Altos e baixos ditam o mercado editorial

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Por que se lê pouco no Brasil? Responde-se: em parte, pela ineficiência de políticas públicas que sejam capazes de quebrar a estrutura secular de distanciamento do brasileiro pelo livro. Pesquisa realizada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) em conjunto com o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), mostra que, nos últimos 10 anos, o mercado editorial vem patinando, convivendo com altos e baixos tanto com relação à vendas quanto produção, sem crescimento sólido. A pesquisa abrange o período de 1990 a 2001. Os resultados de 2002 saem em março. Para se ter uma idéia, o mercado produziu, há 13 anos, 22.479 novos títulos e teve tiragem total de 239 milhões de exemplares. Desse estoque vendeu 212 milhões e faturou R$ 901 milhões. Já em 2001, foram 40,9 mil títulos produzidos, para 331 milhões de exemplares, que faturaram R$ 2,2 bilhões. Os números impressionam pela diferença. Mas o distanciamento não ilustra a realidade. Por exemplo, em 1998, o País vendeu 410,3 milhões de livros, faturando mais de R$ 2 bilhões. Já no ano seguinte, as vendas caíram para 289,6 milhões de exemplares. A queda brusca de vendas não foi tão pessimista no faturamento: R$ 1,9 bilhões. Tomando outro dado, em 2000, o mercado produziu 45,1 mil livros novos – e esse nem foi o melhor ano: 1997 teve 51,4 mil – mas a tendência não se repetiu em 2001. Nesse ano, registrou-se 40,9 mil títulos novos chegando às prateleiras. 
 
É certo imaginar que se, nestes últimos anos, o interesse dos brasileiros pelo livro viesse sendo estimulado com eficácia, haveria uma homogeneidade na linha de crescimento em todos os levantamentos. “A questão da leitura passa pelo aspecto econômico e cultural, e isso não vem de hoje, e não será resolvido amanhã. É um trabalho para futuras gerações, mas deve começar já. Nós não veremos o resultado das campanhas“, diz Marino Lobelo, vice-presidente da CBL. Existe um circulo vicioso encravado na estrutura editorial no Brasil que impede o livro de chegar às camadas populares. Veja: o livro interessa a uma pequena faixa da população, daí as tiragens são baixas, então o custo unitário é alto, vende-se pouco, e as tiragens mantém-se baixas; daí a produção se elitiza, então pouca gente continua lendo. E as livrarias não atendem à demanda do tamanho do Brasil, a distribuição torna-se onerosa, o que ajuda a encarecer o preço do livro. Para ele, é preciso focar os esforços não nos que já lêem, mas nos que têm aversão ao livro, não por própria culpa: a população pobre. “Mas para isso, é preciso entender melhor este grupo sócio-econômico“, lembra. “Só 17% da população brasileira lê. E não é sobre estes 17% que se deve trabalhar.  
 
Não é este o perfil que revolucionará o mercado“, destaca Wander Soares, presidente da Associação Brasileira dos Editores de Livros (Abrelivros) e diretor da Editora Saraiva. Mas Soares tem esperança no que virá no futuro. “O que não é bom é o presente“, brinca. “A falta de hábito de leitura no Brasil tem várias explicações. Nossa forte tradição oral, a influência quanto a formação cultural de povos não letrados, como os africanos e indígenas. São poucas as pessoas que elegem o livro como forma de prazer. A juventude de hoje já lê mais, só que ainda é a elite, e do ponto de vista de uma política de alcance mais amplo, não é por lá que se deve iniciar o trabalho“. E continua: “O índice entre o número de livros per capita no Brasil é ridículo. Se tirar os didáticos então, pior ainda. E não digo nem para compararmos com a Noruega, onde o índice de leitura é de 16 livros por ano. Cuba, por exemplo, lê nove. O brasileiro tem a média de dois livros lidos por ano“, diz. “O livro tem que ser visto como uma opção de lazer. E é assim em todos os países onde se lê com mais freqüência“, completa Lobelo, da Câmara Brasileira do Livro. 
 
Rio-pretense é fascinado por leitura 
 
O perfil do rio-pretense Rogério Menezes de Moraes, 25 anos, destoa da grande massa daqueles brasileiros que fogem do livro como o diabo da cruz. Lê de dois a três livros por semana. Desempregado, tem ainda mais tempo, e às vezes se empenha em ampliar esta média. Graduado em Letras, não se considera obsessivo. “É o prazer de ler que me faz varar as madrugadas. Não me sinto pressionado a isso“. E pensar que até 1998 não tinha interesse algum pelo livro. A paixão pelo cinema foi que o fez descobrir a literatura. “Comecei a ler livros adaptados para o cinema, para entender melhor de roteiro, e li tanto que naturalmente a coisa foi extravasando a outras leituras, até chegar ao ponto de virar um hábito“, diz. “A leitura torna tudo mais fácil“. Moraes ia com mais freqüência a Biblioteca Municipal, mas a falta de atualização o fez perder o interesse. 
 
“O livro o transporta para um mundo totalmente diferente. Você se entusiasma, se envolve com o sentimento do próprio autor“, diz Edivaldo Jacomelli, presidente da Associação de Escritores de Rio Preto, que se não fosse a “dona“ Leila Ramadan, sua professora de português, não teria despertado o gosto pela leitura, quando contava 16 anos. “As palavras nos ajuda descobrir coisas novas de nós mesmos, e conseguimos enxergar o mundo e o comportamento humano por novos primas“ afirma Jacomelli. (IG) 
 
 Livro tem de virar moda 
 
“O livro precisa virar um assunto“. Essa é a idéia de Marino Lobelo, vice-presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL). A sugestão é compartilhada pelo diretor da Editora Saraiva e presidente da Associação dos Editores de Livros (Abrelivros), Wander Soares. “É preciso colocar o livro na mídia, nos meios de comunicação de massa, porque o exemplo é muito importante para atingir as camadas populares“. Ele cita como exemplo o que ocorreu nos Estados Unidos, quando a apresentadora Oprah Winfrey, espécie de Hebe Camargo americana, disse em seu programa que havia lido um determinado livro no último final de semana. No dia seguinte, a edição esgotou nas livrarias. A partir disso, ela criou o Clube do Livro da Oprah. Todo mês ela lê um livro e faz comentários a seu respeito, e a camada popular vai na dela. “Não é tão complicado resolver a questão da falta de leitura“. 
 
Ambos lembram que a criação do paradigma das listas dos mais vendidos, divulgados por veículos impressos de comunicação e usados pelos livreiros, que penduram tais listas na porta de suas livrarias visando impulsionar as vendas, vem desempenhando um papel importante, mas ainda não suficiente. “O livro precisa estar na boca do povo, não só nas páginas de revistas“, diz Lobelo. 

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