Entenda o PNLD e saiba quais são os livros didáticos mais distribuídos em 2017

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Mais de 152 milhões de novos exemplares de livros didáticos estão circulando neste ano pelas escolas públicas do país. Cerca de 117 mil unidades de ensino escolheram, entre as obras selecionadas previamente pelo Ministério da Educação (MEC), aquelas que melhor atenderiam suas demandas de ensino e aprendizagem. Esse ritual acontece todo ano e faz parte do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD).

A cada edição, uma etapa de ensino recebe uma nova coleção, que deve ser utilizada pelas instituições pelos próximos três anos, quando mais uma escolha de obras é feita pelas escolas. Em 2017, quem passou pelo processo foram as equipes pedagógicas das unidades que atendem as séries finais do Ensino Fundamental.

A lista de livros disponibilizados pelo PNLD é longa e, para ajudar os gestores e os professores no trabalho, o programa disponibiliza um Guia de Livros Didáticos. A publicação, dividida por disciplinas, traz resenhas dos livros aprovados, destaca as características pedagógicas, os pontos fortes e as limitações. Até a obra entrar nessa lista e, depois, chegar à escola, ela percorre um grande caminho. Resumidamente, os passos são os seguintes:

  • As escolas interessadas em receber obras do PNLD devem manifestar interesse por meio do termo de adesão até maio do ano anterior ao de desejo de recebimento dos livros.
  • O MEC, por meio do PNLD, cria os critérios mínimos para aceitar um livro didático, de acordo com as diretrizes curriculares nacionais e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs).
  • As editoras inscrevem os títulos que estão de acordo com as regras estabelecidas pelo edital do PNLD.
  • As obras das editoras são submetidas à Coordenação Geral de Materiais Didáticos (COGEAM), responsável por avaliar e selecionar os livros inscritos.
  • Feita a seleção, a COGEAM escreve o Guia de Livros Didáticos.
  • As escolas habilitadas a receber os livros escolhem os que mais se adequam à realidade da instituição e comunicam o programa.
  • O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e os Correios se responsabilizam pela compra e envio do material, respectivamente.

Para Márcio de Melo Araújo, professor do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Língua e Literatura da Universidade Federal do Tocantins (UFT) e integrante da comissão técnica do PNLD que avaliou e escolheu os livros de 2017, existe alguma variação entre as obras selecionadas (veja, abaixo, quais são as mais vendidas no país), mas todas seguem o padrão do programa. “Há escolhas teóricas e metodológicas que os autores seguem que, mesmo que pareçam muitas vezes próximas, dão certa variação às linhas didáticas de cada coleção aprovada”, explica.

Conheça os cinco títulos de Matemática e Língua Portuguesa mais distribuídos pelo PNLD 2017 para turmas dos anos finais do Fundamental:

MATEMÁTICA
1. Praticando Matemática. Maria José Vasconcellos e Álvaro Andrini, Editora do Brasil.
Exemplares distribuídos: 598.681. Representa 26,5% dos livros distribuídos da disciplina.
2. Vontade de Saber Matemática. Joamir Souza e Patricia Moreno Pataro, Editora FTD Educação. Exemplares distribuídos: 436.481. Representa 19,4% dos livros distribuídos da disciplina.
3. Projeto Teláris Matemática. Luiz Roberto Dante, Editora Ática. Exemplares distribuídos: 277.421. Representa 12,3% dos livros distribuídos da disciplina.
4. Matemática – Compreensão e Prática. Enio Silveira e Cláudio Marques, Editora Moderna. Exemplares distribuídos: 275.786. Representa 12,2% dos livros distribuídos da disciplina.
5. Matemática – Bianchini. Edwaldo Bianchini, Editora Moderna. Exemplares distribuídos: 224.204. Representa 9,9% dos livros distribuídos da disciplina.

LÍNGUA PORTUGUESA
1. Português: Linguagens. William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães, Atual Editora. Exemplares distribuídos: 1.218.979. Representa 54% dos livros distribuídos da disciplina.
2. Singular & Plural – Leitura, Produção e Estudos de Linguagem. Laura de Figueiredo, Marisa Balthasar e Shirley Goulart, Editora Moderna. Exemplares distribuídos: 229.944. Representa 10,1% dos livros distribuídos da disciplina.
3. Para Viver Juntos Português. Cibele Lopresti Costa e Greta Marchetti, Edições SM. Exemplares distribuídos: 227.193. Representa 10% dos livros distribuídos da disciplina.
4. Projeto Teláris Português. Ana Borgatto, Terezinha Bertin, e Vera Marchezi, Editora Ática. Exemplares distribuídos: 214.239. Representa 9,4% dos livros distribuídos da disciplina.
5. Tecendo Linguagens. Cícelo de Oliveira Silva, Elizabeth Gavioli de Oliveira Silva, Lucy Aparecida Melo Araújo e Tânia Amaral Oliveira, Editora IBEP. Exemplares distribuídos: 214.238. Representa 9,4% dos livros distribuídos da disciplina.

