Autora de livros infanto-juvenis morre aos 94 anos

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Uma das mais importantes escritoras da literatura infanto-juvenil do País, Tatiana Belinky morreu ontem aos 94 anos depois de ficar 11 dias internada no Hospital Alvorada, em São Paulo. Tatiana escreveu mais de 270 livros, entre eles Coral dos Bichos e O Grande Rabanete.

Tatiana nasceu em Petrogrado, na Rússia, em 1919, e chegou ao Brasil aos 10 anos com a família, que fugia das guerras civis que assolavam o país. Aos 18, após concluir um curso preparatório pela faculdade Mackenzie, começou a trabalhar como secretária-correspondente bilíngue, nos idiomas português e inglês. Aos 20, ingressou no curso de Filosofia da Faculdade São Bento, mas o abandonou em seguida, quando se casou com o médico e Educador Júlio Gouveia, em 1940. Foi em 1948 que Tatiana começou a trabalhar em adaptações, traduções e criações de peças infantis para a prefeitura de São Paulo com o marido.

Quatro anos depois, eles criaram o programa Os Três Ursos a pedido da TV Tupi, que conquistou tanto sucesso a ponto de definir a carreira de escritora de Tatiana. Logo, o casal foi convidado a ter um programa fixo na emissora. Foi lá que ela e Júlio fizeram a primeira adaptação do Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato, obra que a encantava – Tatiana sempre dizia se identificar com a boneca Emília.

O casal ficou na emissora até 1966 e, seis anos depois, Tatiana iniciou uma série de colaborações na imprensa, escrevendo sobre crianças especialmente para o Estado e o Jornal da Tarde. Foi em 1985 que ela se tornou escritora de livros infantis de fato, colaborando em uma série infanto-juvenil. Em 1987, publicou seu primeiro livro, Limeriques, pela editora FTD, baseando-se nos limericks (poemas curtos) irlandeses. Segundo o crítico de teatro infantil Dib Carneiro Neto, a obra de Tatiana Belinky, para teatro, literatura e televisão, tem algo para amar, algo para detestar, algo para torcer, algo para desprezar. “Tem algo que encanta e algo que espanta, algo que incomoda e faz pensar – e algo que cativa e faz brincar.

Ela nunca tem pressa de terminar uma história, e mantém o ritmo de uma narrativa sem se importar com a agilidade da internet das crianças de hoje”, afirma. “Para ela, nunca se deve subestimar a inteligência da criança. Fazem perguntas que precisamos estar prontos para responder ou ser honestos para dizer ‘não sei’.”

“Não há ponto final para a arte de Tatiana”

“Tatiana Belinky lutou e provou que não existe ponto final. Com mais de 90 anos, a Tati ainda nadava e atravessava mares e oceanos. Em cima de sua bicicleta ela cruzava continentes. E com suas incansáveis pernas ela corria, descendo florestas, desbravando vales e subindo montanhas. Quando acordava, coma ponta de seus dedos, Tati tateava as letras, os acentos, as vírgulas e os pingos nos is. Sempre encontrava uma rima ou um duplo sentido nas palavras, divertindo seus leitores e ouvintes, pegando-os diversas vezes no contrape.

Sempre revelava brechas nos pontos finais. Como quem diz, nada de final. Não existe final. Afinal, todo final não passa de um portão enferrujado, que ao ser aberto pelas chaves da criatividade e da compreensão acaba por revelar universo infinito de possibilidades e conexões.”

Assim o rabino Ventura definiu com maestria a trajetória da escritora Tatiana Belinky, que faleceu no sábado após passar 11 dias internada no Hospital Alvorada, em São Paulo, aos 94 anos. Ventura foi o responsável por conduzir a cerimônia que marcou o funeral de Tatiana, realizado na tarde de ontem no Cemitério Israelita da Vila Mariana. Presentes, amigos e familiares, incluindo o filho da autora, Ricardo Gouveia. A última lembrança que tenho dela são seus olhos.

Eu a visitei há alguns dias. E ela olhou para mim com seu olhar tão brilhante”, comentou Gouveia, em companhia da mulher Fathia de Nordon. Uma das mais importantes escritoras da literatura infanto-juvenil do Brasil, é autora de mais de 270 livros, entre eles Coral dos Bichos e O Grande Rabanete.

