Cristovam Buarque pede desculpas a Lula

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on email

Um dia depois de sugerir a estudantes que façam passeata por mais verbas para o ensino, o ministro da Educação, Cristovam Buarque, pediu desculpas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Eu exagerei um pouco, presidente“, reconheceu o ministro, numa conversa por telefone.

Foi Lula quem ligou para Cristovam. O presidente usou a agenda comum dos dois nos próximos dias como pretexto para iniciar a conversa. Depois, num clima cordial, cobrou-lhe explicações. Na quarta-feira, ao participar de um evento em Brasília, o ministro propôs a passeata aos estudantes.

“Vamos fazer uma passeata até o Congresso para pedir mais dinheiro para a educação. Ainda dá para dar desculpas, não é? São só oito meses (de governo), ´blá blá blá´, o orçamento ainda é importado, mas a gente vai ter que responder“, disse Cristovam.

As declarações foram mal recebidas no Palácio do Planalto. O presidente Lula não gosta quando ministros reclamam da falta de verbas. Há alguns meses, criticou publicamente as queixas de Cristovam. O que está em jogo, no entanto, não é um mero contragosto.

Na linguagem de Brasília, Cristovam está sendo ´fritado´. Seu ministério, o segundo mais importante da esplanada em termos de orçamento – só perde para o da Saúde -, está sendo disputado pelo novo aliado do governo: o PMDB. O partido está trabalhando nos bastidores para nomear um de seus principais nomes – Renan Calheiros, líder do PMDB no Senado – para a Pasta. Aliado de primeira hora do presidente Lula na eleição de 2002, o presidente do Senado, José Sarney, está trabalhando para isso.

O PT resiste à idéia. O partido já sabe que, com a reforma ministerial, prevista para acontecer no fim de outubro, perderá ministérios e cargos. Na prática, será a única sigla, dos partidos que apóiam o governo, a encolher dentro da máquina estatal.

Um assessor graduado do Palácio do Planalto assegura que o governo não pretende entregar o Ministério da Educação (MEC) ao PMDB. “O governo não abrirá mão dos ministérios da área social em favor de outros partidos“, diz a fonte. Ocorre que se localiza justamente no Palácio do Planalto o principal foco de ´fritura´ do ministro Cristovam Buarque: a Casa Civil.

O presidente Lula tem uma afeição de longa data por Cristovam, mas o seu grupo dentro do PT não nutre o mesmo entusiasmo. Esse grupo, identificado com o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, sempre viu Cristovam como uma ameaça à liderança de Lula e também a outros presidenciáveis do grupo majoritário do partido.

Quando foi governador de Brasília, no período entre 1995 e 1998, Cristovam alcançou projeção nacional por causa de programas sociais inovadores, como o Bolsa-Escola e o de apoio à agricultura familiar. Em 1997, quando o próprio PT debatia a possibilidade de Lula não se candidatar à Presidência no ano seguinte, Cristovam sugeriu que o partido realizasse prévias para escolher os candidatos.

A proposta foi mal recebida porque, no fundo, Lula queria mesmo ser candidato, com ou sem chances de ganhar a eleição. Cristovam, por sua vez, sempre foi um “outsider“ dentro do PT. Antes de se filiar ao partido, tinha ligações com o PDT – na eleição de 1989, trabalhou na campanha de Leonel Brizola.

“O Cristovam não raciocina em termos partidários. Isso o prejudica dentro do PT“, informa um integrante do partido. Seu estilo “independente“ é criticado. “O estilo dele (de fazer críticas públicas à falta de verbas para a educação) não ajuda“, diz um assessor da Presidência.

Na noite de quarta-feira, o ministro José Dirceu não escondeu sua irritação com o ministro. Numa pequena roda de jornalistas, durante cerimônia no Planalto, o chefe da Casa Civil falava sobre os desafios do governo após a rodada de reformas, quando se referiu a ele da seguinte maneira: “Vamos tratar agora das universidades. O Cristovam não está reclamando tanto?“. Dirceu falou das universidades como um assunto seu. Já tinha feito isso numa entrevista recente à “Folha de S. Paulo“. De fato, por sua iniciativa, foi criado um grupo de trabalho, do qual o MEC fará parte, para discutir a crise das universidades brasileiras.

Ontem, depois de participar de uma solenidade em Brasília, Cristovam disse que não estava demissionário e que nasceu para ser ministro. Perto dali, um outro ministro do governo – Miro Teixeira, das Comunicações – subia no carro de som dos grevistas dos Correios para prestar solidariedade ao movimento. Teixeira, que já havia estimulado a população a contestar judicialmente o reajuste das contas telefônicas, não sofreu nenhuma reprimenda por seu ato.

Menu de acessibilidade