Alunos suecos usam livros impressos pela primeira vez para não se tornarem analfabetos funcionais

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Pela primeira vez, alunos suecos estão utilizando livros impressos em sala de aula, revertendo o processo de digitalização total que, ao longo dos últimos 15 anos, trocou livros e cadernos por computadores, tablets, aplicativos e outros dispositivos tecnológicos. Segundo a ministra da Educação, Lotta Edholm, se os livros não fossem reintroduzidos à rotina escolar, o país estaria “em risco de criar uma geração de analfabetos funcionais”.

Além do resultado do PIRLS, a Suécia se baseia em evidências científicas que apontam a digitalização como causa do mau desempenho dos alunos. Edholm afirmou que “todas as pesquisas sobre o cérebro das crianças mostram que o ensino baseado em telas não é benéfico.” Em nota, o Ministério da Educação reconheceu a crise de interpretação de texto nas escolas e afirmou que livros têm “vantagens que nenhum tablet pode substituir”.

Em razão disso, o governo prevê investir, até 2025, cerca de 150 milhões de euros – mais de R$ 808 milhões – em um programa de reintrodução de livros impressos e a redução do uso de telas para recuperar a habilidade de interpretação de texto dos alunos.

Analfabetismo funcional no Brasil

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) de 2022 – primeiro estudo feito pós-pandemia – mais de 9 milhões de brasileiros acima dos 15 anos de idade eram analfabetos, ou seja, não tinham a habilidade de ler e escrever.

Porém, quando se trata de analfabetismo funcional, o Brasil atinge níveis ainda mais assustadores. Segundo o Instituto Paulo Montenegro (IPM), responsável pelo Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), cerca de 28% dos brasileiros são analfabetos funcionais.

Para o Inaf, são considerados analfabetos funcionais as pessoas que dominam apenas as noções básicas de leitura e escrita. Ainda de acordo com o indicador, apenas 6% dos estudantes que concluem a 4ª série do Ensino Fundamental são realmente alfabetizados.

Durante a pandemia, o número de crianças de 6 e 7 anos não alfabetizadas aumentou 66,3%, de acordo com a nota técnica “Impactos da Pandemia na Alfabetização de Crianças”, divulgada pela organização Todos pela Educação. Entre 2019 e 2021, o analfabetismo nessa faixa etária mais que dobrou, passando de 1,4 milhão para 2,4 milhões.

Só se aprende a ler, lendo

A aversão dos brasileiros à leitura começa desde a escola. Uma das razões pode estar no fato de que vários títulos de leitura obrigatória não têm qualquer aderência com os interesses dos alunos.

Particularmente, eu jamais teria desenvolvido o amor pela leitura se dependesse dos livros indicados pela escola. Minha biblioteca pessoal possui atualmente cerca de mil livros, dos quais apenas doze estão entre as leituras obrigatórias que, depois de adulta, tentei ler novamente para descobrir por que os odiei tanto na época escolar. Porém, ao fazê-lo, só percebi que hoje os odeio ainda mais…

É importante entender que, mais importante do que despertar o interesse das crianças por livros, é preciso despertar nelas o prazer de ler. Eu jamais teria lido tantos livros – nem muito menos escrito cinco best-sellers – se não o fizesse por prazer. E a melhor forma de incentivar a leitura é oferecer à criança livros com assuntos que lhe sejam interessantes. Com um detalhe importantíssimo: que os pais estejam atentos aos conteúdos da literatura que oferecem, pois nem tudo o que parece bom e inofensivo, de fato é.

Assim como só se aprende a andar, andando, só se aprende a ler, lendo. Lembrando que a leitura não se trata apenas de dar sons às sílabas, mas sim, desenvolver a compreensão sobre aquilo que se lê. Afinal de contas, que autonomia as pessoas terão se dependerem de terceiros para lhes “traduzir” textos simples ou para estarem seguros do significado das cláusulas de um contrato?

O verdadeiro empoderamento só acontece quando as pessoas são capazes de desenvolver sua própria inteligência, seu senso crítico e suas habilidades para avaliar escolhas e tomar decisões. E depender somente do ensino formal e do que o Estado paternalista brasileiro oferece não é, nem de longe, a melhor das escolhas.

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