Os professores Carlos Eduardo Canani, de Língua Portuguesa, e Greiton Toledo de Azedo, de Matemática, ambos vencedores do Prêmio Educador Nota 10 de 2016, participam da escolha dos livros que serão usados nas escolas em que trabalham. Carlos Eduardo avalia que os materiais cumprem de maneira satisfatórias seu papel de apoio ao professor e apresentam os quatros eixos da língua (leitura, produção de texto, oralidade e conhecimentos linguísticos). No entanto, as obras ainda falham em alguns pontos e, muitas vezes, trazem atividades genéricas de produção textual. “Nas obras, o processo de produção, reescrita e revisão de um poema é o mesmo empregado no de uma fábula, mesmo se tratando de gêneros distintos”, explica o professor, que leciona e forma professores na rede pública de Lages, em Santa Catarina. E, apesar de os livros apresentarem um grande repertório de gêneros textuais, Carlos cita a falta de diversidade cultural entre eles. “Fico com a impressão de que falta diversidade textual temática, regional, étnica, de gênero. Poucas vezes se encontram textos voltados para o Nordeste, a maioria se concentra no Sudeste”, indica.

Na Matemática, Greiton, que também é pesquisador do Grupo de Pesquisa e Formação em Educação Matemática (Matema), da Universidade Federal de Goiás (UFG), aponta que algumas obras são mais conteudistas, com pouca contextualização e muito exercício. Outras trazem mais situações-problemas e leituras complementares. “Alguns livros trabalham muito com a ideia de conceito-exemplo-exercício. Sinto falta de atividades mais investigativas, de não entregar o conceito pronto, trabalhar com a construção de hipóteses”, avalia. Por isso, Greiton costuma utilizar várias fontes além do livro didático para planejar suas aulas. “Quando o professor busca em diferentes autores formas de apresentar o conteúdo e entender o que cabe melhor para aquela turma, a aula se torna melhor. O próprio uso do livro didático é influenciado pelo docente que ensina. Sua formação não pode ser desprezada no processo”, diz.

A influência das avaliações externas
Quem nunca ouviu que avaliações externas, como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e a Prova Brasil, costumam influenciar o currículo escolar? É sempre preciso ter cautela para não deixar que a busca por bons resultados paute todo o trabalho em sala de aula, mas não é mentira que essas provas têm um peso importante no desenvolvimento das atividades escolares. Maria José Vasconcellos é autora de Praticando Matemática (Editora do Brasil), um dos títulos mais escolhidos para 2017 e trabalha com livros didáticos desde 1995. Ela afirma que há influência, sim, das avaliações na elaboração das coleções. “As obras agregaram não apenas questões dessas provas em suas atividades, mas também a forma como se tem pensado e organizado as coleções”, complementa Márcio de Melo, da comissão técnica do PNLD.

Carlos Eduardo destaca que, há algum tempo, o Enem trazia elementos linguísticos de forma mais tradicional, com atividades de gramática. “Hoje, os exercícios trazem esse estudo de forma mais contextualizada e os livros também acompanharam essa tendência”, diz. Greiton concorda que o que há nas avaliações externas acabam aparecendo nos livros e remodelando o que o professor escolhe ensinar ou não ao aluno. “As matrizes definidas por essas provas têm um caráter importante, mas a formação do aluno precisa ir além. Por isso, é preciso utilizar o livro didático com bom senso. Ele nunca vai substituir o professor e nunca deve substituir a discussão problematizada, contextualizada e rica que acontece dentro de sala de aula”, diz.

Críticas podem levar a mudanças
Como novas obras de cada etapa chegam às escolas de três em três anos, há tempo para que as editoras recebam críticas e sugestões de quem trabalhou o conteúdo do livro com os alunos e faça melhorias e atualizações. “Três anos podem trazer novas tendências que precisam ser incorporadas ao trabalho anterior. Então, costumamos alterar, acrescentar e melhorar o que for necessário para atender às expectativas dos professores, dos alunos e do Ministério da Educação”, explica Maria José.

O feedback vem de várias formas e já começa antes mesmo do livro ser vendido. Na Editora do Brasil, que publica os livros de Maria José, antes da publicação, um leitor crítico faz uma análise com apontamentos de possíveis problemas e dá sugestões. Ao entrar nas escolas, começa um retorno orgânico dos professores, que enviam suas impressões por e-mail. “Essa é uma forma de tentar fazer com que a coleção não fique longe do real. É um movimento rico por trazer devoluções importantes de quem está na ponta. Procuramos focar mais no que é comum a todos, buscando fugir de situações e interesses muito particulares”, diz a autora. Em outra editora, a Edições SM, a quinta que mais vende exemplares para o MEC (veja o gráfico abaixo), o processo é parecido. “Trabalhamos com vários grupos de professores. Alguns escrevem o conteúdo, outros leem e sugerem melhorias e há ainda os que avaliam a eficiência do material dentro da classe”, conta Esther Nejm, diretora editorial da organização.

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