Ex-ministro ataca mudança de metodologia

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Uma atualização na base de dados do IDH, aliada à entrada de dois novos países na lista, levou o Brasil a “perder“ o 65º lugar no ranking que compara o estágio do desenvolvimento humano no mundo. A posição foi comemorada em 2003 como um avanço. Com os novos dados, o Brasil fica estagnado na 72ª colocação no ranking do Relatório do Desenvolvimento Humano 2004, que será divulgado hoje pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). Ao refazer os dados de 2003 (que indicavam que o país era o 65º), o Pnud colocou o Brasil em 72º. Isso aconteceu porque o IDH é calculado levando em conta variáveis de educação, renda e expectativa de vida. Uma das variáveis utilizadas é a taxa de analfabetismo da população com 15 anos ou mais de idade. No relatório deste ano, foi utilizada a taxa do Censo 2000 do IBGE. No ano passado, o relatório usou uma estimativa para 2001.

Para o ex-ministro da Educação no governo FHC, Paulo Renato Souza, a utilização da taxa de analfabetismo calculada pelo Censo 2000 é uma manipulação de dados. “É uma barbaridade. Quando saírem os dados do IDH do presidente Lula, vai parecer que o Brasil deu um salto muito maior do que o que o país efetivamente terá dado. Querem roubar do nosso governo [FHC] dois anos de avanços na educação.“ O ex-ministro defende a utilização da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE, para o cálculo do índice porque a pesquisa indica uma taxa de analfabetismo menor do que a do Censo 2000. A Pnad mais recente, de 2002, indica que a taxa de analfabetismo no Brasil está em 11,8%. No Censo 2000, a taxa de analfabetismo é de 13,6%. No relatório divulgado no ano passado, a taxa de analfabetismo brasileira foi estimada em 12,7%, que é bastante próxima da taxa calculada pelo IBGE por meio da Pnad para 2001 (12,4%).  
 
Censo x Pnad – Para o relatório deste ano, foi solicitado aos governos dos países que fornecessem os índices. Dos 177 territórios, 40 responderam à consulta, entre eles o governo brasileiro, que preferiu adotar o Censo 2000 do IBGE em vez da Pnad. A Pnad é uma pesquisa por amostragem de domicílios e é realizada anualmente (exceto em anos em que o Censo é realizado) pelo IBGE. Os censos são realizados a cada dez anos e pesquisam a totalidade dos domicílios brasileiros. A vantagem da Pnad é que ela é uma pesquisa anual e mais dinâmica, mas ela tem a desvantagem em relação ao Censo de não cobrir a zona rural da região Norte.

O governo brasileiro informou que se manifestaria apenas hoje, após a divulgação oficial dos dados. A Folha procurou o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão do Ministério do Planejamento que fornece estimativas para o Pnud, para que o órgão respondesse às críticas de Paulo Renato. A assessoria de imprensa do instituto informou que os técnicos só comentariam o IDH hoje, em entrevista coletiva.

Para o economista Marcelo Paixão, professor da UFRJ, a mudança na fonte dos dados do cálculo do IDH prejudica a comparação. “Se eles usarem no ano que vem a Pnad de 2003, certamente o país dará um salto de várias casas no ranking. Independentemente da fonte usada, o ideal é que não mudassem o tempo inteiro porque isso prejudica a comparação.“ Paixão criticou o uso dos dados no ano passado: “Quando o Brasil pulou posições no ranking, foi dito que foi uma grande realização do governo. No entanto, com a mudança da fonte de dados, voltamos à mesma posição“. Na opinião do ex-presidente do IBGE Simon Schwartzman, o IDH não deve ser comparado de um ano para o outro: “Qualquer mudança no cálculo da estatística pode fazer com que o país ganhe ou perca posições no ranking. Os jornais dão muita importância à posição no ranking de um ano para o outro, mas o melhor é analisar uma década“. De 1990 a 2002, em um ranking com os 135 países para os quais há IDH comparáveis desde 1990, o Brasil passou da 66ª posição no ranking para a 56ª.  
 
Pelo relatório atualizado, o IDH brasileiro sobe de 0,773 em 2003 para 0,775 em 2004, mantendo-se entre os países de desenvolvimento médio (IDH entre 0,500 e 0,800). Segundo o Pnud, não é correto afirmar que o país tenha caído sete posições do relatório de 2003 para o deste ano porque houve a atualização dos cálculos dos indicadores e a inclusão de Tonga e Timor Leste entre os territórios analisados -no total são 177. 

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