Maria Alice Carraturi Pereira, assessora de Tecnologias na Educação e Educação a Distância da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo e Demerval Bruzzi, diretor de Produção de Conteúdos e Formação de Professores da Secretaria de Educação a Distância do MEC debateram, na última terça-feira, 17 de agosto, durante a 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, a integração de diferentes mídias na realidade escolar atual.

O encontro aconteceu no estande da Abrelivros e teve como moderadora a editora executiva de Língua Portuguesa de Edições SM, Salete Toledo Moreira.
Maria Alice Carraturi Pereira foi quem abriu o terceiro debate promovido pela Abrelivros. Iniciou o bate-papo com a pergunta: Como pensa a nova geração?
Segundo ela, vivemos na era da interatividade, condição bem diferente de alguns anos quando o indivíduo tinha uma relação passiva com a comunicação.
“Hoje a criança não quer só apenas receber, como acontecia antigamente, ela quer interagir. A relação passou a ser de todos para todos.”
Maria Alice afirmou que o mundo digital está mudando a forma como a criança pensa. Esse modo de compreensão está sendo alterado pelas experiências audiovisuais e interativas fornecidas pelas ferramentas digitais online – há caminhos neurais diferentes. Disse, ainda, que essa geração possui o que ela classifica de cérebro borboleta, ou seja, os jovens de hoje possuem ferramentas que os possibilitam fazer muitas tarefas ao mesmo tempo.
A capacidade de desenvolver e realizar múltiplas tarefas tornou essa geração imediatista, ansiosa por informação rápida e em razão disso a imagem ganhou mais importância que o texto.
Ela ressaltou também que enquanto novas competências e habilidades são adquiridas, outras são pouco desenvolvidas, pouco estimuladas ou perdidas.
“A nova geração acerta por tentativa e erro, enquanto nós precisamos consultar um manual para começar a lidar com alguma tecnologia nova, essa geração não tem receios ao mexer com algo novo e aprende rápido, em razão de ter a fala digital como primeira língua. Por outro lado, ela tem dificuldades em executar tarefas que exijam concentração. Também foram afetadas a relação face a face,a realização de exercícios físicos e o contato com a natureza.”
Entende que a escola deve ser conservadora, no sentido de conservar o que é bom, mas deve abrigar e estimular a criação do novo e do revolucionário, introduzindo-o ao mundo velho. Para ela, o que é novo atualmente, certamente, será velho e obsoleto para a geração seguinte.
A assessora dividiu com a plateia uma experiência que está sendo desenvolvida pela Secretaria de Educação em parceria com a USP, Dell e Unesco, em Hortorlândia, interior de São Paulo. As 26 escolas que aderiram ao programa “Escola Interativa” em Hortolândia apresentaram entre outros, os seguintes resultados: alunos que não faziam nada, não participavam das aulas ou eram quietos passaram a se destacar e houve melhora no comportamento de alunos indisciplinados. As pesquisas na internet aumentaram e o arranjo das salas passou a ser em forma de U.

Maria Alice afirmou que é preciso orientar essa geração multitarefa, que o professor precisa ajudar seu aluno a se organizar e ter foco e que a transição para o mundo digital não é tão simples como parece.
Ela acredita que na educação atual há espaço para todas as mídias e todos os recursos devem ser utilizados: livros, internet, áudio, vídeo etc.
Demerval Bruzzi, diretor de Produção de Conteúdos e Formação de Professores da Secretaria de Educação a Distância do MEC abriu sua participação no debate dizendo que a tecnologia domina a comunicação, que ela é atrativa e fácil de entender. Para ele, atualmente, é muito complicado obrigar um aluno a ler uma obra como Dom Casmurro, de Machado de Assis, devido à linguagem distante de sua realidade. Obras sobre vampiros contemporâneos, por exemplo, são mais atraentes e despertam o interesse com mais facilidade num primeiro momento. Chamou a atenção para os cursos atuais de pedagogia, dizendo que são tradicionais e que o professor necessita ser treinado para se adaptar às mudanças.
“É preciso fortalecer o professor, o uso de celular em sala de aula, por exemplo, nada mais é que os bilhetinhos que antigamente circulavam em sala de aula. O professor precisa se adequar a essa nova realidade, não encarar com tanta estranheza. Ele não precisa funcionar como um especialista tecnológico, ele tem que ser especialista no assunto dele e servir como mediador.”
Demerval afirmou que mesmo completamente inserido no mundo virtual, o professor tem dificuldade em criar currículo digital porque, segundo ele, nem sempre o professor tem tempo ou conhecimento suficiente para tal tarefa.
Afirmou também que o Brasil apresenta dificuldades para a implantação do conteúdo digital e a tecnologia disponível atualmente nas grandes capitais ainda não chegou em cidades do norte e nordeste do país. Ele destacou também o Portal do professor, portaldoprofessor.mec.gov.br onde educadores de todo o País podem compartilhar suas ideias, propostas e sugestões metodológicas para o desenvolvimento dos temas curriculares.