A escola do século 21

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A juventude já mandou o seu recado para a sociedade. Quer uma escola contemporânea. Ela é composta por nativos digitais. Os millenials são desenvoltos no manuseio da parafernália eletrônica à qual nos submetemos. A inteligência artificial e os algoritmos nos governam e quem ainda persiste em dizer que não se entrega à realidade, ficou para trás. Foi descartado.

Steve Jobs disse para os americanos: “Todos nesse país deveriam aprender a programar um comutador, pois isso ensina a pensar”. O mundo civilizado já incluiu programação na grade curricular. A lógica da programação teve início no ano 2000 em Israel, em 2011 na Nova Zelândia, em 2012 na Estônia e Alemanha, em 2014 na Austrália e Reino Unido, em 2016 na Finlândia e, em 2020, já estava em toda a União Europeia.

Essa é uma das competências necessárias ao mundo pós Quarta Revolução Industrial e atrai a infância e a mocidade em todos os países. É algo dinâmico, muito mais eficiente do que submeter um aluno a uma aula prelecional quanta vez ultrapassada, pois a informação transmitida pode ser obtida num sítio de buscas pela internet de forma instantânea e super-atualizada.

Além disso, faz com que o estudante aprenda a trabalhar em equipe e saiba o que é colaboração. Desenvolve a sua capacidade de resolver problemas inesperados em contextos complexos. Quando aprende a programar, o aluno desenvolve o seu raciocínio lógico, desperta a criatividade e a engenhosidade, passa a descobrir estratégias que são partilhadas com o grupo, o que favorece a interatividade.

Um programador é um indivíduo habilitado ao exercício da autonomia, algo que tem sido negligenciado na educação tradicional. Por sinal que esta, focada na transmissão de dados, olvidou-se de investir nas chamadas competências socioemocionais: empatia, sensibilidade, autocontrole, disposição para enfrentar desafios, autoestima, superação, capacidade de resolver problemas, partilha de ideias, saber ouvir e lidar com situações inesperadas. É o que falta para a educação brasileira. Por isso ela está na rabeira do mundo.

O brasileiro é talentoso e é um desperdício não propiciar a ele o mergulho irreversível nesse universo mágico da digitalização. Quem pode observar uma criança constata a familiaridade que ela tem com celulares, smartphones, notebooks e televisão. O alunado é ávido por conhecer mais sobre produção 3D, edição de imagens ou cenário de games, descobrir tudo o que a Inteligência Artificial e os algoritmos podem oferecer para melhorar a vida e o convívio, dominar a Internet das coisas, a nanotecnologia, a robótica e tudo o mais. Só que as escolas, em sua imensa maioria, não ofertam esse cardápio. O resultado é a evasão maciça no Ensino Médio, pois o jovem já não se convence de que estar a ouvir exposições orais servirá a ele num novo mundo repleto de ameaças e de desafios.

Uma das missões da escola é transformar os indivíduos em profissionais qualificados e competitivos num mercado altamente sofisticado. A programação abrirá as portas do êxito no trabalho para milhões de brasileiros que hoje enfrentam desemprego, subemprego, invisibilidade e exclusão.

Um campo novo, sedutor e experimental, contribuirá para suscitar reflexão ainda não suficientemente explorada na escola convencional. A descoberta de valores quais o sentido de transformação, a confiança em si, a reciprocidade, o respeito, a verdade, transparência, obstinação, humildade, coragem e fraternidade.

Quando o jovem é curioso, ele se apaixona por esse campo inédito. Vai fazer questão de não perder aula. Vai descobrir que ele pode ser um criador e, talvez, criar uma startup com vistas a se converter num unicórnio, aquela que alcança lucro de um milhão de dólares. Há um campo imenso para isso num Brasil que precisa incluir digitalmente duzentos e doze milhões de indivíduos, que tem de implementar com urgência o sistema 5-G e que precisa criar, também com pressa, condições para a mocidade produzir e se sustentar.

Antigamente os pais queriam que seus filhos fossem médicos, engenheiros ou advogados. Hoje, eles estão interessados em computação gráfica, querem aprender design digital, criar softwares, conhecer arte vetorial, edição de imagens, animação 2D orientada a games, editar vídeos, compor vídeos e efeitos, fazer modelagem 3D e produzir Game 2D, assim como conteúdo para lives e aulas para ensino remoto.

O mundo é outro e muito diferente. A escola não viu. Por isso é que perde alunado. As empresas, que tiveram de sobreviver no mundo cruel da competição, cuidaram de preparar, elas próprias, o pessoal qualificado que a educação tradicional não forma. Daí o sucesso das Universidades Corporativas, que suprem o mercado de talentos que nem sempre foram bons alunos. Por sinal que o conceito de “bom aluno” deve ser repensado. Alguém que decora, que repete automaticamente aquilo que lhe foi apresentado em aula, nem sempre é possuidor de uma inteligência hábil a fazer dele um ser humano feliz, realizado, equilibrado e capaz de arrostar o infinito de dificuldades com que esta era surpreende os viventes.

Tudo está a exigir uma nova escola. Uma escola para o século XXI. Era para ontem. O mundo tem pressa e os mais avançados há tempos perceberam isso.

 

*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e presidente da Academia Paulista de Letras – 2019-2020

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