Brasil é reprovado, de novo, em matemática e leitura

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A péssima posição do Brasil no ranking de aprendizado em ciências se repetiu nas provas de matemática e leitura. 
 
Os resultados do Pisa (sigla, em inglês, para Programa Internacional de Avaliação de Alunos), divulgados ontem pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), mostram que os alunos brasileiros obtiveram em 2006 médias que os colocam na 53ª posição em matemática (entre 57 países) e na 48ª em leitura (entre 56). 
 
O objetivo do Pisa é comparar o desempenho dos países na educação. Para isso, são aplicados de três em três anos testes a alunos de 15 anos em nações que participam do programa. O ranking de ciências, divulgado na semana passada, colocava o Brasil na 52ª posição. 
 
Além de estarem entre os piores nas três provas nessa lista de países, a maioria dos estudantes brasileiros atinge, no máximo, o menor nível de aprendizado nas disciplinas. 
 
O pior resultado aparece em matemática. Numa escala que vai até seis, 73% dos brasileiros estão situados no nível um ou abaixo disso. Significa, por exemplo, que só conseguem responder questões com contextos familiares e perguntas definidas de forma clara. 
 
Em leitura, 56% dos jovens estão apenas no nível um ou abaixo dele. Na escala, que vai até cinco nessa prova, significa que são capazes apenas de localizar informações explícitas no texto e fazer conexões simples. 
 
Em ciências, 61% tiveram desempenho que os colocam abaixo ou somente no nível um de uma escala que vai até seis. Isso significa que seu conhecimento científico é limitado e aplicado somente a poucas situações familiares. 
 
Nos três casos, a proporção de alunos nos níveis mais baixos é muito maior do que a média da OCDE, que congrega, em sua maioria, países ricos. 
 
Comparando o desempenho do Brasil no exame 2003 (que já era ruim) com o de 2006, as notas pioraram em leitura, ficaram estáveis em ciências e melhoraram em matemática. 
 
Uma melhoria insuficiente, porém, para tirar o país das últimas posições, já que foi em matemática que o país se saiu pior em 2006, com médias superiores apenas às de Quirguistão, Qatar e Tunísia e semelhantes às da Colômbia. 
 
Como há uma margem de erro para cada país, a colocação brasileira pode variar da 53ª, no melhor cenário, para a 55ª, no pior. O mesmo ocorre para as provas de leitura e ciências. No de leitura, varia da 46ª à 51ª. Em ciência, da 50ª à 54ª. 
 
A secretária de Educação do governo José Serra (PSDB-SP), Maria Helena de Castro, diz que o resultado em leitura é lamentável. “Essa é uma macrocompetência, básica para que os alunos desenvolvam as outras, como matemática, raciocínio crítico.“ Nos exames, São Paulo ficou abaixo da média nacional nas três áreas avaliadas. 

Suely Druck, da Sociedade Brasileira de Matemática, diz que, em geral, os alunos de outros países, assim como os do Brasil, tiveram desempenho pior em matemática na comparação com as outras disciplinas. 
 
“A matemática se distingue das outras porque desde cedo a criança já tem que ter conhecimento teórico e é um aprendizado seqüencial, ou seja, antes de aprender a multiplicar, tem que saber somar.“ Por isso, defende que se exija um conteúdo mínimo em matemática para o professor dos primeiros anos do ensino fundamental, quando todas as matérias são ainda ensinadas pela mesma pessoa. 
 
O Pisa permite também comparar meninos e meninas. Em matemática e ciências, no Brasil, eles se saíram melhor. Em leitura, elas foram melhor. 
 
 
 
Abaixo da média, São Paulo perde de Rondônia e Sergipe 
Folha de São Paulo – Eduardo Scolese

O Estado não conseguiu ultrapassar a média nacional em nenhuma das três áreas avaliadas pelos exames do programa. Sindicato das escolas particulares diz desconhecer quem participou; Inep informa que não pode divulgar as instituições. 
 
Os resultados do Pisa, sigla em inglês do Programa Internacional de Avaliação de Alunos, divulgados ontem pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), revelam que o Estado de São Paulo não conseguiu ultrapassar a média nacional em nenhuma das três áreas avaliadas -ciências, leitura e matemática.  
 
