CEOs das maiores editoras do mundo analisam o presente e o futuro do livro

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Um dos desdobramentos do Ranking Global do Mercado Editorial, feito anualmente desde 2006 pela consultoria Rüdiger Wischenbart Content and Consulting, é o painel que reúne alguns dos presidentes das empresas líderes durante a Feira do Livro de Frankfurt.

 

A edição deste ano, com dois CEOs de empresas internacionais – John Makinson, da Pearson/Penguin, e Arnaud Nourry, da Hachette, e dois das maiores editoras chinesas e russas – Yu Chunchi, da China Education Publishing & Media Group, e Oleg Novigm, da Eksmo, foi realizado na tarde destaquarta-feira, dia 12 de outubro. Empresas brasileiras incluídas pela primeira vez no relatório, que só aceita grupos editoriais com faturamento superior a 150 milhões de euros, foram convidadas, mas não aceitaram o convite.

 

Neste painel-entrevista, os presidentes foram sabatinados por jornalistas da mídia especializada internacional, entre os quais Livres Hebdo, Buchreport, Publishers Weekly e PublishNews, e falaram sobre o livro digital, a situação das livrarias, pirataria e novos mercados a serem conquistados, com Brasil e China no topo da lista. Boas experiências de parcerias internacionais como a da Penguin com a Companhia das Letras e outras frustradas, como a da Hachette com a Escala, também foram abordadas.

 

“O mercado do livro físico está caindo muito rapidamente na América e vai cair muito rapidamente nos outros países também. Mas a leitura não está caindo. Nós só teremos que ser mais inventivos no jeito de entregar esse conteúdo aos leitores”, comentou Makinson, que além de um dos diretores da maior editora do mundo é livreiro independente na Inglaterra, país onde a situação das livrarias é mais dramática. “Temos que fazer algo radical para mudar a relação entre editoras e livrarias e também convencer as pessoas a fazerem uma coisa irracional, que é comprar um livro em uma livraria de rua”.

 

O presidente da Hachette também comentou essa questão e disse que na hora da expansão internacional devem ser evitados países onde o número de redes e de livrarias é pequeno. Por fim, Makinson disse que em lugar nenhum do mundo as livrarias se comparam com as brasileiras em beleza e sofisticação [e por falar nisso, Bob Stein, do Instituto para o Futuro do Livro, ilustrou um dos slides de sua apresentação no TOC – Tools of Change na terça-feira com uma foto da Livraria Cultura do Conjunto Nacional].

 

“Você precisa ver uma criança de dois anos no iPad para ver que tem uma mudança grande acontecendo aqui”, comentou John Makinson. “Mas as pessoas são conservadoras e querem ler a mesma coisa que liam no papel no device. Os enhanced e-book não agradaram. Será que o consumidor vai ficar mais imaginativo no futuro e vai pedir mais enhanced e-books? Ainda não vemos isso”, ponderou.

 

Para Arnaud, as crianças sabem usar as novas tecnologias, mas os professores não querem se modernizar. O chinês Yu Chunchi concordou, e completou dizendo que um dos maiores desafios hoje é prender a atenção da criança no livro enquanto estão estudando. Mesmo assim, ele acredita que o livro didático continuará sendo impresso na China por mais 10 anos justamente por causa dos professores. Por outro lado, algumas escolas já estão pedindo conteúdo digital e outro desafio é ser flexível para oferecer esse material.

 

Mas essa nova era digital não está mudando apenas a etapa de publicação de um livro. Ele tem efeito sobre cada parte do processo, desde o recebimento dos manuais, comentou o CEO da Penguin. Arnaud acredita que haverá crescimento no mercado de e-books por um período de no máximo dois anos e que ele não deve exceder 30% ou 40% do total do mercado. “Mas quanto mais digital é o nosso negócio, mais pirataria haverá e precisamos nos organizar para combatê-la”, disse.

