A escola como um direito

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A história foi longa e difícil. Meses de medo de que a escola propagasse o novo vírus. Mas tentativas corajosas de retorno em países onde a educação é prioridade e a pandemia estava mais controlada passaram a ser estudadas. Isso quando, por aqui, os bares já podiam funcionar. As primeiras pesquisas, e depois muitas outras, deram resultados animadores. A escola não era um local de grande transmissão da covid e as crianças também não eram vetores importantes.

Fez-se o consenso e mais países abriram suas redes de ensino. Víamos crianças com mochilas nas costas pelo mundo e as nossas, diante de computadores – ou pior, pelas ruas, com fome, em casa, sem escola. Pediatras então se uniram aos educadores no grito pela volta. Mães e pais lançaram movimentos pela abertura. Foi fortalecida, enfim, a escola como um direito, em meio à pandemia.

Depois de um recorde mundial de mais de 260 dias fechadas, poucas redes no Brasil começaram a reabrir. E houve sucesso. Pais de escolas particulares que antes eram contra o retorno passaram a enviar seus filhos e a comemorar. A despeito da grita dos sindicatos, o movimento ia chegando também às públicas, que se adaptavam à nova realidade. Foi bonito ver a construção de uma maior consciência de que o ambiente escolar é insubstituível na vida da criança.

Com um decreto dizendo que as escolas poderiam ficar abertas na fase vermelha, a mais restritiva, a sensação era de que teríamos um ano letivo minimamente normal em 2021. Mas havia a variante do vírus, o ano-novo, o carnaval e as pessoas fazendo tudo o que não é essencial. Ainda, a negligência absurda com a compra de vacinas.

A iminência do colapso voltou. Com ela veio na semana passada o secretário estadual de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn. Em entrevista, disse que “sem dúvida” a educação deveria fechar neste momento. Escolas e pais acordaram do breve sonho. Do alívio de ver as crianças aprendendo onde devem aprender, convivendo com quem devem conviver. Mais uma vez entraram em um mar de informações e espera angustiante.

Dois dias depois, o governador João Doria anunciou a fase vermelha. E escolas abertas. O secretário da Educação, Rossieli Soares, explicou que elas atenderiam “quem mais precisa”. Citou os vulneráveis socialmente ou por questões de aprendizagem, os que não têm como se conectar em casa ou com a saúde mental abalada – são muitos. Falou da prioridade às crianças de 4 e 5 anos e das que estão em alfabetização. Rossieli é um dos grandes defensores do País em abrir as escolas, mas disse: se puder fazer ensino a distância, faça nessas duas semanas.

A decisão sobre se a educação é essencial ou não recaiu sobre as famílias. Pais passaram a se questionar se seus filhos, de fato, precisam. Tiveram de se dividir entre o desenvolvimento de uma criança e o espalhamento do vírus.

Para as escolas particulares também foi posto o mesmo dilema cruel. Algumas resolveram fechar e sofreram pressão dos pais por acolhimento. Outras ficaram abertas e tiveram reação contrária. As redes sociais foram tomadas por guerras de cartas de pais, professores e alunos. E brigas entre os que não vão enviar os filhos contra os que querem continuar. Quem defende ou precisa da educação aberta foi tachado de negacionista e egoísta. Muitos se sentiram constrangidos em dizer que queriam o filho na escola.

E os recordes de mortos e UTIs lotadas não param. Junta-se a eles agora o imenso temor de que essa desgraça enfraqueça a noção de que a escola é essencial, que estávamos começando a construir no Brasil. Deveríamos estar todos juntos, governo, pais, diretores, professores reforçando a essencialidade da educação e não a colocando em dúvida.

 

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