públicos.  
 
O navegador Cristóvão Colombo teria, por exemplo, segundo uma das apostilas, desembarcado na América em 1942, e não em 1492, como de fato aconteceu. Os números 4 e 9 estão invertidos.  
 
“Você fala ‘mas foi só uma inversão de dois números’. É mas uma inversão que vai trazer toda uma compreensão incorreta sobre o tempo”, diz Silvia Colello.  
 
Uma professora da rede estadual, que não quis se identificar, apontou mais um erro. No caderno de geografia para estudantes do segundo ano do ensino médio, o mapa indica que o pau-brasil era encontrado em todo o território nacional no século 16.  
 
“Não é bem assim. O pau-brasil é uma espécie que ocorre na Mata Atlântica, apenas nas florestas litorâneas. Ele nunca existiu em todo o território nacional”, corrige Pablo Pena Rodrigues, biólogo do Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro  
 
“Esse material vai para casa do aluno. Como ele vai dar continuidade ao seu estudo se ele está com o material errado?”, pergunta a professora.  
 
Não há previsão de troca dessas outras apostilas. Por enquanto, alunos e professores terão de fazer as modificações à mão, seguindo as orientações da Secretaria de Educação.  
 
“Eu gostaria até de dar uma palavra de tranquilidade a todos os pais, a todos alunos, que esse material é de boa qualidade, é um material bem feito, e os erros estão sendo corrigidos. Esse material é para apoiar o trabalho do professor, para melhorar a sala de aula. Nunca os nossos alunos tiveram isso antes, é a primeira vez. Isso é o que importa, é que nós estamos melhorando a sala de aula”, diz a secretária de educação de São Paulo.  
 
O problema não se restringe a São Paulo. Um livro de ciências, aprovado pelo Ministério da Educação para escolas de todo o país, ensina que o sistema solar tem dez planetas. Falso. Na época em que a obra foi editada, 2005, eram nove planetas. No ano seguinte, 2006, Plutão foi rebaixado. Assim, para a União Astronômica Internacional, existem hoje oito planetas no sistema solar.  
 
Segundo o Ministério da Educação, em mensagem eletrônica enviada ao Fantástico, as autoras, quando escreveram o livro, teriam antecipado uma informação que jamais chegou a ser oficial: a de que o objeto espacial UB 313, também conhecido como Eris, seria o décimo planeta.  
 
“Nessa época a União Astronômica Internacional estava discutindo o assunto. Não tinha decisão oficial nenhuma”, lembra o astrônomo da USP Enos Picazzio.  
 
“Nenhum livro é perfeito. O que o MEC faz é trabalhar na perspectiva de ter cada vez livros melhores”, aponta a coordenadora de Livros Didáticos do MEC, Jane Cristina Silva.  
 
Os representantes da editora Escala Educacional, que publicou a informação errada sobre os planetas, não quiseram gravar entrevista. Mas assumiram a responsabilidade e alegaram ao Fantástico já ter corrigido o texto. Como o ciclo de avaliação e compra de livros didáticos pelo governo demora três anos, a versão revisada só estará disponível para as escolas públicas em 2011.  
 
“Deveriam ter mais responsabilidade as pessoas que adquirem esse material. Tem que ser muito bem conferido antes de passar, porque é uma instrução que está passando errada”, diz o pai de Nilo, João Luiz Sella.  
 
 

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