Tatiana nasceu na Rússia, em Petrogrado, em 1919, e imigrou para o Brasil aos 10 anos com a família, fugindo das guerras civis que assolavam o país. “Antes mesmo de nascer, ela afrontava o final, quando assistira sua mãe desafiando altos oficiais do Exército Vermelho, que havia condenado seu pai à morte pelo simples fato de ser judeu. Todos se safaram e Tati nasceu”, comentou Ventura sobre a origem.

Em São Paulo, onde sempre viveu com a família, aos 18, após concluir um curso preparatório pela Faculdade Mackenzie, começou a trabalhar como secretá-ria-e correspondente bilíngue, nos idiomas português e inglês. Aos 20 ingressou no curso de Filosofia da Faculdade São Bento, mas o abandonou em seguida, quando se casou com o médico e Educador Júlio Gouveia, em 1940.

Foi em 1948 que Tatiana começou a trabalhar em adaptações, traduções e criações de peças infantis para a prefeitura de São Paulo com o marido. Quatro anos depois, criaram o programa.Os Três Ursos a pedido da TV Tupi, que conquistou tanto sucessoa ponto de definir a carreira, de escritora de Tatiana.

Em seguida, o casal foi convidado a ter um programa fixo na emissora. Foi lá que ela e Júlio fizeram a primeira adaptação do Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato, obra que a encantava – Tatiana sempre dizia se identificar com a boneca Emília. “Ma minha opinião, ela é o maior personagem feminino da literatura brasileira, com perdão a Capitu, é claro.

Emília disse a Monteiro Lobato: “Eu sou a independência ou a morte””, declarou Tatiana em entrevista ao “Estado em 2009, quando comemorou 90 anos. “Ela teve sua importância reconhecida para a literatura jovem, mas ouso dizer que foi no teatro e na televisão que sua obra foi de importância crucial, Tati adaptou uma porção de peças e fez de seu Sítio do Pica Pau Ámarelo a melhor adaptação que houve desta obra de Monteiro Lobato. Foi uma pessoa maravilhosa”, declamou a escritora Ruth Rocha. O primeiro programa de televisão que vi em São Paulo, em 1957, foiSitio. Na pensão em que eu morava, sentavam-se no chão os filhos da dona, os sobrinhos, e vinha a criançada da vizinhança. A meninada adorava”, completou o cronista do Estado Ignácio de Loyola Brandão:

Seu trabalho na TV Tupi, sempre emparceriacom Gouveia, estendeu-se até 1966, Seis anos mais tarde, a autora comecou a colaborar para a imprensa e passou a escrever sobre crianças. Em 1985, tomou-se escritora de livros infantis defato;colaboran-do em uma série infanto-juveniL Em 1987, publicou seu primeiro livro, Limeriques, pela editora FTD, baseando-se nos limericks (poemas curtos) irlandeses. “É joia rara.

Da lavra de Niemeyer e outros poucos. Sensível, produtiva. Capaz de nos brindar com centenas de livros para um público extremamente desafiador: o infanto-juveml”, afirmou a ministra da Cultura, Marta Suplicy. Mais do que publicar, Tatiaiia também fazia questão de ler obras de jovens autores. “Enquanto eu estava íá, fazendo entrevistas para. o livro, vi. várias vezes jovens autores pedindo para ela ler coisas deles, para dar palestras em Escolas- Ela nunca dizia não. Sempre achava um tempo”,relembra Sergio Roveri, autor da biografia Tatiana Belinky: E quemt Quiser que Conte Outra.

“Quem vê o nome dela escrito na capa de um livro nem jmagina quem está por trás do nome. Só quem conviveu sabe o quanto ela era incrível. Sua casa sempre cheia de amigos, livros, prêmios”, comentou, durante o funeral, Sandra Bergel Gonçalves.

“Cheia também de bruxas, Emlias e bananas, que ela adorava”, lembrou o escritor David Nordon. “Para ter ideia de como acoIhia a todos, sou filho da Sandra e o Henrique, irmão da nora dela, a Fathi”, mas era seu ‘sobrinheiro’ de Tatiana, como ela gostava de me chamar”, completou.

Mais que tudo, Tatiana sempre soube ouvir e honrar sua vocação, “Vivemos numa sociedade que tolhe a vocação, a intuição, que é que a voz da alma. A mensagem que a Tati deixou é a de que não existe ponto final .Apenas vírgulas”. “.

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