MEC, agora, decide fazer distribuição de tablets

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Anunciado em 2011 pelo Ministério da Educação, o programa do governo federal que prevê a distribuição de tablets aos Professores do Ensino médio inicia o ano sem definição de data para sair do papel.

De concreto mesmo é que, em novembro do ano passado, o MEC começou a distribuição de 5 mil tablets que serão utilizados em programa de formação de Professores nos 18 estados que já aderiram ao Proinfo Integrado (Programa Nacional de Tecnologia Educacional).

Para justificar os investimentos no programa, o MEC argumenta que a iniciativa amplia as possibilidades pedagógicas do Professor em sala de aula. Mas a crítica de muitos especialistas é se, de fato, esta deve ser a prioridade no âmbito do Ensino público, sobretudo porque o programa peca em distribuir as máquinas sem se preocupar com a capacitação dos Educadores.

Estudo recente do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) chamou a atenção para essa aparente ambiguidade. Em busca de uma resposta concreta para essa questão, uma equipe de pesquisadores foi até o interior da Etiópia e distribuiu 40 tablets para crianças de duas tribos.

Simplesmente entregaram a caixa, lacrada, deixando como única orientação a necessidade de recarregar o equipamento na energia (as aldeias eram abastecidas com baterias solares). Após sete meses, retornaram aos dois locais e descobriram que aquelas crianças, mesmo sem nenhuma instrução, aprenderam a acessar e a utilizar quase todos os aplicativos, além de entender palavras e comandos em inglês (idioma de configuração dos tablets).

Ainda que o estudo não tivesse por intuito detalhar a questão educacional, algumas perguntas são inevitáveis: As crianças aprenderam a responder comandos, mas será que aprenderam o real significado do que estava sendo dito?, será que souberam utilizar o aparelho de acordo com suas necessidades ou se limitaram a fazer somente aquilo que estava disponível? e ainda: será que o ´conhecimento´ adquirido trouxe algo de significativo à realidade delas, possibilitando, assim, uma mudança?

Embora o cenário da pesquisa seja distinto da realidade das Escolas públicas brasileiras, é possível fazer uma análise a partir de um mesmo prisma.

 

Oferecer um computador (ou tablet) a um Aluno ou Professor, ainda que com boa intenção, não significa necessariamente que haverá um bom aproveitamento pedagógico dos mesmos.

Inversão de prioridades

Na opinião do presidente da Associa¬ção Nacional de Pesquisa em Financia¬mento da Educação (Fineduca), José Marcelino Rezende Pinto, as prioridades estão invertidas e o que está implícito é a má gestão dos recursos públicos, o que inviabiliza a eficácia do ProInfo Integrado.

Doutor em Educação pela Universi¬dade de Campinas (Unicamp), ele alerta que não adianta apenas distribuir os equipamentos. “Temos programas semelhantes desde a época do presidente Fernando Henrique Cardoso e nenhum deles trouxe uma grande mudança. O problema é que falta integração na adoção das políticas educacionais”, argumenta.

Para o especialista, o maior entrave está na ausência de gerenciamento do programa. Segundo ele, os equipamentos ficam inutilizados e muitos estragam e não passam por manutenção ou substituição. Isso sem contar a leva que sequer chega ao destino final. “Essa é a realidade de muitos laboratórios de informática espalhados pelas Escolas brasileiras. E se nem os laboratórios o MEC consegue manter, de que adianta inserir os tablets?”, questiona.

Rezende Pinto ressalta ainda que a falta do básico compromete o bom desempenho de uma ferramenta mais avançada, como é o caso dos tablets. Como exemplo ele cita as Escolas da região Nordeste e de outras regiões de clima quente, onde a falta de equipamentos de ar condicionado provoca danos aos equipamentos.

Formação é prioridade

O Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo Integrado) está focado nos Professores do Ensino médio, um pouco diferente de outras ações anteriores que estiveram direcionadas aos Alunos.

De acordo com o Ministério da Educa¬ção (MEC), além da distribuição dos equipamentos, a proposta é oferecer cursos de capacitação a todos os profissionais. Acontece que essa ação ainda não começou nem tem data definida para ter início.

Na opinião do Professor Rezende Pinto, é exatamente a falta de qualificação dos Educadores o principal empecilho para que o programa tenha sucesso. “Uma coisa é esse Professor utilizar o equipamento no seu cotidiano, para situações corriqueiras. E outra, bem diferente, é ele usar os tablets de forma pedagógica e com eficácia”, destaca.

Enfático, o especialista faz questão de ressaltar que não é contra o avanço tecnológico, mas considera essencial investir no Professor nesse momento. E isso inclui não apenas a qualificação como também a remuneração. “Se a principal peça desse processo, que é o Professor, não tiver motivação ou não souber usar uma lousa digital, por exemplo, não adianta nada. É importante que os Educadores estejam capacitados e que tenham acesso a esses recursos, mas ainda hoje temos Escolas feitas de placas de cimento e até sem bibliotecas.”

O pedagogo Hamilton Werneck, especialista em Administração Escolar e orientação educacional, se mostra menos radical. Para ele, apesar da Escola pública ser coberta de anseios, não se pode “nivelar por baixo”. “A Idade da Pedra não acabou por falta de pedra. Elas existem até hoje. Se formos esperar que os Analfabetos acabem, e que os Professores aprendam a lidar com tablets, para só depois usá-los, nunca avançaremos”, defende.

Mas assim como Rezende Pinto, ele concorda que a logística ainda é um desafio a ser vencido. “Há falta de material por questão de falta de prioridades e não por falta de recursos. Há sim, problemas de logística com a distribuição, mas não faltam verbas para esse fim”, considera.

Werneck admite que as Escolas públicas brasileiras estão atrasadas no aspecto tecnológico. Ele lembra que os Alunos de classes sociais mais baixas lotam as lan houses e dominam o computador, mas não foi a sala de aula que os preparou. Para ele, o mesmo acontecerá com os Professores, seja com a distribuição ou não de tablets gratuitos. Por isso, ele acredita em uma ação conjunta, que ataque todos os problemas em frentes diferentes.

Professores goianos receberão tablets até julho

Em Goiás, o Programa Na¬cional de Tecnologia Educacional (Proinfo Integrado) prevê a distribuição de 10.334 tablets, de 7 polegadas, para 7.774 Professores do Ensino médio. O programa prevê ainda a aquisição de 2.560 kits, que incluem tablets de 10 polegadas e lousas digitais.

Segundo o diretor do Núcleo de Reforma Educacional da Secretaria Estadual de Educação (Seduc), David Henriley Pitombeira, a intenção do MEC é de que os computadores portáteis de uso pessoal se tornem ferramentas de trabalho no cotidiano dos Professores. “São equipamentos que devem ser usados para pesquisa, anotações e preparação das aulas etc.”

Pitombeira diz que os investimentos do governo federal em Goiás são de R$ 8.024.143,00, recursos que já estão à disposição da Secretaria Estadual da Educação (Seduc). “O MEC já fez o repasse dos recursos e estamos no processo de aquisição dos aparelhos com uma empresa licitada pelo próprio ministério, que fará a distribuição dos equipamentos em todo o país”, explica.

A previsão de Pitombeira é de que os Professores goianos recebam os tablets ainda no primeiro semestre deste ano. Até lá, a Seduc planeja desenvolver softwares e programas que possam ser trabalhados em sala de aula. Já o curso de capacitação, segundo ele, deverá ser oferecido assim que os aparelhos forem entregues.

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