O gargalo da formação

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on email

Há uma relação direta entre as dificuldades de contratação de mão de obra especializada em um momento de expansão econômica, retratadas em matéria de capa do JC no domingo, 18, e os últimos resultados da avaliação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que colocam Pernambuco em sétimo lugar entre os nove estados nordestinos.


 

Ou seja, dentro de uma realidade problemática, a qualidade do ensino básico no Estado deixa ainda mais a desejar. Essa relação aparece com maior ou menor intensidade em praticamente todos os setores de nossa economia que vêm experimentando aquecimento nos últimos anos. De engenheiros para montagem industrial a padeiros.

 

Trata-se de um reflexo do gargalo da formação, em que deficiências de aprendizado se acumulam em um sistema educacional de baixa eficiência, e se tornam dramáticas quando a necessidade pede o complemento do ensino técnico para o preenchimento de vagas de trabalho. Os cursos de panificação e confeitaria, como a maioria dos cursos, exigem o segundo grau – e aí o gargalo aparece, em tempos de boom econômico.

 

O resultado é o que temos constatado: a tendência de importar mão de obra para dar conta do acelerado ritmo de crescimento. Em Suape, somente o Estaleiro Atlântico Sul, a Refinaria Abreu e Lima e a Petroquimica Suape contabilizam 4,3 mil operários trazidos de fora de Pernambuco e do País. Se parece muito, a
 expectativa é que será ainda mais. Cerca de 155 mil empregos qualificados serão gerados no complexo de Suape até 2015, de acordo com a Consultoria Ceplan.

 

A demanda por pessoal atropelou a capacidade instalada de formação local, em um estado que possui um quinto da população analfabeta. Por um lado, isso garante o nível em que se espera que a economia possa continuar a crescer. Mas, por outro, reduz os benefícios dos empregos qualificados, que pagam melhores salários, e são deslocados da população residente para os grupos imigrantes convocados pelas empresas em decorrência da escassez de mão de obra preparada aqui dentro.

 

É claro que não se imagina nenhuma reserva de mercado profissional. Mas a naturalidade oficial com que o tema vem sendo abordado é preocupante, por indicar a aceitação do fato como estabelecido. Afinal, para que as oportunidades sejam ocupadas por pernambucanos no futuro, como afirma com otimismo o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Fernando Bezerra Coelho, teremos que passar por uma revolução educacional – que sequer desponta no horizonte. Vide a nossa nota no Ideb e as dificuldades generalizadas de contratação pelas empresas.

Para romper com o círculo vicioso da incapacitação presente, é preciso agir tendo em vista a dimensão urgente da questão.

 

De pouco irão adiantar planos de longo prazo para um problema imediato, bem como remendos de última hora, tradicionalmente reforços de português e matemática, que muitas vezes apenas reforçam a incapacidade primeira de um ensino básico satisfatório. Assim, é preferível a implantação de um modelo educacional que assuma a responsabilidade de travar uma guerra contra a desqualificação funcional – inclusive aquela que ronda as vagas de excelência.

 

É preciso fugir do convencional e buscar experiências de sucesso nesse campo, em outras partes do mundo, como exemplos a serem seguidos com disciplina escolástica. E aproveitar a experiência dos filhos da terra que vêm fazendo o caminho de volta depois de se aventurarem no exterior e em outros estados atrás de melhor condição de vida. Sair do convencional, enfatizamos, inclusive levando em conta outra face do problema: a infraestrutura de ensino.

 

O conhecimento dos professores, em muitos casos despreparados para a missão formadora da maneira que a sociedade precisa, e a disponibilização de locais apropriados para o aprendizado, até no turno da noite, devem ser compreendidos como fundamentais para a aplicação do novo modelo, na escala requerida pelo trem-bala da economia pernambucana. Sob o risco de vermos a maioria de seus assentos preenchidos por pessoas de outros lugares – o que, sem sinal de preconceito, seria uma pena e uma perda para Pernambuco.
 

 

Menu de acessibilidade