Ainda faltam recursos, dizem especialistas

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Segundo o professor da USP de Ribeirão Preto José Marcelino de Rezende Pinto, ex-diretor do Inep (instituto de estatística do MEC), o piso anual por aluno ficará em R$ 740. “São R$ 61 ao mês. É pouco para se ter ensino de qualidade“, disse. “Mas é um avanço, pois abrangerá o ensino infantil e médio, que não são atendidos hoje.“ 
 
Para o membro do Conselho Nacional de Educação, Cesar Callegari, “entrarão mais novos alunos do que recursos“. O resultado disso, afirma, “é que ficará ainda mais evidente o pouco dinheiro destinado à educação no país“. Apesar das ressalvas, Callegari considera o Fundeb um “avanço“, sobretudo pelo aumento dos recursos injetados pela União. 
 
O presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação, Mozart Neves Ramos, vai na mesma linha. “O Fundeb procura dar uma visão sistêmica à educação, tem dinheiro novo, mas o cobertor ainda é curto“, avalia. 
 
Professora da pós-graduação em educação da PUC-SP, Maria Malta Campos ressalta a importância da regulamentação. “Ainda não é possível avaliar o impacto, porque depende de como ficará a distribuição do dinheiro entre os diferentes níveis.“ 
 
 
 
Falta definir o mais importante, diz Paulo Renato 
 
Para o ministro da Educação no governo FHC, Paulo Renato Souza, o principal ponto do Fundeb será a fixação de quanto cada nível de ensino receberá. “Infelizmente“, afirma Paulo Renato, a definição deverá ocorrer por medida provisória, “sem discussão“. Leia os principais trechos da entrevista com Souza, deputado federal eleito pelo PSDB:  
 
FOLHA – Como o sr. avalia o novo fundo da educação?
PAULO RENATO SOUZA – É positivo pois atende às diversas modalidades de ensino. Mas preferia três fundos, um para cada nível. Com fundo único, pode-se drenar recursos do fundamental para outros níveis, o que é ruim.  
 
FOLHA – Qual é o desafio agora?  
PAULO RENATO – Saber quanto vai para o ensino infantil, para o médio e para a educação de jovens e adultos. É o essencial do projeto, que, infelizmente, deverá ser por medida provisória, sem as discussões necessárias.  
 
FOLHA – Como o sr. avalia o volume de novos recursos do Fundeb?  
PAULO RENATO – Entraram mais alunos do que dinheiro. A destinação de Estados e municípios subiu de 15% dos impostos para 20%. Será necessário atender o ensino infantil e médio. O dinheiro não será suficiente.  
 
FOLHA – Para o sr., como deve ser a distribuição dos recursos?  
PAULO RENATO – O importante é preservar o ensino fundamental. O restante deve ser distribuído de forma equilibrada. 
 
 
 
Fundo trará um “impactozinho“, diz Cristovam 
 
O senador Cristovam Buarque (PDT), ex-ministro da Educação no governo Lula, considera que o Fundeb trará apenas um “impactozinho“ na educação. Isso porque, além de classificar como insuficientes os recursos, o senador diz que o novo fundo não mexe na estrutura do ensino no país. Leia a entrevista dele à Folha:  
 
FOLHA – Como o sr. avalia o novo fundo da educação?  
CRISTOVAM BUARQUE – Sou favorável, porque é melhor um impactozinho do que nada. Mas ocorrerá com o Fundeb o mesmo que passou com o Fundef: dez anos anos após a aprovação do fundo para o ensino fundamental, vemos hoje que o salto de qualidade na educação não veio. E por que? Porque o problema é mais do que recursos. Precisamos criar um sistema nacional de educação.  
 
FOLHA – Como o sr. analisa o montante de recursos do novo fundo?  
CRISTOVAM – É muito pequeno. Para haver um salto de qualidade, calculo que o governo deveria investir hoje R$ 7 bilhões. Com o Fundeb, serão apenas R$ 2 bilhões no primeiro ano.  
 
