Ensino de nove anos exige mudança de postura dos educadores

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Com a modificação do ensino fundamental para nove anos, o perfil dos alunos também mudou. Para atender a nova demanda, a postura do professor, a dinâmica das aulas e o espaço físico devem ser repensados. Esse foi o consenso encontrado pelos especialistas que estiveram no 11º Congresso Saber 2007, que aconteceu na cidade de São Paulo (SP).  
 
Deve-se levar em consideração, primeiramente, que o aluno entra na escola ainda criança, aos seis anos de idade, por isso, seu pensamento transita entre o mítico e o lógico, explicou a psicóloga clínica e educacional, Marcia Zenker. “Eles estão na fase de começar a adquirir maturidade. Além disso, não estamos mais naquela fase de aluno receptor de saberes, mas sim de uma maior abertura para expressão, participação e trabalho em grupo. O professor precisa ter um olhar contextualizado para a infância inserida no século XXI“, disse. 
 
Para a pedagoga Célia Godoy, os professores devem se envolver mais com seus alunos e assumir um compromisso com o lúdico. Para isso, os professores devem ousar mais em suas aulas, levar em conta que conhecimentos não são somente adquiridos por meio de conteúdos de uma disciplina. “Nenhum sistema apostilado de ensino é melhor que o professor. Além disso, ele deve encarar a educação como um compromisso social“. “Aprofundar conhecimentos é dar abertura para novas possibilidades e não seguir currículo“, completou a educadora Edimara Lima. 
 
Para a pedagoga Divaní Albuquerque Nunes, o professor que leciona na primeira série do ensino fundamental deve desenvolver no aluno quatro competências essenciais: escrever, escutar, falar e ler. “O professor tem que levar para classe todos os dias bons livros para que a criança se torne bom leitor e escritor. Além de criarem o hábito da leitura, por meio da contação de histórias é possível que desenvolvam um considerável repertório lingüístico“, explicou. 
 
Ela sugeriu tal metodologia pois acredita que as escolas, tanto públicas quanto particulares, ainda insistem num trabalho sem envolvimento com as crianças. “Os professores ensinam o que é consoante, o que é vogal, juntar sílabas, nome das letras e esquecem que isso é só uma parte da alfabetização. A criança não agüenta ficar o tempo todo fazendo cópia. Estamos com um rombo enorme em interpretação de texto, segundo diversos índices que avaliam rendimento escolar. Se não mudarmos de postura, não vamos transformar essa realidade“, criticou.  
 
Nunes explicou que uma roda de conversa, que possibilite aos alunos escutarem o outro, é uma atividade muito relevante. “A criança não tem paciência de ouvir e esse exercício ajuda muito para que ela tenha chance de se expressar e de escutar o outro“. 
 
A doutoranda em Educação Matemática, Mercedes Carvalho, explicou que para ensinar Matemática o professor deve captar os conhecimentos que a criança trás de casa. “Fazemos Matemática desde muito cedo. Descer e subir contando os degraus da escada, é Matemática“, exemplifica. “Aprender a contar é a coisa mais importante a ser desenvolvida. Alguns recursos podem ser utilizados para isso como palito de sorvete, milho, feijão e, principalmente, a calculadora. Por achar que o aluno vai ficar preguiçoso, essa ferramenta sofre resistência do professor mas, pelo contrário, a calculadora ajuda a compreender melhor o sistema de números“. 
 
Para ela, observação é a primeira habilidade a ser desenvolvida pelo professor com seus alunos. “Senão, o aluno nem pergunta e nem aprende. O ato de observar pode vir a torná-los bons pesquisadores“, disse Carvalho. 
 
Nessa perspectiva de ensino, a educadora Edimara de Lima defendeu que a sala de aula deve servir como instrumento pedagógico. Para começar é preciso ter uma biblioteca de fácil acesso. “Livro tem que ficar dentro da sala. Se o aluno tiver que sair da classe, perde o foco“, defendeu. A orientação serve também para escolas que tem a possibilidade de colocar o filtro de água na sala. 
 
Ela lembrou também da importância de os alunos terem acesso a jogos pedagógicos e espaço para atividades coletivas. “A criança de seis anos aprende com a mão, com o corpo em movimento, se expressando. Se não houver objetos ela não constrói conhecimentos, mas sim aprendizado temporário, aquele que esquecem após o dia de prova“, disse, lembrando que, se possível, lousa, janelas, cadeiras e carteiras deveriam se adaptar a essa realidade, sendo construídas mais baixas, ao alcance do aluno. “Ele também tem que usar a lousa e, as janelas os aproximam do que acontece lá fora“, disse Lima. 
 
“É importante que o professor observe tudo. Circulação do ar, posição do mobiliário e decoração. Se a organização deixa uma aparência triste ou com excesso de alegria. Então, se necessário, reorganizar, de acordo com suas possibilidades de recursos. Tudo isso interfere no aprendizado“, explicou Lima. 
 
Carvalho lembrou que para as escolas particulares a adaptação para o ensino de nove anos está acontecendo sem maiores problemas, pois para essas instituições consistiu apenas numa transferência do último estágio da educação infantil para o primeiro ano do ensino fundamental. “O maior problema na rede pública é que a educação infantil é dissociada da fundamental“, contou. 
 
Já Nunes acredita que para a rede pública a mudança foi essencial, apesar do grande transtorno por falta de espaço para mais alunos. “Agora temos um ano a mais para alfabetizá-los“, concluiu. 
 

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