“A evasão no Ensino Médio é uma tragédia silenciosa”

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A Abrelivros em Pauta deste mês conversou com a Consultora de Educação da Firjan SESI, Andrea Marinho, coordenadora da pesquisa “Combate à evasão no Ensino Médio: desafios e oportunidades”. O estudo, desenvolvido em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), mostra dados relevantes sobre a evasão escolar no país. “Mais de meio milhão de alunos abandonam o Ensino Médio no Brasil a cada ano. A evasão escolar é uma tragédia silenciosa que amplifica desigualdades sociais e impacta a economia brasileira”, diz. Andrea destaca ainda que apenas 6 em cada 10 jovens brasileiros conseguem concluir o Ensino Médio até os 24 anos. Em comparação com outros países, o Brasil está atrás do México, Colômbia, Costa Rica e Chile”, afirma. A consultora falou ainda do diagnóstico da situação nacional que o estudo propõe, além de análises e guias práticos de implementação de experiências exitosas.

Como surgiu o projeto que resultou nessa pesquisa?

O projeto surgiu a partir de uma observação do mundo do trabalho, algo que fazemos frequentemente na Federação. Identificamos alguns pontos. Primeiramente, mais de 90% dos trabalhadores no Brasil concluíram o Ensino Médio na educação pública. Em seguida, analisamos dados que comprovam a falta de qualificação profissional no Brasil, mesmo entre jovens formados, que apresentam índices muito baixos de proficiência.

Aprofundando nossa pesquisa, notamos uma taxa alarmante de evasão escolar no Ensino Médio. A partir dessa constatação, a Firjan SESI propôs um estudo para compreender melhor essa situação e, não apenas diagnosticá-la, mas também sugerir alternativas para combater a evasão. Embora haja muitos estudos sobre o tema, é crucial fornecer informações sólidas para efetivamente transformar essa realidade.

Para tornar o projeto viável, estabelecemos uma parceria estratégica com o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) devido à sua abrangente base de dados, tanto no Brasil quanto globalmente, e à capacidade de reunir uma equipe multidisciplinar de especialistas. Começamos esse trabalho há mais de um ano.
Uma das estatísticas iniciais que nos chocou foi o fato de que apenas 6 em cada 10 jovens brasileiros conseguem concluir o Ensino Médio até os 24 anos. Em comparação com outros países, o Brasil está atrás do México, Colômbia, Costa Rica e, consideravelmente, atrás do Chile.

A não conclusão do Ensino Médio no Brasil gera custos individuais para os jovens e suas famílias, bem como para a sociedade como um todo.

Quais são os reflexos disso para a economia e a sociedade?

Os resultados são alarmantes. Entre o Quinto mais pobre da população, menos da metade dos jovens conseguem concluir o ensino médio. Isso revela uma desigualdade social econômica gritante, como também perpetua à medida que esse círculo vicioso não é interrompido.

A cada ano, 500 mil jovens abandonam a escola, encerrando sua vida escolar. Isso equivale a queda de 2,5 mil Boeings 737 por ano. É uma tragédia silenciosa no país. Este estudo busca identificar as causas dessa tragédia e oferecer recomendações para impedir que ela se repita.

Além dos custos individuais para os jovens e suas famílias, há um custo que recai sobre a sociedade em geral, prejudicando o desenvolvimento econômico do país. O estudo estima que a evasão escolar gera um prejuízo de R$ 220 bilhões por ano, considerando a perda de empregabilidade, emprego formal, renda, produtividade e até mesmo a expectativa de vida reduzida em três anos para esses jovens. Também sobrecarrega o sistema de saúde pública e contribui para o aumento da violência. Dada a importância da formação integral dos indivíduos em um mundo cada vez mais dependente da tecnologia, a educação desempenha um papel fundamental na inserção das pessoas no mercado de trabalho e no crescimento da economia. Isso é ainda mais crucial no Brasil, dada a estagnação econômica que enfrentamos.

Com base nesse quadro, o quanto esse dado impede que o Brasil tenha uma economia inovadora, com mais tecnologia?
O Brasil apresenta baixa proficiência em Ciências, Leitura e Matemática, com menos da metade da proficiência média dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Precisamos formar jovens que tenham um desenvolvimento integral, capazes de desenvolver processos cognitivos que os preparem para uma trajetória profissional inovadora. Os países mais inovadores do mundo investem fortemente na educação básica, e o Brasil enfrenta altas taxas de evasão não apenas na educação básica, mas também no ensino superior.

A inovação depende de uma educação de qualidade desde a base, incluindo proficiência em matemática e o desenvolvimento de raciocínio lógico. Sem isso, a inovação se torna um desafio ainda maior.

Quais são as experiências promissoras que o estudo identificou?

Identificamos mais de 100 experiências bem-sucedidas, mas gostaria de destacar três grupos que considero particularmente relevantes. O primeiro grupo envolve programas de bolsa auxílio para os alunos. Muitos jovens abandonam a escola para ajudar financeiramente suas famílias, e os programas de bolsa auxílio geralmente têm resultados muito eficazes.

O segundo grupo está relacionado ao apoio à aprendizagem. A baixa aprendizagem é um problema que começa na primeira infância e persiste nas fases subsequentes. Muitos jovens desistem de aprender porque acreditam que não conseguem sozinhos. Intervenções que oferecem apoio individualizado ao aprendizado do aluno, como mentoria e tutoria, têm se mostrado muito eficazes.

O terceiro grupo é o apoio à gestão e à docência. Melhorar a aprendizagem nas escolas é impossível sem uma boa gestão escolar que seja capaz de identificar e intervir em situações problemáticas. O investimento na formação inicial e contínua de professores de alta qualidade é fundamental para desenvolver currículos escolares eficazes e manter os jovens na escola.

Além disso, é crucial informar os jovens sobre as oportunidades que a educação pode proporcionar desde cedo, para que eles se sintam comprometidos com seu projeto educacional. Ambientes inspiradores e experiências de transição entre a escola e o mundo do trabalho, como parcerias de estágio em empresas, palestras e cursos de férias, são fundamentais nesse processo.

Todo o material que produzimos, incluindo o estudo e as cinco análises que desenvolvemos, está disponível em um site de acesso público.

Quais são os próximos passos do projeto?

Nossos próximos passos incluem uma missão ao Chile em novembro, em parceria com o PNUD e secretarias estaduais de Educação. Lá, encontraremos a equipe responsável pelo desenvolvimento da política de combate à evasão escolar que posicionou o Chile, em apenas 30 anos, em um patamar comparável aos países desenvolvidos da Europa. Eles são nossa referência.

Planejamos realizar várias reuniões, com a participação também de gestores públicos brasileiros, em universidades locais chilenas para fornecer informações adicionais e apoiá-los na elaboração de projetos de combate à evasão que se adaptem a cada estado do Brasil. Além disso, realizaremos um seminário para a Secretaria Estadual do Rio de Janeiro sobre a evasão escolar.

 

Link para o projeto:
http://evasaonoensinomedio.educacao.ws/

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