E-books abaixo de zero

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A semana em Nova York começou fria. Ou melhor, gelada. Os termômetros bateram nos -15º na segunda-feira (26), e foi um dos dias mais frios dos últimos anos. Mas nada disso impediu que os 1.200 participantes da conferência Digital Book World, organizada pela F+W Media e pelo consultor Mike Shatzkin, marcassem presença no evento.

 

Entre eles, mais de 30 brasileiros representando empresas como Companhia das Letras, GEN, Gente, Contexto, Saraiva, Callis, Livraria Cultura, Livraria da Vila, Ediouro e Singular, entre outros.

 

O evento abriu as portas na própria segunda-feira com um coquetel, alguns workshops e algumas apresentações comerciais de produtos em uma espécie de pré-conferência. Mas foi na terça-feira que a conferencia começou de fato. De forma geral, as dúvidas e perguntas suplantaram as respostas e novidades. Muitos dos painéis e palestras foram bastante especulativos, e as exceções foram os eventos que trouxeram dados de pesquisas inéditos ou soluções consolidadas.

 

A primeira apresentação plenária foi de James McQuivey, pesquisador da Forrester, que apresentou alguns números obtidos em uma pesquisa entre executivos do mercado editorial norte-americano. Como introdução, McQuivey lembrou que 10,5 milhões de pessoas são proprietárias de um leitor digital e 20 milhões de pessoas leram livros digitais no ano passado. A Forrester prevê que US$ 1,3 bi sejam gastos em ebooks em 2011, contra apenas US$ 1 bilhão em 2010. MacQuivey ainda trouxe uma informação bastante interessante sobre a disputa entre leitores dedicados e leitores multifuncionais: um terço dos proprietários de iPads também tem um Kindle.

 

53% dos executivos pesquisados – que representam 65% do mercado editorial norte-americano – acreditam que as vendas de livros impressos vão cair nos próximos anos. E metade deles prevê que 50% dos livros vendidos já serão digitais em 2014. No entanto, quando perguntados como serão as vendas dos livros que publicam, acreditam, ironicamente, que isto só acontecerá em 2015 em suas empresas.

 

Outro painel bastante interessante colocou no palco Brian Napack, CEO da Macmillan, Jane Friedman, CEO da Open Road e veterana do mercado editorial americano, David Steiberger, da Perseus, e Mike Hyatt, CEO da Thomas Nelson. Conforme o bate-papo fluía entre os executivos, era possível perceber suas preocupações e focos e até identificar algumas tendências.

 

Mike Hyatt lembrou que o atual cenário exige que todo presidente de editora administre duas empresas, uma digital e outra física, e que este é um grande desafio. Napack, por sua vez, dividiu os editores em duas categorias: aqueles mais abertos que correm atrás do que precisam dominar no novo mundo digital e aqueles que insistem em dizer que o digital nunca acontecerá. Ele ainda enfatizou que os editores precisarão de um novo conjunto de habilidades que vão além do que eles têm hoje.

 

Friedman lembrou as 80 mil editoras independentes dos EUA e manifestou sua expectativa de que elas tragam autores e gerem negócios para sua empresa. “Estou cansada de fala das ‘big 6’”, declarou. A discussão também chegou às mídias sociais. “As pessoas agora estão confiando nos amigos para descobrir livros e conteúdo”, afirmou Hyatt. “Não é mais a exposição nas livrarias que vende livros”, completou Friedman.

 

Todos os conferencistas concordaram em relação às livrarias independentes. “Somos otimistas em relação às lojas físicas, mas elas têm o desafio de não se tornarem um show-room para vendas on-line”, afirmou Napack. “A livraria independente é parte de uma comunidade e é sobre comunidades que estamos falando aqui – as livrarias independentes têm feito mídia social muito antes deste nome ter sido inventado”, lembrou Friedman.

 

Outros momentos de destaque do painel foram quando David Steinberger lembrou que livros não são faixas de música e que os dois mercados são 100% análogos e quando Friedman afirmou que “custo zero não é um modelo de negócio, mas um modelo de marketing”.

 

A conferência ainda trouxe algumas pesquisas e as palestras de representantes da Google e da Amazon, com novidades em um ambiente carente de soluções. Abe Murray, da Google Books, informou que já foram baixados mais de um milhão de apps do leitor da Google e três milhões de e-books. Ele também divulgou as categorias mais vendidas e os romances populares são os campeões. Quanto aos parceiros, já existem 5mil editores no programa e 180 revendedores utilizando a plataforma para vender e-books. Russ Grandinetti, da Amazon, trouxe dados limitados mas bastante úteis. O principal deles é que os clientes da Amazon aumentam suas compras de livros em média 3,3 vezes depois de adquirirem um Kindle.

 

Ao final de cada painel, havia sempre um momento de perguntas da platéia. Foi quando alguém disparou: “Vocês só falam de vender livros. E a leitura? Vocês não se interessam se as pessoas lêem os livros, se de fato lêem o que compram?”

 

Com certeza, esta e outras perguntas – e poucas respostas – foi o que a maioria dos participantes do Digital Book World levou na bagagem de volta para casa – caso tenham conseguido deixar Manhattan durante uma das maiores nevascas deste inverno na noite desta quarta-feira (26).

 

 

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