Agito editorial

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A pesar da crise vivida pelo mercado editorial brasileiro nos últimos cinco anos, o setor vive momentos de euforia. A aposta no crescimento se reflete em negócios recentes, como a venda de 75% da Objetiva para o grupo espanhol Prisa-Santillana e a compra de metade da Nova Fronteira pela Ediouro. Anunciadas este mês, as fusões apontam pelo menos duas diretrizes. As empresas apostam na conquista de um número cada vez maior de leitores e para o sucesso dessa empreitada devem travar uma guerra para garantir a criação de catálogos cada vez mais sólidos e diversificados.  
 
A entrada de grupos internacionais de peso como o Prisa-Santillana – presente em mais de 20 países e dono, entre outras publicações, do jornal “El Pais“ – e da Planeta – sétimo maior grupo editorial do mundo com forte presença inclusive na América Latina – que se instalou no Brasil em 2003, indica que os estrangeiros estão de olho num mercado com enorme potencial para crescer. Por enquanto, são apenas 26 milhões de leitores ativos, que lêem em média quatro livros por ano num País com 180 milhões de habitantes. A previsão é expandir consideravelmente o número de leitores. Além de movimentar o setor, a presença de editoras multinacionais pode beneficiar, sobretudo, os ávidos por novidades.  
 
Editoras como a Planeta, que está presente em diversos países, tem uma facilidade maior em promover o intercâmbio de autores. Novos escritores estrangeiros, que talvez nunca tivessem chance de ser publicados aqui, começam a chegar às livrarias nacionais com uma velocidade nunca vista. “Existe uma sintonia com as outras casas da Planeta para fazer com que a circulação da informação aconteça de maneira ágil“, diz Pascoal Soto, diretor editorial da editora. Graças a essa troca os brasileiros podem conhecer, por exemplo, a obra de Efraim Medina Reyes, um dos destaques da literatura colombiana contemporânea.  
 
No País, os talentos também deverão ser mais valorizados, tanto aqueles que já têm uma posição consolidada como outros que ainda sonham em publicar o primeiro livro. Contratos atraentes promovem uma dança das cadeiras no setor. A Planeta, com grande penetração no exterior, atrai autores com a possibilidade de “projetos globais“. “Minhas Histórias dos Outros“, de Zuenir Ventura, a biografia de Paulo Coelho que está sendo escrita por Fernando Morais, e uma coleção provisoriamente chamada de “Planeta Brasil“ feita pelo jornalista Eduardo Bueno entraram nessa categoria e serão publicadas noutros países.  
 
Paralelamente à caça de nomes consagrados, ocorre a busca por novos escritores. A Planeta fez dessa idéia uma de suas metas. “Temos interesse em criar um catálogo forte que contemple as principais promessas e os autores consagrados“, diz Soto. Com pouco mais de 200 títulos no catálogo e com a expectativa de produzir outros 100 a cada ano, a empresa pretende investir em talentos que começam a despontar como Santiago Nazarian e Alexandre Plosky.  
 
A disputa por novatos é acirrada. Publicado inicialmente na Planeta, João Paulo Cuenca migrou para a Ediouro. Conhecida até pouco tempo por manter um catálogo de clássicos universais e pela publicação de palavras cruzadas, a editora carioca diversificou a linha de atuação.  
 
Além de Cuenca, Paulo Roberto Pires, diretor editorial da Ediouro, aponta outras apostas: Daniela Abade, Ivana de Arruda Leite e André Laurentino, cujo primeiro livro deve sair em agosto. Além disso, a Ediouro acaba de aumentar seus domínios com a aquisição da Nova Fronteira. “O autor nacional é a prioridade. Queremos que os novatos enxerguem na editora o lugar para se lançarem“, afirma Carlos Lacerda, sócio e editor da Nova Fronteira, dona de sólido catálogo que inclui nomes como Thomas Mann, Guimarães Rosa, João Ubaldo Ribeiro, Cecília Meirelles, João Cabral de Mello Neto e Agatha Christie.  
 
Tanto empenho não existe ao acaso. “Não se forma um catálogo sólido sem um espaço para a descoberta de novos autores. Por isso têm surgido tantos nomes nos últimos anos“, avalia Luciana Villas-Bôas, diretora editorial da Record, a maior lançadora de títulos, um total de 28 por mês.  
 
A onda de fusões revela também o quanto a diversidade dos catálogos é importante para a sobrevivência das editoras. O grande número de selos lançados no mercado nos últimos anos prova isso. A Record, por exemplo, tem mais seis selos além daquele que leva o nome da editora: José Olympio, Bertrand Brasil, Civilização Brasileira, Difel e Rosa dos Tempos que juntos formam uma coleção de títulos dos mais estrelados, na qual constam textos de 22 ganhadores do Prêmio Nobel, como Gabriel García Márquez, Pablo Neruda e Günther Grass, além de brasileiros como Jorge Amado, Graciliano Ramos e a premiada Nélida Piñon.  
 
A Ediouro também se expandiu com os selos Agir e Relume-Dumará antes de ganhar o reforço de autores da Nova Fronteira. Como explica Marino Lobello, vice-presidente de comunicação e marketing da Câmara Brasileira do Livro: “Uma editora com um grande catálogo tem vantagem na hora de distribuir. É muito mais econômico e, por isso, tem a tendência natural de ocupar o mercado“. Razões econômicas à parte, o resultado dessa disputa tem tudo para agradar aos amantes da leitura, que terão uma oferta cada vez maior de títulos. 
 
 
 
Como chegar ao leitor 
Gazeta Mercantil 
 
O mercado editorial brasileiro vive um problema de difícil solução: em meio a um momento de crescimento do setor, como fazer chegar ao consumidor os livros produzidos no País?  
 
Uma pesquisa realizada pelo Ministério da Cultura mostra que as editoras brasileiras pretendem investir, até dezembro, R$ 239 milhões no lançamento de novos títulos, modernização tecnológica, ampliação do negócio e na criação de novos selos. Isso representa um aumento de 48% em relação a 2004.  
 
Paradoxalmente, em meio a tanto movimentação entre as editoras, a grande maioria dos 5.561 municípios brasileiros sequer possui uma livraria. Pela primeira vez a Câmara Brasileira do Livro (CBL) tenta descobrir quantos estabelecimentos deste tipo existem no País, dado que até o momento se baseava em estimativas das editoras, considerando o cadastro para vendas. Agora a instituição pretende cadastrá-los, utilizando como principal recurso uma página em seu site oficial.  
 
Até o momento, o número não está distante das estimativas anteriores: são cerca de 1.300. “Existe um descompasso, digamos, genético“, afirma Marino Lobello, vice-presidente da CBL. Ele explica que os custos para a criação de uma livraria são bastante altos e o retorno é muito lento. Lentíssimo.  
 
Não bastasse esse entrave na distribuição – hoje um pouco amenizado pela venda de livros via internet – há problemas econômicos e culturais envolvidos que dificultam a conquista de novos leitores. A pesquisa “Retrato da Leitura no Brasil“ mostra, por exemplo, que 69 % dos brasileiros acredita que há formas mais modernas de atualização que a leitura de livros. Além disso, 61 % dos adultos alfabetizados têm pouco ou nenhum contato com livros. O fator econômico é determinante neste quadro. Quanto menor o grau de instrução, menor o apreço pela leitura. Não por acaso, as classes A, B e C representam, em São Paulo, 95% do mercado.  

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