Na área de ciências, a média paulista (385 pontos) é comparável à da Tunísia (África). No caso da leitura (392 pontos), eqüivale-se a Montenegro (Balcãs). Já em relação a matemática, com 370 pontos, os paulistas estão no mesmo nível dos vizinhos colombianos.  
 
Para o ministro Fernando Haddad (Educação), o resultado de São Paulo requer “atenção“ do governo federal. “Com exceção do Distrito Federal, São Paulo é a maior renda per capita do país. Era de se supor que pudesse trazer as médias nacionais para cima. É um resultado que surpreende, exige alguma atenção e algum diagnóstico do que se passa.“  
 
O petista Haddad falou com cautela sobre o Estado governado pelo tucano José Serra, que sucedeu os também tucanos Mário Covas (morto em 2001) e Geraldo Alckmin.  
 
“No geral, os Estados mais ricos se saem melhor do que os mais pobres. Essa é a regra geral. Há exceções à regra“, completou o ministro.  
 
Para a secretária de Educação de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro, o tamanho do Estado explica o quadro. “Ao mesmo tempo em que temos uma economia forte, temos todos os problemas existentes no Brasil. O fato de termos avançado enormemente na oferta de escolas nos dá agora condições para melhorar a qualidade de ensino“, disse.  
 
Na três áreas, São Paulo registrou média abaixo do Sudeste. Em ciências, a média da região ficou em 396 pontos, contra 385 do Estado. Em leitura, o Sudeste teve 404 pontos, ante 392 de São Paulo. Em matemática, a diferença ficou em 378 contra 370.  
 
O Distrito Federal lidera os rankings de ciências e de matemática, seguido por Santa Catarina, que lidera a tabela de leitura. No outro extremo ficou o Maranhão, com os piores resultados nas três áreas. Além do Distrito Federal, apenas oito Estados ficaram acima da média nas três disciplinas: Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rondônia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Sergipe.  
 
Entre esses Estados, o ministro Haddad destacou Rondônia e Sergipe, que, apesar das baixas médias de suas regiões (Norte e Nordeste), conseguiram manter seus alunos acima da média nacional nas três áreas avaliadas.  
 
Crítica 
 
O presidente do Sieeesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo), José Augusto de Mattos Lourenço, questionou a validade do exame. “Nenhuma escola associada ao sindicato respondeu à pesquisa. Então quem é que respondeu?“. Ele diz que tentou obter a resposta em e-mail endereçado ao Inep há duas semanas, mas teve retorno.  
 
“Acho a comparação com outros países válida e importante, mas eu só poderia falar sobre os resultados se soubesse quais escolas foram consultadas. Daí, poderia até dizer se foram usados bons exemplos ou não.“  
 
O Inep informou que escolas privadas de São Paulo fizeram parte do Pisa. Por meio de sua assessoria, o instituto disse que é usado um critério “científico“ para definir a amostra das escolas e que, por conta disso, não divulga a lista com os nomes das instituições participantes. 
 
 
 
Maranhão tem o pior resultado entre os Estados 
Agência Folha – Sílvia Freire  
 
A falta de qualificação dos professores da rede pública foi apontada por especialistas em educação do Maranhão -dominado por décadas pelo clã Sarney e agora nas mãos de opositores do ex-presidente- como a principal causa do fraco desempenho do Estado no Pisa. 
 
O programa avalia o nível educacional de adolescentes de 15 anos por meio de provas de ciências, matemática e leitura. A média obtida pelos estudantes do Maranhão nas três provas do programa foi a mais baixa de todo o país. 
 
Para a professora Conceição Raposo, do curso de mestrado em educação da UFMA (Universidade Federal do Maranhão), além da falta de professores qualificados, o Estado padece de problemas sociais que afetam a qualidade do ensino. 
 
“O resultado [do programa] tem coerência com os demais indicadores do Estado. Grande parte dos municípios do país com o menor IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] está no Maranhão, a distribuição de renda é ruim, a mortalidade infantil é alta. Há uma série de fatores sociais que a educação sozinha não explica [o mau desempenho dos alunos]“, disse Raposo. 
 
