Derrota da tribo do polegar

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Um projeto de baixo custo desenvolvido pela prefeitura de Ribeirão Preto para incentivar a formação de bibliotecas públicas provocou, em dois anos, um salto do índice médio de leitura por habitante, na cidade: de 1,7 livro/ ano, semelhante ao índice nacional, para mais de 3 livros por ano. O poder público pediu e obteve a ajuda da comunidade para, juntos, aumentar o número de bibliotecas públicas na cidade. Elas eram apenas 3 em 1999. No começo do ano passado já funcionavam 56 bibliotecas e, até o Natal, serão 60. A meta é chegar a 80 bibliotecas, em 2004. A maioria das bibliotecas, 33, funciona em espaços cedidos pela comunidade, da sala dos fundos de uma igreja evangélica até um centro de formação do MST, como mostrou reportagem publicada domingo, pelo Estado. As outras bibliotecas estão em escolas municipais e em centros comunitários.

Cada biblioteca apoiada pela prefeitura de Ribeirão tem, em média, de 2 mil a 3 mil livros e 100 mil pessoas, em uma cidade de 500 mil habitantes, já retiraram livros nessas bibliotecas desde 2001. Além do acervo inicial, a prefeitura cede estantes, mesas e cadeiras e paga o treinamento e salário dos monitores, jovens que procuram um primeiro emprego. Romance, biografias, peças de teatro, dicionários, o poder público envia. A comunidade rapidamente adere, enviando mais livros e cuidando do espaço de leitura. Não há qualquer crivo ideológico nas ofertas. A biblioteca da igreja evangélica recebe muitos livros sobre cristianismo como na do centro dos sem-terra não faltam volumes de O Pensamento de Che Guevara. Todas as bibliotecas têm mais livros dos que os entregues pela prefeitura, ou seja, a comunidade sempre faz a sua parte.

O resultado dessa iniciativa foi descrito por Thiago de Lima Gomes, 18 anos, filho de pais analfabetos: “Agora quero ler um livro após o outro.“ Nesse caso, o impulso para o consumo de livros foi dado pela possibilidade aberta pela biblioteca criada no Centro Marista de Ribeirão Preto. A reportagem está ilustrada com depoimentos semelhantes, confirmando que é possível reduzir a distância entre os livros e os jovens, mesmo quando eles não recebem estímulos dentro de casa. Outras cidades do interior de São Paulo e Minas Gerais estão iniciando idênticos projetos. 

O governo federal também pode tirar lições desse projeto. O governo é o maior comprador de livros didáticos e paradidáticos do País. Em 2002, adquiriu 61% dos 390 milhões de exemplares comercializados no Brasil. No ano passado, o MEC teve de fazer uma campanha publicitária para convencer os professores a entregar aos alunos do ensino fundamental 70 milhões de exemplares de obras literárias do projeto Literatura em minha casa, porque, cautelosos, os professores temiam que as crianças destruíssem os livros, pois muitas delas, segundo os professores, declararam preferir receber videogames. Esse risco não existe no projeto de bibliotecas apoiadas pela comunidade. Como a reportagem mostrou, com o devido apoio, o interesse pela leitura desperta rapidamente. A derrota da “tribo do polegar“ – a expressão é de Haward W. French, jornalista do The New York Times, referindo-se ao manuseio dos jogos eletrônicos – começa quando se oferece às crianças e jovens acesso amplo e livre ao mundo dos livros. O resto a curiosidade, típica dos jovens, faz por si mesma. 
 
 

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