 

Essa também é uma preocupação de Oleg Novigm, que vê o mercado russo decaindo 20% nos últimos meses. O índice de leitura também vai de mal a pior. Enquanto isso, a pirataria aumenta exponencialmente e ele não sabe como resolver isso. O lado bom dos e-books na Rússia é que eles vão ajudar as editoras a chegar mais perto dos leitores, já que a distribuição de livros no país é crítica.

 

O livro digital, acredita Novigm, será responsável por 20% do mercado russo daqui a três anos. Hoje, ele é estimado em US$ 2 bilhões. “Ler livros digitais é coisa da moda para jovens russos”, comentou. Na China, a expectativa é que ele represente 25% dos livros para educação de jovens. Penguin e Hachette preferiram não chutar.

 

Uma experiência feliz, e outra nem tanto

PublishNews – Maria Fernanda Rodrigues

 

Com o crescimento da indústria do livro estagnado nos Estados Unidos e na Europa, Hachette e Penguin, duas das 10 maiores editoras do mundo, estão de olho em outros países.

 

“O desafio é encontrar algum mercado em crescimento, e claro que os BRICS e a África do Sul têm potencial, mas não são mercados fáceis”, comentou Arnaud Nourry, presidente da Hachette. O grupo tem uma subsidiária na Índia (publica lá em inglês e também livros de autores indianos), fez joint-venture na China, onde acaba de lançar primeiro título. Na Rússia, é dona de uma parte da quarta ou quinta, ele não soube precisar, maior editora. Mas não foi feliz no Brasil.

 

 “Tivemos 50% de uma editora de livros didáticos porque no Brasil você tem que estar no mercado de livros didáticos para ser um player. Não tivemos sucesso e desistimos”.

 

Em 2007, a Hachette comprou 51% da Escala Educacional e a brasileira ficou com 49% da Larousse do Brasil, uma das editoras da gigante francesa. “O jeito como apresentam o programa de compras do governo é organizado e muito centralizado. Você tem que criar produtos dois anos antes das seleções. É transparente, mas é político. A escolha era mais em favor de um grupo grande nacional do que em favor de um grupo francês.” O negócio com a Escala foi desfeito depois de três anos.

 

“Para o mercado de livro didático, três anos é um período pequeno”, avaliou Diego Drummond e Lima, diretor geral da Escala Educacional e da Larousse, em Frankfurt. “Havia a expectativa de um crescimento muito grande e a Hachette investiu pesado”. E a brasileira ficou engessada com tanta burocracia.

 

“A Escala perdeu o controle durante esse período. Se tivesse mantido, estaria muito melhor hoje.” Mas a empresa não tem do que reclamar. Pouco mais de um ano depois de comprar o que tinha vendido, a Escala Educacional ganhou uma posição no ranking das didáticas brasileiras (hoje é a 5ª), cresceu 40% no mercado privado, faturou mais de R$ 30 milhões no último PNLD, seu recorde, e criou, em 2010, a editora Lafonte. Hoje, a Larousse é apenas um selo.

 

Voltar ao país não está fora dos planos do presidente da Hachette, que não quis entrar em detalhes sobre o negócio frustrado no país. “Eu realmente adoro o Brasil e ele é um dos países com maior potencial. Se tivermos uma oportunidade de tentar de novo em três ou quatro anos, vamos tentar.”

 

John Makinson teve melhor sorte e está animado com a parceria feita com a Companhia das Letras. Ele disse que está muito satisfeito com a repercussão dos clássicos da Penguin no Brasil e comentou que não imaginava que a marca deles tinha tanta aceitação no país. “Nunca pensamos que revolucionaríamos a indústria do livro no Brasil, mas me impressionei muito quando fui à Flip porque eu, que nunca pensei que os brasileiros já tivessem ouvido falar na Penguin, vi que a marca era um ícone”, declarou ao PublishNews.

 

“Estamos muito satisfeitos com a parceria que temos com a Companhia das Letras. Nós compartilhamos os mesmos valores. Não posso falar nada concretamente porque ainda vou me encontrar com o Luiz Schwarcz, mas acredito que ainda faremos outras coisas juntos”, comentou.

 

 

 

 

 

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