Segundo ela, o Estado expandiu o ensino médio de forma muito rápida, sem ter professores qualificados para suprir a demanda. Em 2002, apenas 58 dos 217 municípios do Maranhão tinham ensino médio na rede pública. Desde 2005, o ensino médio público é ofertado em todo o Estado. 
 
Desqualificação 
 
Um exemplo da falta de docentes foi o concurso feito no final de 2005 para contratação de professores para a rede pública, que ficou com cerca de 300 vagas sem preenchimento. 
 
“Teve localidade que ninguém se inscreveu porque não tinha professor habilitado. Em outros municípios, os candidatos se inscreveram, mas não passaram“, disse Odair José Santos, presidente do Sindicato dos Professores da Rede Pública do Maranhão. 
 
Como conseqüência do problema, disse Santos, há, por exemplo, professores de pedagogia dando aula de matemática e docentes de história ministrando física. Para o professor, os baixos salários também não incentivam a formação de novos professores. 
 
A supervisora de avaliação da Secretaria da Educação do Estado, Silvana Machado, informou, por meio da assessoria de imprensa, que o atual governo tem a educação como uma de suas prioridades e que é difícil romper com o descaso com que a área foi tratada durante os últimos 40 anos, em referência aos governos anteriores. 
 
De acordo com ela, muitos dos alunos avaliados cursavam ainda o ensino fundamental, e não o ensino médio, por causa da grande defasagem idade/série que existe entre alunos do Estado.  
 
 
 
Inclusão explica mau resultado, diz secretária 
Folha de São Paulo – Fábio Takahashi 
 
A secretária estadual de Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, admitiu que São Paulo tem problemas na qualidade de ensino, mas citou como uma das explicações a maior inclusão de estudantes na rede em relação à média nacional. Pesquisas mostram que essa maior inserção se dá, principalmente, por alunos com mais dificuldades socioeconômicas -com menos acesso à cultura e pais com baixa escolarização. Segundo a Pnad 2006, 86,3% dos jovens entre 15 e 17 anos estão na escola em São Paulo, ante uma média de 82,2% no país. Leia abaixo trechos da entrevista com a secretária.  
 
FOLHA – Como a sra. avalia o resultado no Pisa, no qual o país caiu dez pontos em leitura?  
MARIA HELENA GUIMARÃES DE CASTRO – Lamentável. Significa que nós, Estados, municípios, governo federal e a sociedade, não estamos desenvolvendo as políticas certas, principalmente na alfabetização.  
 
FOLHA – Quais foram os erros?  
MARIA HELENA – As nossas universidades não estão formando bem os nossos professores. Em São Paulo, foram investidos R$ 1,8 bilhão em formação continuada dos professores nos últimos anos. É bastante, porque é necessário. Mas, apesar de todo o esforço, São Paulo está abaixo da média em ciências. Precisamos rever nossos programas de formação continuada e os critérios de seleção de professores. Talvez implementar algo como uma residência médica para os professores.  
 
FOLHA – Os professores reclamam de problemas como salários baixos, salas superlotadas…  
MARIA HELENA – Sala cheia não é fator explicativo de baixo desempenho em nenhum lugar do mundo. Na questão dos salários, reconheço que o ideal seria melhorar ainda mais. Mas o governo está fazendo dentro do que é possível fazer.  
 
FOLHA – Considerando a condição econômica de São Paulo, o Estado não deveria estar melhor no Pisa? MARIA HELENA – O Estado melhorou em cobertura. Todos os dados da Pnad 2006 colocam São Paulo melhor do que o Brasil. O Estado fez um grande esforço para colocar todos na escola. Agora, o desafio é a qualidade, que vem a médio prazo.  
 
FOLHA – Mas a inclusão ocorreu no país todo e mesmo assim São Paulo fica abaixo da média.
MARIA HELENA – São Paulo é grande demais. Ao mesmo tempo em que temos uma economia forte, temos todos os problemas existentes no Brasil.  
 
