Brasil gasta mais que a OCDE no ensino superior e só um terço do que países ricos aplicam na educação básica

O gasto público brasileiro com alunos de ensino superior é maior do que a média da OCDE, informou o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) nesta terça-feira. Isso, no entanto, não é observado na escola pública. De acordo com o relatório Education at Glance, lançado nesta terça-feira, a média investida pelo Brasil na educação básica é um terço daquilo que se gasta nos outros países analisados.

Na educação superior, o investimento na rede pública chega a US$ 15,6 mil por estudante, um patamar similar a média da OCDE e da União Europeia. Essa informação foi apresentada na manhã desta terça-feira pela coordenadora de Estatística Internacional Comparada, Cristhyne Carvalho, responsável no Inep por fornecer os dados à OCDE.

Por outro lado, de acordo com o Education at Glance, o gasto com alunos do ensino fundamental é de US$ 3,8 mil. Esse patamar é menor do que países como Chile, Costa Rica e Grécia. Já a média da OCDE é de US$ 12,4 mil.

Atualmente, o Brasil tem 38,8 milhões de estudantes nas escolas públicas da creche ao ensino médio — atualmente, a maior parte da educação básica já conseguiu atender todos os brasileiros em idade escolar, mas ainda há desafios na creche e no ensino médio. Já as universidades públicas atendem dois milhões de pessoas. De acordo com o relatório da OCDE, só 24% dos jovens brasileiros de 25 a 34 anos concluem o ensino superior, enquanto na OCDE isso chega a 49%.

Nos próximos anos, no entanto, a previsão é de que o número de bebês diminua. Com isso, o valor investido por aluno pode subir a patamares mais equilibrados ao que se é investido na OCDE. De acordo com o Education at a Glance, o número de crianças de 0 a 4 anos vai cair 9% até 2033.

Ensino superior
No Brasil, as universidades federais são as principais instituições de pesquisa, o que aumenta o gasto por aluno. Além disso, os últimos 15 anos foram marcados pela inclusão de jovens de classes baixas no ensino superior e a ampliação de vagas, o que levou a um aumento de investimento em políticas de moradia, alimentação, transporte e outros auxílios para garantir a permanência.

No entanto, as instituições públicas brasileiras, mesmo com investimento no patamar da OCDE, sofrem mais com evasão. Só 49% dos ingressantes brasileiros terminam seu curso três anos depois do que era esperado, enquanto na média da organização isso sobe para 70%.

O Education at Glance mostra ainda que as graduações mais procuradas pelos graduandos de países da OCDE são de dois grupos: 1) ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM) e 2) negócios, administração e direito. Cada um deles reúne 23% dos estudantes. Já a área de artes e humanidades, ciências sociais, jornalismo e informação compõe um segundo grande grupo de alunos, com 22%.

Já no Brasil, essa proporção é bem mais desequilibrada: 34% estão em áreas de negócios, administração e direito — os dois últimos cursos são os maiores do país. Já a área de STEM corresponde a 16% dos bacharelados e a de artes e humanidades, ciências sociais, jornalismo e informação reúne 8%.

Inep alega erro no relatório
No relatório, consta a informação de que o Brasil gasta US$ 3,7 mil por aluno com educação superior. No entanto, Flavio Bravin, coordenador de Controle de Qualidade e Tratamento da Informação, afirmou durante uma transmissão ao vivo do Inep nesta terça-feira que a OCDE cometeu um erro ao considerar nessa conta todos os estudantes do ensino superior brasileiro e não apenas aqueles de universidades públicas.

— Nós só apresentamos os dados de gastos públicos com educação superior porque não temos fontes sistemáticas dos investimentos privados. Por isso, a conta por aluno só deve levar em conta, como todo ano acontece, dos alunos de instituições públicas. Já pedimos a retificação à OCDE — afirma Bravin.

A OCDE é conhecida como um grupo de países ricos. O Brasil participa desses estudos como convidado, junto de outros países da América Latina, como Argentina, Chile, Peru e México. Ela se define como uma organização econômica intergovernamental que se dedica a estimular o progresso econômico e o comércio mundial. Para isso, estuda e promove meios para melhorar políticas públicas em áreas como política econômica, comércio, ambiente, ciência e tecnologia e educação. O intercâmbio desses conhecimentos entre os países é uma das vantagens de integrar a organização.

Divulgado anualmente pela OCDE, o Education at a Glance reúne e compara os principais indicadores internacionais ligados à educação. Os dados são fornecidos pelos próprios países. Fazem parte da organização economias desenvolvidas como Alemanha, EUA e Japão, além de países emergentes como Turquia e México. Outro grupo de nações, como o Brasil e Argentina, participa do levantamento, mas como convidado.

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