As 3 lições que devem guiar o mercado editorial

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Em qualquer que seja o mercado, qualquer grande disrupção tecnológica tende a gerar tsunamis de suco gástrico nos organismos dos seus protagonistas tradicionais. Não foi diferente no mercado editorial quando o ChatGPT dominou a pauta e trouxe consigo os medos de desemprego em massa, obsolescência e apocalipse.

“O que fazer para sobreviver a esse novo inimigo?”, perguntam-se uns. “Há que se passar leis e regulamentações para proibir que a humanidade fique refém das máquinas!”, bradam outros. “Será o fim da literatura e do mercado editorial como um todo!”, garantem ainda os mais radicais.
Ao que parece, a única lição que a História nos ensinou é que nunca aprendemos com as lições da História.

O ChatGPT está longe de ser a primeira disrupção pela qual o mercado editorial passou. Do passado recente até aqui, tivemos, apenas para listar três grandes inovações: a popularização dos smartphones, que revolucionou o consumo de conteúdo; o e-book e, em seguida, o audiobook, abrindo novas opções de formatos de leitura; e a possibilidade de todo autor poder publicar seu livro gratuitamente em plataformas como o Clube de Autores, multiplicando a oferta de livros na medida exata do crescimento da demanda.

Cada vez que alguma dessas novidades popularizou-se – da mesma forma que tem acontecido com o ChatGPT – profetas do apocalipse entraram em cena prevendo o fim dos tempos. Esse fim, claro, nunca chegou. Ao contrário: na primeira pesquisa de Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, divulgada em 2012 pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), o faturamento do setor estava em R$ 4,9 bilhões. 10 anos depois, a pesquisa já aponta faturamento de R$ 5,5 bilhões – um crescimento de mais de 12%.

O que isso significa? Que, na prática, as grandes disrupções do mercado sempre trouxeram crescimento – principalmente para quem evitou nadar contra a corrente e preferiu aproveitá-las.

Há (pelo menos) três lições de imensa importância em tudo o que aconteceu e está acontecendo em nosso mercado – lições que, se bem compreendidas, podem não apenas evitar desastres como também permitir que empresas aproveitem o que há de melhor em novos ciclos mercadológicos.
São elas:

1) O foco nunca deve estar na tecnologia, mas no que ela representa.

E-books, quando chegaram, fizeram boa parte do mercado acreditar que teria seu faturamento encolhido e sua participação engolida pelos gigantes da tecnologia. Foram poucos os que pensaram o óbvio: uma nova forma de consumo de livros poderia acordar uma parcela gigantesca de novos leitores em potencial. E foi isso o que aconteceu: um novo formato trouxe um novo leitor. Um novo leitor que, na medida em que foi se tornando íntimo da palavra escrita, foi também enveredando por outros formatos além do eletrônico – incluindo o bom e velho papel. Ganhou quem apostou na diversificação e que permitiu, o quanto antes, que todo o seu catálogo ficasse disponível em todos os formatos.

Da mesma forma, ganhará agora quem buscar mais diversificação através dos audiolivros. Da mesma forma, ganhará também quem conseguir entender e trabalhar com o ChatGPT – ao invés de clamar pela sua destruição por meio de leis e regulamentações.

2) Livrarias físicas dependem de curadoria; livrarias online dependem de quantidade.

Há 20 anos, poucos conseguiriam prever um mercado de livros sem as gigantes Saraiva e Cultura. O fato é que seus modelos envelheceram na medida em que elas buscavam abraçar o mundo.

Ao tentarem ser um pouco de tudo, as grandes livrarias brasileiras acabaram não conseguindo ser nada. Foi na tentativa de ter todos os títulos para todos os gostos – uma missão impossível dada a finitude de qualquer estoque físico – que as megastores nasceram, apostando na quantidade e abrindo mão da qualidade (de curadoria, com vendedores especializados nos gostos dos leitores que tradicionalmente frequentavam suas lojas).

A questão é que, quando se trata de quantidade, nenhuma loja física consegue competir com a Internet – onde uma infinidade de lojas e editoras consegue vender uma infinidade de títulos por meio de marketplaces. Aos poucos, os consumidores que nunca encontravam os livros que buscavam nas megastores foram migrando para a Amazon, para o Mercado Livre e para tantos outros sites onde nada nunca está em falta. A variedade absoluta é um argumento que só pode ser usado dentro da Internet.

Isso significa que uma livraria física não tem chance de sobrevivência? De forma alguma: basta que ela use outro argumento. No final de 2018, a Barnes & Noble registrava prejuízo pelo sétimo trimestre consecutivo e já era considerada uma carta fora do baralho por muitos analistas. Um novo CEO – o quinto em quatro anos, depois da rede ter fechado 98 lojas – assumiu com uma estratégia diferente: dar autonomia completa para que os gerentes de cada loja promovessem uma curadoria radical de acordo com as características de cada região em que operam. Resultado?

A rede inverteu o curso e, considerando os anos de 2022 e 2023, deve abrir 53 novas lojas. Livrarias físicas são locais de descoberta e, portanto, dependem de uma rica curadoria local.

3) O futuro é independente.

Todo dia, no Clube de Autores, 80 novos livros são publicados. O motivo? A publicação é gratuita, a venda é feita em formato impresso ou digital, a distribuição já ocorre em todo o mundo e o autor sabe precisamente o que vai ganhar por venda – que supera a margem tradicional proposta por qualquer editora.

Mas há um porém aqui: por ser autopublicação, o autor também precisa garantir que seu livro esteja perfeito, da capa à diagramação, e precisa se responsabilizar pela sua divulgação.

É esse porém que garante a existência de um mercado para todos. Quer um exemplo? Há cerca de 600 editoras cadastradas no Clube de Autores, aproveitando a rede de distribuição e a falta de necessidade de investimento em tiragens, para ampliar seus ganhos. Suas propostas são simples: elas garantem aos autores um trabalho profissional sobre suas obras, pautado na experiência de mercado, cuidam da divulgação, e dividem os resultados.

E mais: grande parte delas busca os escritores a partir da própria base do Clube de Autores, usando filtros disponíveis na plataforma para chegar aos talentos que julgam ter maior afinidade com suas marcas.

Alguns aceitam, outros não. É a lei do livre mercado. Mas o fato é que todos ganham: o autor independente, que não depende mais de nenhuma editora para publicar e vender seu livro, e a editora, que passa a contar com um aquário riquíssimo para pescar talentos e fazer apostas mais seguras no mercado.

Publicado por RICARDO ALMEIDA – PUBLISHNEWS em 06/06/2023.

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