FOLHA – O que o governo pretende fazer para melhorar a qualidade?  
MARIA HELENA – Recuperação intensiva de língua portuguesa nos primeiros 42 dias de aula, material de apoio ao professor, orientação curricular. E estamos adotando um sistema de bônus vinculado à melhoria dos resultados e à assiduidade. 
 
 
 
Abismo separa redes pública e privada 
 
Dos 35 países participantes do Pisa, Brasil foi o que apresentou a maior diferença entre os ensinos na prova de ciências 
 
Resultados mostram ainda que elite brasileira tem desempenho fraco, cuja média ocupa apenas a 24ª posição no ranking mundial 
 
 
Entre 35 países onde foi possível fazer essa comparação, o Brasil foi o que apresentou a maior distância, em número de pontos, entre os alunos da rede pública e da rede privada na prova de ciências. 
 
O resultado mostra que a elite brasileira, quando confrontada com a de outros países no Pisa, também tem desempenho abaixo da média. Mesmo estando muito melhores do que os jovens das públicas, os estudantes de particulares ocupariam somente a 24ª posição e estariam abaixo da média dos países da OCDE. 
 
Como nem todos os países possuem rede privada em tamanho significativo, essa comparação se resume apenas a um grupo de 35 nações. Em alguns casos, como em Hong Kong, a rede pública é melhor do que a particular, mas é preciso levar em conta que lá, diferentemente do Brasil, a maioria das escolas particulares -onde estão 91% dos alunos- depende de financiamento estatal. 
 
Extremos 
 
Outra maneira de fazer essa mesma constatação é comparar apenas os alunos que estão nos extremos de melhores e piores notas. Nesse caso, a comparação é pode ser feita entre todos os países que participaram do Pisa. 
 
Se as médias fossem comparada apenas pelo desempenho de estudantes que estão entre os 5% melhores, a posição do Brasil seria a 51ª em ciências, a 45ª em leitura e a 53ª em matemática. A posição não é muito melhor do que em uma mesma comparação considerando somente os 5% piores alunos. As posições, nesse caso, seriam a 55ª em ciências, a 51ª em leitura e a 55ª em matemática. 
 
O pífio desempenho da elite brasileira já havia aparecido em outras edições do Pisa. Um estudo feito pelo pesquisador Creso Franco, da PUC do Rio de Janeiro, mostra que, em 2000, os estudantes brasileiros de maior nível sócio-ecônomico ficavam muito atrás dos de nações como França, Coréia, Estados Unidos ou Espanha. 
 
Outra análise que o Pisa permite fazer é o quanto as médias são explicadas pelo nível socioeconômico dos alunos, já que o fator determinante para o desempenho do estudante é sua situação familiar, ou seja, filhos de pais escolarizados e de maior renda tendem a ter melhor desempenho do que os pobres e de famílias menos escolarizadas, ainda que ambas estejam na mesma escola. 
 
Para isso, a OCDE estima qual seria a média de todos os países caso todos os alunos tivessem nível socioeconômico igual. No Brasil, a média em ciências passaria de 390 -que é a média simples- para 424. 
 
Isso, no entanto, pouco alteraria a posição brasileira no ranking em ciências. O país passaria da 51ª posição para a 49ª. Nessa comparação, em vez dos 57 países listados nas médias simples de ciências, entrariam apenas 56, já que as médias do Qatar não foram ajustadas de acordo com o nível socioeconômico dos alunos. 
 
Apesar de o Brasil apresentar uma das maiores desigualdades na distribuição das notas dos alunos, de 2003 para 2006, os dados do Pisa revelam que essa diferença diminuiu. 
 
Nesse período, a média dos estudantes que estavam entre os 5% piores teve ganho de 23 pontos em matemática e de 11 pontos em leitura. Entre os que estavam entre os 5% melhores, a média variou apenas dois pontos em matemática e teve queda de 19 em leitura. 
 
O mesmo acontece quando, são selecionados os 25% melhores e os 25% piores. Entre os piores, as médias avançam 22 pontos em matemática e caem dois em leitura. Entre os melhores, o avanço em matemática é de oito pontos e a queda em leitura, de 19. 
 
