Combinação de fatores contribuiu para quedas nos números do setor de livros didáticos no Brasil em 2022

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Alguns dos números que mais chamaram atenção na Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro (ano base 2022), divulgadas em maio, diziam respeito à venda de livros didáticos para o governo. A pesquisa apontou quedas tanto de volume de exemplares vendidos (-32%) quanto de faturamento (-10%) – no total, entre vendas ao mercado e ao governo, o subsetor apresentou queda real de 15% no faturamento entre 2021 e 2022.

Alguma variação negativa era esperada pelo mercado, por conta da flutuação dos programas de aquisição de livros – a produção do setor também diminuiu em 24% no número de exemplares.

“O próprio governo federal teve um ano difícil, a execução dos programas foi bastante complexa”, explicou o presidente da da Associação Brasileira de Livros e Conteúdos Educacionais (Abrelivros), Ângelo Xavier, ao Sabatina PublishNews.” O Ministério da Economia em algum momento bloqueou orçamentos, as negociações com as editoras foram mais lentas. Algumas coisas foram fechadas no apagar das luzes, em dezembro. Tínhamos um receio de que pudesse haver atrasos na chegada dos materiais às escolas, o que felizmente não aconteceu. Agora, houve sim redução de contratação, reposição dos programas anteriores se deram num percentual menor. Também tem a questão econômica da sociedade. Há pressão sobre a classe média, alto índice de desemprego, economia não está no patamar desejado. São combinações que fizeram os números terem quedas”.

O diretor editorial da Editora do Brasil, Felipe Poletti, identificou outra questão nos números da Pesquisa. “Esses dados refletem um comportamento que vem ocorrendo há alguns anos, mas que se intensificou especialmente após a pandemia”, diz. “Os livros didáticos estão perdendo espaço para os sistemas de ensino no mercado – a queda de faturamento e exemplares vendidos demonstram esse comportamento”.

Ele também elencou as vendas para o PNLD em 2022: reposições do PNLD 2020 (Ensino Fundamental Anos Finais), PNLD 2021 (Ensino Médio), PNLD 2022 (Educação Infantil), além do programa do ano, o PNLD 2023 (Ensino Fundamental Anos Iniciais). “A queda nos números pode ser explicada por alguns fatores: quantidade abaixo do esperado nas reposições, especialmente do PNLD 2020; não houve venda do PNLD literário 2021 e 2022, apenas a reposição do 2020. Mas o grande impacto está no PNLD 2023, Objeto 2 (Livros e Manuais de práticas e acompanhamento da aprendizagem). Havia a expectativa de que esse programa fosse adquirido em 2022, o que acabou não acontecendo”, explica Poletti. Segundo o FNDE, a escolha do programa se dará agora em junho.

Via assessoria de imprensa, o órgão do Ministério da Educação ressaltou o compromisso com o calendário. “As aquisições realizadas pelo FNDE seguem estritamente os cronogramas dos editais já publicados nos anos anteriores.

Assim, as compras para atender 2022 englobaram aquisições integrais para a educação infantil e para os anos iniciais do ensino fundamental, reposições parciais para atender aos anos finais e ao ensino médio. Todas as compras têm como base oficial o número de alunos presente no Censo Escolar do INEP”, diz o FNDE, em nota.

O Ministério afirmou ainda que não houve contenção que tenha limitado o atendimento do Programa, e que o orçamento de 2023 do PNLD “inclui todos os objetos previstos nos editais para aquisição neste ano”.

Tendências do setor de livros didáticos

Para a diretora adjunta de Marketing, Produtos e Experiência da FTD Educação, Roberta Campanini, avalia que a tendência mais latente entre os números da Pesquisa é em relação à compra no meio digital. “Estas tendências acompanham o movimento geral do mercado educacional, que tem investido em novas tecnologias educacionais, seja por meio de parcerias com edtechs ou desenvolvimento interno, para uso de Inteligência Artificial, adaptative learning, ferramentas de realidade virtual e aumentada, gamificação no contexto educacional, além de formação e capacitação adequada dos professores no uso dessas novas ferramentas”, afirma. “Esta tendência deve se acelerar nos próximos anos nas escolas com a melhoria da estrutura digital para atender às necessidades destes novos modelos. Outro ponto de destaque é que mesmo em tempos de novas tecnologias e digitalização as gráficas continuam trabalhando na sua capacidade máxima”.

Ângelo Xavier – também diretor geral da Moderna, do Grupo Santillana – concorda que a nova geração tem uma predisposição para as tecnologias e ambiente digital. “Porém, livros didáticos e religiosos seguem outro comportamento, pois as famílias têm uma preferência pela compra destas obras nas livrarias físicas. Importante destacar que temos assistido abertura de várias livrarias menores em muitas cidades do interior e em bairros das capitais, aumentando o espaço de exposição dos livros, que é fundamental para o aumento do consumo. Feiras e bienais também tiveram representatividade importante como local de venda dos livros, demonstrando que, quando o grande público tem contato com os livros o consumo aumenta”.

Sobre a área de didáticos, especificamente, Felipe Poletti, da Editora do Brasil, acredita que os livros didáticos devem continuar apresentando queda, porém menos expressiva que a demonstrada nesse ano. “As vendas para o governo devem apresentar uma recuperação, com a realização do PNLD literário 2021 e 2022, PNLD 2023 Objeto 2 e o PNLD 2024 (Ensino Fundamental anos finais).

Mas essa recuperação não se manterá em 2024, já que o edital do PNLD 2025 (Ensino Médio) ainda não foi publicado, o que torna improvável a aquisição do programa no próximo ano”, analisa.

Números do subsetor de Didáticos na Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro (ano base 2022):

Produção

  • Títulos: 12.189
  • Exemplares produzidos (em milhares): 161.871

Vendas

  • Exemplares vendidos (em milhares): 150.884
  • Faturamento total (em milhões): 2.586

 

Publicado por GUILHERME SOBOTA – PUBLISHNEWS em 05/06/2023.

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