FOLHA – Para o sr., como deve ser a distribuição de recursos?  
CRISTOVAM
– Aí está o grande perigo do Fundeb. O aluno do ensino médio muitas vezes se mobiliza. Ou seja, dá votos. Há o perigo de o ensino fundamental perder dinheiro para o médio por causa disso. O certo seria cada nível ter fundo próprio. 
 
 
 
Fundeb amplia recursos da educação básica 
Assessoria de Comunicação Social do MEC 
 
A partir de 2007, a educação básica – que compreende a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio em todas as suas modalidades – terá fundo de financiamento próprio. O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) substituirá o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef), que financia apenas o ensino fundamental. 
 
A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 536/1997, aprovada nesta quarta-feira, 6, pela Câmara dos Deputados, em segundo turno, foi elaborada a partir de ampla discussão com a sociedade. O MEC promoveu cinco colóquios estaduais e dois nacionais, em 2004, com a participação de instituições, entidades educacionais e especialistas da área de educação e de finanças, para o debate e apresentação de sugestões à proposta do governo. A PEC do Fundeb entra em vigor após ser regulamentada. 
 
Um dos objetivos do Fundeb é universalizar o atendimento na educação básica, a partir da redistribuição eqüitativa de recursos entre o estado e seus municípios. Será estabelecido um valor mínimo por aluno, com valores diferenciados por etapa e modalidade de ensino da educação básica de todo o País.  
 
Segundo o ministro da Educação, Fernando Haddad, o caráter universal do fundo beneficiará toda a educação básica do País, especialmente as populações historicamente prejudicadas. Para Haddad, a educação no Brasil hoje, está baseada em um tripé que abrange financiamento, avaliação e formação de professores. “Resolvemos parte da questão do financiamento com o Fundeb. A Prova Brasil, com a divulgação dos resultados de cada escola, tem papel decisivo na avaliação”, disse Haddad, destacando que para a formação de professores o governo investe na implantação da Universidade Aberta do Brasil. 
 
Composição do Fundeb 
 
Uma das principais mudanças do Fundeb, em relação ao Fundef, é a fonte de recursos. Hoje o Fundef é composto por 15% dos principais impostos e transferências dos estados e municípios: Fundo de Participação dos Estados (FPE), Fundo de Participação dos Municípios (FPM), Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), Imposto sobre Produtos Industrializados proporcional às Exportações (IPIexp) e a desoneração das exportações prevista na Lei Complementar nº 87/96 (Lei Kandir). 
 
O Fundeb prevê a manutenção das fontes que alimentam o Fundef, porém com alíquota maior (20%), e ainda acrescenta novas fontes: o Imposto de Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), Imposto de Transmissão de Causa Mortis e Doações (ITCMD), Cota Parte Municipal do Imposto Territorial Rural (ITR). Os impostos próprios dos municípios, no entanto, continuam fora do fundo (IPTU, ISS e ITBI). 
 
Quanto à subvinculação de recursos destinada à valorização do magistério, permanece como no Fundef, onde no mínimo 60% dos recursos repassados a estados e municípios deverão ser aplicados na remuneração do magistério. 
 
Implementação gradativa do FUNDEB 
 
No primeiro ano de vigência do Fundeb, o aporte da União será de R$ 2 bilhões; os recursos de impostos municipais e estaduais aumentam de 15% para 16,66%, no caso dos impostos que fazem parte do Fundef, mais 6,66% dos novos impostos; serão atendidos 100% dos alunos do ensino fundamental e um terço dos alunos excluídos do Fundef (educação infantil, ensino médio e educação de jovens e adultos). Parcela de estados e municípios corresponderá a R$ 41,1 bilhões. Estima-se que o Fundeb movimentará R$ 43,1 bilhões no primeiro ano. 
 
No segundo ano, o aporte da União será de R$ 3 bilhões; os recursos de impostos municipais e estaduais aumentam para 18,33% e 13,33% (novos impostos); serão atendidos 100% dos alunos do ensino fundamental e dois terços dos alunos das outras etapas de ensino. Parcela de estados e municípios corresponderá a R$ 45,9 bilhões. Estima-se que o Fundeb movimentará R$ 48,9 bilhões no segundo ano. 
 
