E o filão aumenta…

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Depois de perder o dicionário Aurélio no fim do ano passado para o Grupo Positivo, a editora Nova Fronteira volta a atacar neste filão com o lançamento do mini Caldas Aulete. Essa movimentação em torno do mercado de dicionários, que teve seu ápice com a saída do Aurélio, começou em 2001, com a publicação pela editora Objetiva do monumental dicionário Houaiss, fruto de 15 anos de trabalho coordenado pelo lexicógrafo Antônio Houaiss até sua morte, em 1999.  

Todo esse turbilhão tem dois motivos bastante compreensíveis: uma enorme demanda de estudantes, que todos os anos vão às livrarias comprar seu material didático; e uma demanda ainda maior de vendas para o governo federal. Para se ter uma idéia da dimensão das compras governamentais, segundo dados do Ministério da Educação, de 2000 a 2002, o governo adquiriu 34,8 milhões de dicionários.  
 
Ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, em 2002, foi feita uma licitação que previa a compra de dicionários até 2006. Durante o primeiro ano de governo Lula, com o ministro da Educação Cristóvão Buarque, as compras foram realizadas. Mas, em setembro deste ano, já sobre a égide de Tarso Genro, as compras de dicionários para o próximo ano letivo foram suspensas.  

Segundo a assessoria de imprensa do Departamento de Políticas de Educação Infantil e Ensino Fundamental, responsável pela medida, a suspensão aconteceu porque os dicionários que foram distribuídos não são adequados para a idade dos alunos. Informou-se ainda que um novo edital deverá sair na próxima semana. A assessoria explicou que não poderia adiantar quais seriam as mudanças em específico, pois estariam descumprindo a lei que proíbe a divulgação de informações de editais.  
 
– Abortaram o programa no meio sob alegação dos dicionários não estarem adequados. Não tenho notícia de outro programa que tenha sido abortado já em curso. Um dicionário infantil poderia ser mais apropriado. No entanto, teria uma vida mais curta, não podendo ser usado por toda a família como era o anterior – afirma Carlos Augusto Lacerda, presidente da editora Nova Fronteira.  
 
Na verdade, não houve uma quebra de contrato, pois o edital de 2003 previa que, se o governo entendesse necessário, não precisaria realizar a compra. Apesar da interrupção, a presença do governo no mercado livreiro ainda é enorme. Para o pesquisador da UFRJ George Kornis, que realizou – com o também pesquisador da UFRJ Fábio Sá Earp – uma ampla pesquisa sobre o mercado livreiro encomendada pelo BNDES, a política de compra de livros para estudantes é bastante importante:  
 
– O Brasil é o terceiro maior comprador de livros para estudantes, mas o mercado de dicionários é uma área onde, há bem pouco tempo, a competição era muito baixa e havia um monopólio. Isso prejudicava o consumidor, porque os preços não eram competitivos. A competição deve favorecer o consumidor em termos de preço, além de ampliar o poder de escolha. Por isso, essa concorrência é um sintoma positivo.  

Surpreendentemente, os novos detentores do Aurélio, que deverão perder mercado com a profusão de novas obras, pensam da mesma forma. Segundo o superintendente de marketing do Grupo Positivo, André Caldeira, o reaquecimento do mercado é bom para todos os editores.  
 
– A qualidade é que vai ditar a permanência e o volume de vendas dos dicionários que estão surgindo e sendo remodelados. Temos concorrentes de respeito, mas o que nos guia é a qualidade do produto, a força da marca e a eficiência comercial. O Aurélio tem antes de mais nada uma marca muito forte. É uma referência.  

A esperança da Nova Fronteira para recuperar este mercado se baseia também na opção que os sistemas de ensino farão. Para Carlos Augusto, as outras escolas não irão indicar um dicionário produzido por um sistema educacional concorrente, como o Grupo Positivo, que está espalhado em 2.300 escolas do país.  
 
– Como o Positivo venderá para suas próprias escolas, vai criar-se um buraco no mercado livreiro. A marca Caldas Aulete é muito boa e queremos pegar uma parte desta fatia de mercado que as outras editoras vão disputar. Podemos vender tanto quanto vendíamos na época do Aurélio, e até voltar a ser líderes de mercado. Estamos associando nossa experiência com algo que já existia – explica Carlos Augusto.  
 
O equilíbrio do antes tranqüilo e agora tenso mercado de dicionários será definido nas estantes. A ampliação da oferta de títulos irá favorecer uma seleção natural, em que os melhores preços e qualidades sobreviverão. Ao menos, é a opinião de George Kornis:  
 
– O dicionário bom e a bom preço tem que ir para o mercado e não para a lista de compras governamentais para estudantes. É preciso ter competência e eficiência. Isso vale para todos os setores da economia. O problema do dicionário é que ele é um livro caro, que exige uma produção mais detalhada, mas tem uma duração maior. Não é preciso ter medo da competição, é preciso apenas fazer com que ela seja leal.  
 
 
Hora do contra-ataque  
 
A novidade do mercado de dicionários neste fim de ano é o ressurgimento do tradicional Caldas Aulete. Depois de quase 20 anos esquecido, o dicionário de origem portuguesa ressurge com a difícil missão de ocupar o vácuo deixado pela saída do Aurélio da Nova Fronteira – vendido, há um ano, para a editora do grupo de ensino Positivo depois de ficar 28 anos na casa carioca.  

Para recuperar seu lugar no mercado, a Nova Fronteira adquiriu a base de dados de quase 200 mil verbetes do Caldas Aulete, que pertencia à editora Delta. Segundo o editor de obras de referência da Nova Fronteira, Paulo Geiger, a adoção de uma base de dados própria (ao contrário do Aurélio, que pertencia aos organizadores) possibilitou a implantação de conceitos que os editores consideravam ideais.  
 
– Introduzimos ilustrações e inserções enciclopédicas. As novidades já foram utilizadas em outras obras, mas o cuidado com que foram feitas e a união delas num só dicionário formam um quadro novo.  
 
A reedição do Caldas Aulete implanta também o conceito de banco de dados:  
 
– Com ele podemos dar o corte que quisermos, para fazer diferentes tipos de dicionários. O dicionário tem que ser um subproduto do banco de dados. A língua não cabe num livro.  
 
 
 

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