Cristovam pede passeata por verbas e irrita Lula

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Ministro convoca estudantes a exigirem recursos na Esplanada dos Ministérios  
 
 
O ministro da Educação, Cristovam Buarque, convocou ontem estudantes secundaristas a realizarem passeata na Esplanada dos Ministérios para reivindicar mais recursos para o ensino no Orçamento da União de 2004. Em palestra para alunos de uma escola pública de Brasília, o ministro mais uma vez expôs seu desconforto com o cargo que ocupa e a insatisfação com os rumos do governo Lula, aumentando a especulação de que poderá deixar o ministério antes mesmo da reforma ministerial prevista para o fim do ano.  
 
“Ainda dá para dar desculpa, não é? Oito meses, coisa e tal, blábláblá, o Orçamento (deste ano) ainda é importado (do governo anterior), mas a gente vai ter que responder. A gente não veio aí apenas para manter como está. A gente veio para mudar. E, se a mudança não aparece, tem que ser cobrada, tem que ser reclamada com firmeza“, disse o ministro, ao responder a pergunta de uma estudante.  
 
A atitude do ministro de aproveitar o encontro com estudantes para convocá-los para uma passeata desagradou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Oficialmente, Lula, por intermédio do seu porta-voz, André Singer, limitou-se a informar que o presidente não comentou o assunto.  
 
Interlocutores próximos do presidente lembraram que, ao agir desta forma, Cristovam descumpriu determinação de Lula, que proibiu aos ministros reclamarem de verbas em público ou pela imprensa. Esses interlocutores informaram ainda que, embora o presidente não pretenda tomar nenhuma atitude drástica de imediato, a postura do ministro o deixou em situação “delicada“ no Planalto. Ao saber das declarações de Cristovam, o presidente teria ficado surpreso e desapontado.  
 
Na reunião com os estudantes, o ministro admitiu estar constrangido com incapacidade do governo de afirmar quando será possível promover os avanços prometidos. “O maior problema que me constrange hoje não é não estar fazendo ainda tanto quanto deveria, é não estar dizendo em que ano a gente vai fazer como deve.“  
 
Ao ser indagado pela estudante Hadassah Laís Santana, de 18 anos, sobre o que os jovens podiam fazer para mudar o País, o ministro propôs uma passeata diante do Congresso e se prontificou a informar a data de votação do Orçamento para que o ato pudesse ser organizado com antecedência. “Vamos fazer uma passeata até o Congresso para pedir mais dinheiro para a educação, quando chegar a hora.“  
 
Cristovam, que foi eleito senador pelo PT e reassumirá a vaga se deixar o ministério, contou ter visitado escolas quando estava sem mandato para mostrar como funciona o Orçamento da União em para “criar um movimento“ entre estudantes. “Não é porque agora eu sou ministro que vou dizer não, agora não quero mais esse movimento“, disse. “Não dá para eu vir agora, porque vai parecer até que eu estou provocando muito o próprio governo de que eu sou parte. Mas eu consigo que venham aqui umas pessoas apresentar no telão como é o orçamento. Para vocês verem quanto vai para a educação, quanto vai para outros lugares, para vocês ficarem irritados com isso.“  
 
Apesar das críticas, Cristovam negou que deixará o ministério. “Lógico que não. Eu quero ficar no MEC todo o tempo que eu preciso. Eu nasci para ser ministro da Educação“, disse ele, que desde o início do ano cobra mais verbas para o setor.  
 
Após o evento, o ministro tentou minimizar à imprensa suas declarações.  
 
Disse que conclamou estudantes porque isso “faz parte da educação cívica“ e para garantir que verbas da educação contidas na proposta orçamentária enviada ao Congresso não sejam reduzidas.  
 
“O governo Lula está dando para a educação até mais do que é possível diante das circunstâncias que ele herdou das finanças públicas. Porque nós temos que ter um compromisso com a educação e com a estabilidade monetária, isso eu sempre defendi“, disse. “Queremos gastar mais dinheiro com a educação, mas sem ameaçar de nenhuma forma a responsabilidade fiscal e a estabilidade monetária. Por isso não vai ter mais, porque não pode ter mais, e eu sou solidário que neste momento não haja mais.“ Cristovam negou ter pedido mais recursos. “Este ano eu não peço mais dinheiro porque eu sou do governo e sei que é impossível.“

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