Falta de apoio dos municípios frustrou meta de criação do governo federal. Das 1.126 cidades que receberam kits com livros e estantes, só 215 comprovaram abertura de bibliotecas públicas.
A falta de adesão dos municípios frustrou a meta do governo Lula (2003-2010) de garantir pelo menos uma biblioteca pública para cada cidade brasileira até o final do seu mandato. Embora o governo federal tenha comprado kits com livros e estantes, e distribuído para centenas de prefeituras pelo país, muitas não inauguraram sua biblioteca, seja por falta de interesse ou de espaço para
abrigá-la.
Entre 2008 e 2010, foram distribuídos kits para 1.126 municípios brasileiros. Desses, apenas 215 enviaram documentação comprovando a abertura da biblioteca. O município que recebe o kit deve, como contrapartida, providenciar uma sala e um funcionário.
Para o diretor de Livro e Leitura do Ministério da Cultura, Fabiano Piúba, o número não representa a realidade. Segundo ele, muitas prefeituras inauguram a biblioteca, mas não comunicam ao ministério.
A Folha ligou para cinco municípios que receberam o kit em 2009, mas não enviaram a documentação comprovando sua abertura. Destes, dois haviam inaugurado a biblioteca. Em três cidades, ela não tinha sido implantada.
O Ministério da Cultura considera como implantada a biblioteca que chegou às mãos da prefeitura local. Mas não sabe dizer com segurança quantas abriram de fato, nem quantas foram fechadas. No final do ano passado, o então ministro da Cultura, Juca Ferreira, baixou uma portaria determinando que os municípios que tivessem convênio com o ministério só poderiam receber o repasse se tivessem inaugurado sua biblioteca.
A medida ainda não produziu efeitos práticos. “É muito difícil trabalhar com as prefeituras. Tivemos que mandar funcionários para o Amazonas e Maranhão atrás dos prefeitos, porque alguns se recusavam a enviar a documentação mínima para receber o kit”, diz Ilce Cavalcanti, coordenadora-geral do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas.
OUTRO LADO – Para o presidente da CNM (Confederação Nacional dos Municípios), Paulo Ziulkoski, o programa federal de bibliotecas é subfinanciado. “Seis meses de funcionamento de um prédio com infraestrutura, iluminação e funcionário já daria para comprar esse kit.
O caro é a manutenção”, diz. O problema atinge a principal meta do novo presidente da Biblioteca Nacional, Galeno Amorim, que pretende mpliar o acesso aos livros no país. “O governo federal não tem como chegar em cada cidade. Pretendemos mobilizar personalidades e escritores locais para apadrinhar as bibliotecas”, afirma.