Aprendizado por ensino remoto pode afetar mais alunos com deficiência

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O ensino remoto, adotado pelas escolas desde o início do isolamento social, tem sido desafiador para as crianças e adolescentes com deficiência. A falta de acessibilidade dos materiais utilizados e das aulas prejudicam o aprendizado dos alunos.

No Brasil, há cerca de 45 milhões de pessoas com dificuldades para ver, ouvir, se movimentar ou com algum tipo de incapacidade mental, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgados em 2010. Destas, cerca de 12 milhões têm grande ou total dificuldade com essas habilidades e são consideradas portadoras de deficiência. A lei brasileira de inclusão, em vigor desde 2016, visa a garantir a acessibilidade, a inclusão e direitos fundamentais das pessoas com deficiência como educação, transporte e saúde.

A professora Biancha Angelucci, do Departamento de Filosofia da Educação e Ciências da Educação da Faculdade de Educação da USP, explica que algumas atividades propostas pelas escolas nem sempre são acessíveis às crianças com deficiência, já que os tipos de deficiência são vários e cada aluno possui necessidades específicas: “Aquilo que muitas das crianças que não têm deficiência têm tido acesso, via internet ou via papel impresso, muitas vezes não chega nas crianças com deficiência, porque não é pensado em termos de acessibilidade. O vídeo não está garantindo legenda para uma criança surda ou não está garantindo a audiodescrição ou a conversão em arquivo de áudio para as crianças cegas, não tem uma tecnologia ‘assistiva’ para as crianças com paralisia cerebral ou algum prejuízo na mobilidade ou na fala.” A professora ainda compartilha que a situação é preocupante, já que os estudantes sem acesso aos conteúdos podem ficar defasados.

Durante a pandemia, os estudantes perderam o contato físico e a integração que a escola oferece. Para a professora, é importante, numa eventual volta às aulas, que as unidades escolares não retomem bruscamente, mas planejem a ressocialização dos estudantes, criem mecanismos de acolhimento e discutam a pandemia. “Todos vão ser alvo dessa nossa preocupação de que efeitos destes meses de privação do coletivo da escola vão gerar no retorno. Uma das questões que a gente tem insistido é essa de que a escola não pode simplesmente começar as atividades sem discutir o que aconteceu, sem discutir as perdas e sem criar mecanismos de acolhimento e de aproximação.”

“Temos um cuidado enorme nas unidades educacionais para receber as crianças. No primeiro momento, é até com os familiares, para que as crianças possam ter um ambiente de convivência mais confiável e mais respeitoso a partir dessas interações entre familiares, profissionais da educação e a criança. Cinco meses depois, [devido à pandemia] essas questões precisarão ser recolocadas. Também é preciso considerar, para todas as crianças, que, depois de um bom tempo vivendo em casa, só com a mediação das tecnologias digitais, sem contato com outras crianças, muitos dos laços tenham se perdido”, afirma Biancha.

A família tem função essencial no desenvolvimento das crianças com deficiência. É responsável por fazer a mediação com os educadores para que a escola compreenda as necessidades do aluno. Na pandemia, as famílias têm tido contribuição fundamental para garantir o aprendizado das crianças e, no retorno das atividades presenciais, deverão compartilhar com a unidade escolar quais foram os avanços feitos. “As famílias nos ajudam a conhecer as formas de acessibilidade que a criança ou o adolescente estão acostumados, dá dicas sobre como aquela criança organiza seu pensamento e como podemos nos comunicar melhor com a criança. A família também sempre dá notícias sobre o que está acontecendo no universo dos cuidados em saúde da criança com deficiência”, afirma a professora.

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