Brasil tem, pelo menos, 746 novas disciplinas no Novo Ensino Médio, só 4% com educação midiática

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on email

Em janeiro de 2024, uma postagem no X (antigo Twitter) revelou a grade curricular de um estudante da rede estadual do Rio de Janeiro, despertando surpresa e debate entre os internautas. Disciplinas com nomes como “O que rola por aí?”, “Vamos jogar?” e “Ação! Está em suas mãos” figuravam ao lado de Matemática e Português, levantando questionamentos sobre a qualidade do ensino com a implementação do Novo Ensino Médio. Esta reforma educacional visa maior flexibilização do currículo, dividido em Formação Geral Básica e itinerários formativos escolhidos pelos alunos.

Um levantamento inédito realizado pela Lupa nos currículos dos 27 estados e no Distrito Federal revelou a criação de 746 novas disciplinas, das quais apenas 34 abordam educação midiática e desinformação. Esse dado é preocupante, considerando que um dos objetivos da reforma é tornar o ensino mais relevante para o contexto atual.

De acordo com a OCDE, 67% dos jovens brasileiros têm dificuldade em diferenciar fatos de opiniões, e a recente proibição do uso de celulares em sala de aula pela Prefeitura do Rio de Janeiro destaca a necessidade de abordar o uso das mídias na educação.

A análise da Lupa mostrou que os currículos variam entre os estados, com alguns adotando abordagens mais conservadoras e outros mais inovadoras.

O Distrito Federal, por exemplo, é recordista e criou 231 disciplinas, cerca de 30% do montante nacional. A rede na capital federal dividiu os itinerários por áreas do conhecimento (Humanas, Ciências da Natureza, Matemática e Linguagens). A área que aborda predominantemente educação midiática e desinformação é a de Linguagens, com cursos como “Introdução à análise do discurso” e “Tecnologias Digitais” dividindo o leque de possibilidades com “Mandala Florística” e “Oficina de Slackline”. Uma das disciplinas, inclusive, faz referência ao “Fato ou Fake”, serviço de checagem do Grupo Globo.

São Paulo é o estado que promoveu mudanças mais conservadoras: fez aprofundamentos nas disciplinas tradicionais como Matemática e Português com inclusão de temas como Educação Financeira e Robótica.

Evidente que, com tantas criações, surgem temáticas curiosas como “Relaxamento, Yoga e Mindfulness”, em Minas Gerais; o “Apiário”, no Distrito Federal; “Qual é o mesmo valor de X?” na Bahia; “Saia da Bolha”, no Mato Grosso e “Semioses do Olhar”, em Pernambuco. Ainda assim, muitas iniciativas mostram a relevância da educação midiática e desinformação como “Leitura e Compartilhamento no Mundo Virtual”, em Minas Gerais; “Cidadania Digital”, no Distrito Federal, “Juventude Conectada em Ação”, no Mato Grosso e “Cibercultura” em Pernambuco.

A disciplina “Ação! Está em suas mãos”, que gerou estranhamento inicialmente, revelou-se mais profunda em sua ementa, propondo um núcleo de estudos para a produção de mídias com foco no protagonismo dos estudantes.

Este levantamento evidencia uma lição importante da educação midiática: assim como não se deve julgar um livro pela capa, é necessário pesquisar e analisar além dos títulos apelativos para entender o conteúdo e a profundidade das disciplinas propostas pelo Novo Ensino Médio.

 

Menu de acessibilidade