 
 
Os alunos não querem pensar, diz campeão de olimpíada de matemática  
Folha de São Paulo – Julliane Silveira 
 
Diferentemente da maioria de seus colegas, Régis Prado Barbosa, 17, sempre adorou matemática. “Foi inevitável, pois meus pais são professores e passavam exercícios extras em casa para me estimular.“ 
 
A dedicação compensou: neste ano, ganhou medalha de ouro na Olimpíada Ibero-Americana de Matemática e de prata na Olimpíada Mundial e na do Cone Sul. 
 
Régis, que está no terceiro ano do ensino médio, freqüentou desde a quinta série um curso especial para olimpíadas de matemática, no colégio particular onde estuda, em Fortaleza. No período, estudava seis horas por dia. 
 
Ele conta que já tirou uma nota vermelha na matéria, mas que esse não foi o motivo para buscar o curso. “Foi um deslize, depois só tirei dez. Comecei a fazer o curso por causa do meu irmão.“ 
 
Seu objetivo agora é o vestibular do ITA -quer fazer engenharia da computação, como o irmão mais velho-, mas tem dificuldades para se dedicar a outras disciplinas. “Sinto falta da matemática, não tenho interesse de estudar outras matérias.“ Para ele, a pior é biologia, “pois é basicamente decoreba“. 
 
Ele acredita que os colegas não são bem preparados porque não têm interesse. “Eles não querem desafios nem entender o porquê de uma fórmula, querem tudo pronto, sem pensar.“ 
 
 
 
Para diretora da Educação da USP, exame revela “calamidade“ em escolas públicas 
Folha de São Paulo – Cinthia Rodrigues 
 
A diretora da Faculdade de Educação da USP, Sonia Penin, afirma que o Pisa revela que a educação brasileira chegou à “calamidade“. Leia trechos.  
 
 
FOLHA – O que o Pisa mostra?  
SONIA PENIN – A calamidade da escola pública brasileira.  
 
FOLHA – A educação tem piorado?  
PENIN – Não dá para comparar a educação de hoje com a de antigamente. A escola pública brasileira dos anos 50 era só de uma camada muito restrita da elite brasileira. Depois, iniciou um movimento para atender todas as camadas socioeconômicas e culturais. Ainda não completou esse movimento, sobretudo no ensino médio, mas, de qualquer forma, houve um acolhimento significativo. O que se percebe é que a escola está com problemas para atender esta diversidade maior.  
 
FOLHA – Quais são os problemas mais comuns e graves?  
PENIN – Tem um problema que é objetivo: tempo de estudo, tempo de exposição à aprendizagem. Apesar da diferenciação muito grande de escola para escola, o tempo letivo de 4 horas, 5 horas nas melhores escolas, é muito pouco para a gente fazer páreo para esses países que estão à frente. Além disso, ainda ocorre que, nessas quatro horas, eles não têm aula. Por ausência do próprio aluno, por ausência do professor ou até por não existir professor.  
 
FOLHA – É o maior problema?  
PENIN – Esse é o fator mais claro. Depois, falta valorização e capacitação dos professores. A questão salarial é fundamental, mas não é só isso. Hoje precisa de capacitação dentro da escola para professores, diretores e todos os envolvidos.  
 
FOLHA – E a infra-estrutura?  
PENIN – Os equipamentos são importantes, mas hoje muitas escolas estão equipadas e não vemos os reflexos. Há muitos laboratórios de ciências que não são usados. O que falta é o uso dos recursos, ou seja, professores preparados.  
 
FOLHA – Qual a responsabilidade dos pais?
PENIN – Muito grande. Pesquisas mostram que escolas com participação dos pais têm melhores resultados. Nos anos 50, quando só a elite estudava, os pais eram alfabetizados, tinham livros em casa. Se um filho não ia bem, recebia reforço escolar no tempo livre. Hoje muitos pais não têm conhecimento para ajudar os filhos.  
 