No terceiro ano, o aporte da União será de R$ 4,5 bilhões; os recursos de impostos municipais e estaduais aumentam para 20% (todos os impostos); serão atendidos 100% dos alunos do ensino fundamental e 100% dos alunos das outras etapas. Parcela de estados e municípios corresponderá a R$ 50,7 bilhões. Estima-se que o Fundeb movimentará R$ 55,2 bilhões no terceiro ano. 
 
A partir do quarto ano, o aporte da União será de 10% da contribuição dos estados e municípios (cerca de R$ 5,1 bilhões); os recursos de impostos municipais e estaduais são fixados em 20%; 100% dos alunos da educação básica serão atendidos. Parcela de estados e municípios corresponderá a R$ 50,7 bilhões. Estima-se que o Fundeb movimentará R$ 55,8 bilhões, a partir do quarto ano de implementação. 
 
Após o quarto ano de vigência, serão beneficiados cerca de 48,1 milhões de estudantes da educação básica: sendo cerca de 860 mil de creches; cerca de 4,1 milhões de pré-escola; cerca de 34,1 milhões do ensino fundamental; cerca de 9 milhões do ensino médio. 
 
Os estados com os piores indicadores educacionais terão recursos novos para a educação básica. 
 
Parâmetros do Fundeb 
 
Alcance
— Fundo único de âmbito estadual. 
 
Implementação — Progressiva em três anos, cobrindo 100% dos alunos do ensino fundamental mais um terço dos alunos das outras etapas (educação infantil, ensino médio e educação de jovens e adultos) no primeiro ano, dois terços no segundo ano e três terços (100%) a partir do terceiro ano. 
 
Vigência — 14 anos, a partir de 2007 (três primeiros anos de transição) 
 
Composição
— 20% dos impostos e transferências estaduais mais 20% das transferências municipais (impostos municipais não entram na composição do fundo) implementados progressivamente: 
 
* No primeiro ano, 16,66% dos impostos que compõem o Fundef – Fundo de Participação dos Estados (FPE), Fundo de Participação dos Municípios (FPM), Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), Imposto sobre Produtos Industrializados proporcional às Exportações (IPIexp) e a desoneração das exportações prevista na Lei Complementar nº 87/96 (Lei Kandir); e 6,66% dos novos impostos – Imposto de Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), Imposto de Transmissão de Causa Mortis e Doações (ITCMD), Cota Parte Municipal do Imposto Territorial Rural (ITR);  

* No segundo ano, 18,33% dos impostos que compõem o Fundef, 13,33% dos novos impostos;  

* No terceiro ano, 20% de todos os impostos que compõem o Fundeb. 

Estudantes beneficiados — Após o quarto ano de vigência serão contemplados 48,1 milhões, sendo cerca de 860 mil de creches; cerca de 4,1 milhões de pré-escola; cerca de 34,1 milhões do ensino fundamental; cerca de 9 milhões do ensino médio. 
 
Complementação da União — R$ 2 bilhões no primeiro ano, R$ 3 bilhões no segundo ano, R$ 4,5 bilhões no terceiro ano, e 10% do fundo a partir do quarto ano. Nos 14 anos de vigência, a União investirá um montante acumulado de R$ 55,4 bilhões. 
 
Total do Fundeb — R$ 43,1 bilhões no primeiro ano, R$ 48,9 bilhões no segundo ano, R$ 55,2 bilhões no terceiro ano, R$ 55,8 bilhões a partir do quarto ano (em valores de 2006). 
 
Distribuição de recursos — Com base no número de alunos da educação básica. 
 
Valorização dos profissionais — Pelo menos 60% do Fundeb deve ser aplicado na remuneração dos profissionais do magistério da educação básica (direção, administração escolar, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional). 
 
Uso dos recursos — Manutenção e desenvolvimento da educação: construção, ampliação e reforma de escolas; equipamentos; material didático; transporte escolar; formação de profissionais, entre outras. NÃO PODE: despesas com alimentação, assistência média, odontológica e social. 
 
Salário-educação — Ampliação para toda a educação básica. 
 
 

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