Crianças sustentam mercado de livros

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Didáticos, infantis e juvenis representam 76% da cena editorial brasileira. Literatura adulta perde espaço  
 
Ao longo do século 20, o mercado editorial brasileiro se transformou. Livros didáticos e infantis ganharam terreno, as obras traduzidas cederam espaço para autores nacionais e a literatura adulta perdeu posições no ranking. As mudanças ficam claras com a comparação das Estatísticas do Século 20, divulgada na segunda-feira pelo IBGE, com números de estudos recentes de instituições como a Câmara Brasileira do Livro (CBL) e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel).  
 
Os didáticos, que em 1963 representavam 28% dos exemplares vendidos no país, hoje respondem por uma fatia de 51%. A explicação é simples: nos últimos anos, o governo federal passou a comprar em grande volume.  
 
– O governo passado fez um grande esforço para universalizar a distribuição dos livros didáticos. Isso aumentou o número de títulos e de exemplares – avalia Marino Lobello, vice-presidente da CBL.  
 
Crescimento semelhante pode ser notado no segmento dos livros infantis e juvenis. No início da década de 70, eles representavam 8% da tiragem dos lançamentos. Hoje, o número de exemplares vendidos já corresponde a 25% do mercado, com expectativa de crescer ainda mais.  
 
A secretária geral da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, Elizabeth Serra, explica que o governo Lula está ampliando o programa que fez alegria dos editores desse tipo de publicação, o Literatura em Minha Casa.  
 
– Ano passado, o governo comprou 23 milhões de exemplares. Este ano, vai comprar 40 milhões.  
 
Os números astronômicos não são novidade. Em 2001, graças ao programa, a União adquiriu 60 milhões de livros infantis e juvenis – simplesmente o dobro do que costumava ser a produção anual: 30 milhões.  
 
Marino Lobello aponta outro motivo para o aumento do interesse pelos infantis: o cuidado com as edições.  
 
– A área cresceu nas duas pontas: a distribuição do governo e as livrarias, já que o livro infantil tomou um banho de loja – diz o executivo da CBL.  
 
Paulo Rocco, presidente do Snel, concorda.  
 
– Este é um mercado muito forte no Brasil, que sempre cresce e se renova. Afinal, todo dia nasce criança, então não faltam leitores – brinca Paulo.  
 
No outro lado da gangorra estão as obras traduzidas, que passaram de 27% do mercado em 1972 para apenas 10% em 2002. Paulo Rocco vê uma relação dessa queda com o avanço dos didáticos.  
 
– Muitos livros continuam sendo traduzidos, mas os didáticos ganharam uma importância muito grande no mercado e tomaram espaço das traduções – afirma Rocco.  
 
Marino Lobello prefere apostar no bom momento da ficção nacional. Em quinto lugar na lista de gêneros mais publicados (atrás de didáticos, infantis/juvenis, religiosos e generalidades), a literatura adulta tem se concentrado mais nos brasileiros do que nos estrangeiros.  
 
– Hoje a produção nacional é maior e ocupou o terreno das traduções. Há 10 anos, poucos autores brasileiros estavam nas listas dos mais vendidos. Hoje nossos autores fazem muito sucesso, vide Luis Fernando Verissimo e Paulo Coelho.  
 
A atuação pálida da literatura adulta em relação aos números gerais, no entanto, é motivo de inquietação para Elizabeth Serra:  
 
– A situação é muito preocupante.  
 
No início dos anos 70, as obras literárias – inclusive de crítica, filologia e lingüística – respondiam por 20% dos lançamentos em termos de tiragem e ocupavam o segundo lugar no mercado editorial.  
 

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