Em seu segundo dia de debates Abrelivros discute Diversidade e livro escolar

O bate-papo que abordou Diversidade e livro escolar aconteceu durante a 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo e contou com a presença de Hélio Santos, presidente do Instituto Brasileiro de Diversidade – IBD, de José De Nicola Neto, presidente da Associação Brasileira dos Autores de Livros Educativos – ABRALE e de Maria da Conceição Carneiro Oliveira, historiadora e autora de livros didáticos. Célia de Assis, gerente editorial das editoras Ibep e Nacional foi a moderadora do encontro.

 

DSC00178_576x324

 


 

Hélio Santos, presidente do Instituto Brasileiro de Diversidade – IBD, abriu a discussão pontuando que houve um avanço na reflexão sobre a diversidade nos livros didáticos, mas que essas mudanças só começaram a acontecer ao final dos anos 90, quando as publicações começaram a ser avaliadas pelo governo. Antes, segundo Hélio, os livros apresentavam diversos estereótipos, veiculando preconceitos e clichês. Apesar das mudanças, o presidente do IBD ainda vê sérios problemas na produção de livros didáticos. Para ele, o livro tem que ser democrático, trabalhar com a diversidade de maneira consistente; não se trata de produzir obras politicamente corretas, e sim, de livros profissionalmente corretos.

 

“É preciso valorizar a diversidade para o exercício da cidadania. A escola é palco da diversidade, é nela que o aluno se relaciona.”

 

Hélio mostrou que temas como a homossexualidade e inclusão do portador de necessidades especiais ainda são inexistentes nas obras e que a imagem do heterossexual branco ainda é muito forte nas publicações. Os orientais também foram lembrados na palestra como indivíduos que pouco aparecem nas obras.

 

O presidente do IBD lembrou que diversos preconceitos reinam ainda nas escolas e que o Brasil tem uma diversidade rica que se expressa no cotidiano, nem sempre sendo reconhecida ou valorizada.

 

“A cultura negra brasileira ainda é ignorada, aqui todos nós usufruímos dela e ela nem sequer tem destaque nos livros educativos. Um branco quando agride um negro agride a si mesmo”.

 

José De Nicola Neto, presidente da ABRALE, admitiu que os livros ainda têm problemas em relação à diversidade, mas que houve muitos avanços a partir do final da década de 90, não só por causa das avaliações por parte do governo, mas também pela invasão do “politicamente correto” e pela implantação da lei 10.639, que obriga a inclusão da história da África e da Cultura Afro-Brasileira nos currículos escolares.

 

Para José De Nicola o professorado brasileiro é tradicional e ainda é muito complicado fazer um livro diferente.

 

“O livro diferente tem problema de adoção e o mercado já teve esse tipo de experiência. Uma obra que abordava sexualidade, por exemplo, foi escorraçada por uma escola, pois os professores viram com estranheza o assunto.”

 

O presidente da Abrale considera a escola um espaço privilegiado para a sistematização da cidadania. Ele pontuou também que a Associação Brasileira dos Autores de Livros Educativos aprova a avaliação do governo, mas que o órgão não deixa de fazer suas críticas porque essa avaliação deve ser também avaliada e aprimorada.

 

Maria da Conceição Carneiro Oliveira, historiadora e autora de livros didáticos, acredita que a escola ajuda a reproduzir a desigualdade e que muitas vezes o próprio professor tem atitudes preconceituosas em sala de aula. Segundo ela, só constatar o problema não resolve, a sociedade precisa agir.

 

A historiadora mostrou à plateia alguns exemplos de como o preconceito está enraizado em em nossa cultura; entre eles, o personagem Cascão, de Mauricio de Souza, foi destaque, por representar o negro de maneira pejorativa.

 

O cabelo encaracolado, visto como atributo ruim, a imagem sexualizada da mulata brasileira também foram assuntos abordados por Maria da Conceição, que já teve sérios problemas com uma obra, publicada por ela. A obra foi taxada de demoníaca por abordar temas religiosos comuns à cultura africana. Para ela, é preciso um trabalho sério de enfrentamento da questão, pois ainda predomina um currículo oculto em sala de aula, com preconceitos sutis, o que impede a efetiva formação do cidadão dentro de uma sociedade plural, com uma diversidade tão rica.

Menu de acessibilidade