FOLHA – Qual a ligação dos resultados com a transferência de estudantes de classes elevadas para instituições particulares e a conseqüente redução na cobrança por escolas públicas de qualidade?  
PENIN – Não dá para culpar as pessoas por colocarem os filhos em uma escola ou outra. Isto é um país democrático. Temos que pensar nas questões que podem ser trabalhadas. É o aumento do tempo na escola e o investimento em professor. Disso que temos de falar.  
 
FOLHA – A sra. tem ressalvas em relação ao Pisa?  
PENIN – Sempre cabe uma análise da avaliação. Pode ser que as questões pedidas, por exemplo, tenham mais afinidade com as preocupações de um determinado país. Uma outra questão é que esse exame pega alunos por idade. Muitas vezes, nossos alunos de 15 anos estão abaixo da série em que deviam estar, por conta de repetência. Essa seria uma questão pela qual poderíamos dar um desconto a nosso favor. Ou melhor, por nosso prejuízo. 
 
 
 
Exame ocorre a cada 3 anos em 57 países  
Folha de São Paulo 
 
O Pisa (sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Alunos) é uma avaliação internacional aplicada a cada três anos pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) a alunos de 15 anos de idade. 
 
Participam dela os 30 países da OCDE, além de 27 nações voluntárias. 
 
A cada edição, a ênfase é em uma das três áreas avaliadas. Em 2000, foi leitura, em 2003, matemática e, em 2006, ciência. 
 
No Brasil, fizeram o teste 9.295 alunos de 7ª ou 8ª série ou ensino médio de 625 escolas, públicas e privadas, de 390 cidades. 
 
A escala das notas é padronizada para que a média dos 30 países membros da OCDE fique em 500 pontos. Uma média de 390, como a do Brasil, significa que o país está 110 pontos distante da média das demais nações. 
 
 
 
ANÁLISE 
 
Perdemos em qualidade 
Folha de São Paulo – Antônio Gois 
 
Sempre que uma avaliação do ensino escancara o nosso atraso, os saudosistas lamentam o fato lembrando que, no passado, a escola pública era de qualidade. 
 
Ainda que o Brasil só tenha começado a comparar o desempenho de seus estudantes em 1995, essa afirmação, muito provavelmente, é verdadeira. 
 
O que nem sempre é levado em conta é que aquela escola pública era para poucos. Em 1940, apenas 31% das crianças de 7 a 14 anos estavam na escola. Não é difícil imaginar o perfil de quem estava fora dela. 
Em 2000, essa proporção chegou a 95%. Ganhamos em quantidade, perdemos em qualidade. 
 
A chegada dos mais pobres à escola pública foi acompanhada da migração gradativa da elite para o ensino privado. Para um país que se esmerou como poucos na construção de uma sociedade desigual, a convivência dessas duas classes num mesmo espaço -no caso, a escola- não fazia sentido. 
 
Esse modelo funcionou bem para aquele projeto de país. Os mais ricos eram educados em escolas privadas e, com isso, asseguravam seu futuro profissional, já que os melhores postos de trabalho não estavam ao alcance de quem tinha como única opção a escola pública. 
 
Os resultados do Pisa evidenciam que esse projeto não serve mais nem mesmo para quem sempre se beneficiou dele. Numa economia cada vez mais globalizada, ganham mais empregos e investimentos os países que têm sua mão-de-obra mais qualificada. 
 
As nações que conseguiram as melhores posições foram justamente aquelas onde a desigualdade de notas entre seus melhores e piores alunos foi a menor: Finlândia e Hong Kong. 
 
Na Finlândia, sequer existe ensino particular (98% estão em escolas públicas). Em Hong Kong, a maioria (91%) está no ensino privado, mas em escolas que dependem de financiamento público. 
 
Não por acaso, os Estados do Brasil que se saíram melhor no Pisa foram os da região Sul. É lá que, como mostra o Exame Nacional do Ensino Médio, a distância entre a rede pública e a privada é menor no Brasil. 
 
O que Finlândia e Hong Kong fizeram foi equalizar as oportunidades. Por isso, ficam entre os primeiros mesmo quando se compara apenas os mais pobres ou somente os mais ricos. 
 
Com uma educação de qualidade e para todos, os melhores, para se sobressair, têm de ser ainda melhores. 

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