Escolas iniciam ensino médio inovador

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Para despertar maior interesse do jovem por esta etapa da formação educacional, o MEC lançou o ensino médio inovador, que começa a ser implantado a partir deste ano em algumas escolas públicas.Há muito fala-se que o ensino médio brasileiro perdeu a identidade.


 

Dividido entre formar o cidadão, preparar para o vestibular e fornecer as bases para iniciação profissional, acabou por não atender de forma satisfatória a nenhum destes objetivos ao longo dos anos. 

 

O período de formação ganhou mais 600 horas, ao passar de 2.400 para 3.000, tempo que os próprios alunos poderão escolher como ocupar a partir de um conjunto de matérias e atividades que fogem ao padrão do currículo comum. Há também outras diretrizes, que buscam enfatizar a parte prática e uma abordagem diferenciada dos conhecimentos.

 

Resta saber se tudo isto vai atingir os pontos que fazem do ensino médio a mais problemática das etapas da educação no país. Até porque os problemas desta fase não se restringem à defasagem de um currículo e de um modo de ensinar que muitos defendem não ser mais adequado aos jovens. Reduzir a evasão e aumentar o rendimento dos alunos exige solucionar um problema anterior, segundo Ruben Klein, pesquisador e consultor da Fundação Cesgranrio.“É preciso melhorar o ensino fundamental. Os alunos precisam chegar mais bem preparados e qualificados no ensino médio.”

 

Outro obstáculo que o projeto não ataca diretamente é a carência de professores no segmento. O último levantamento do MEC, divulgado em 2008, apontava para uma falta de 250 mil profissionais com habilitação específica. E, entre os que possuem a formação, resta saber se a maioria tem condições de, no curto prazo, dominar as ferramentas de aplicação da dinâmica interdisciplinar.

 

“Se não  houver professores preparados, material bom para ser utilizado, não vejo como vai haver mudança. As faculdades estão preparando professores par ensinar isto? As editoras estão elaborando livros para servir de guia?”, questiona Ruben Klein.

 

No começo, inovação para poucos

 

Na fase inicial, uma parcela pequena dos alunos será beneficiada pelas inovações da nova proposta para o ensino médio. Em todo o país, cerca de 400 públicas poderão adotar a proposta. A elas, o MEC ofereceu orientação, formação e recursos.

 

A proposta é aplicar o ensino médio inovador de forma experimental neste grupos de escolas, que inclui unidades de outros estados e instituições como o Colégio Pedro II. Enquanto isto, várias redes terão de conviver com duas realidades: uma válida pela maioria dos colégios, onde predomina o ensino nos moldes tradicionais, e outra em que alguns ganharam condições de oferecer um ensino mais atraente. Na rede estadual do Rio, por exemplo, apenas 16 unidades começarão com o ensino médio inovador. Cada uma, com até 700 alunos, receberá R$50 mil do MEC, sendo R$15 mil para compra de equipamentos e R$35 mil para custear atividades pedagógicas. Entre os critérios para a escolha das participantes, estão a alta evasão escolar, o desempenho ruim dos alunos em avaliações de desempenho e a demonstração de perfil inovador pela direção da escola.

 

Na Secretaria Estadual de Educação, a posição é de que não há problemas no fato de a maior parte dos alunos não ser beneficiada pelas inovações na fase inicial. Segundo nota divulgada, a posição é de que “todo projeto, para ser bem sucedido, deve começar em tamanho reduzido para depois ser ampliado.”O texto informa ainda que a Educação do Rio já tem uma rede com grande diversidade de oferta de cursos e que é esperada uma mudança de cultura intensa por parte das escolas.

 

Ruben Klein também apoia a ideia de iniciar o programa para um número menor de unidades. A dificuldade maior, afirma o educador, será na hora de estender a proposta para o conjunto das escolas, quando a dificuldade de monitoramento cresce e, ao mesmo tempo, cai o controle sobre variáveis como qualificação dos profissionais e condições internas e externas. “Para isto, é fundamental desenvolver material didático para todos. Se todo professor fizer o que quiser não vai dar certo.”

 

Ex-representante da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e doutor em Educação pela Universidade de Stanford, Jorge Werthein aponta mais um ponto que, na sua visão, dificulta a implantação do ensino médio inovador em todas as escolas, além da falta da infra-estrutura necessária na maior parte delas.

 

“Precisamos de professores capacitados que, por sinal, hoje o país não forma em quantidade suficiente. Na área das Ciências, por exemplo, não há docentes para suprir as necessidades do ensino médio”, comenta Werthein, atual vice-presidente da Sangari Brasil. O educador é mais otimista ao avaliar os possíveis impactos do ensino médio inovador. Ele acredita que a proposta pode ter desdobramentos quantitativos, com aumento do número de alunos que buscam e que permanecem no ensino médio. “A reserva de 20% da carga horária para matérias eletivas, escolhidas pelos alunos, também é interessante. Ao mesmo tempo em que se mantém o foco, com 80% da carga horária destinada ao currículo básico, permite-se ao aluno optar por algumas disciplinas com as quais tenha mais afinidade. É uma forma de tornar a escola mais interessante para ele”, completa Jorge Werthein.

 

 

 

 

Diretores se mostram animados com proposta 
 
No final de janeiro, profissionais das escolas receberam a primeira capacitação do MEC para o trabalho interdisciplinar. Desde então os colégios têm realizado reuniões para decidir sobre matérias optativas, atividades complementares e projetos pedagógicos. A partir dos encontros, começam a dar o formato que pretendem ao ensino médio inovador.

 

No Colégio Estadual professor Murilo Braga, em São João de Meriti, os professores devem decidir, nos próximos dias, que disciplinas eletivas serão oferecidas. Entre as possibilidades estão a participação em projetos que envolvam atividades ambientais e na área de expressões artísticas, como teatro, música e canto e literatura.

 

“O mais importante é que o ensino médio inovador cria um processo dinâmico, em que aluno se envolve e se insere de forma plena e onde as disciplinas não sejam trabalhadas de forma  compartimentada”, disse a diretora da escola, professora Angelica Sodré Magalhães Novaes.Ela foi uma das que participou do período de capacitação, realizado na Escola Sesc, no mês passado. A proposta de um ensino interdisciplinar, para ela, não será problema. “As áreas não vão perder a essência de seus conteúdos específicos. Apenas serão trabalhadas sob uma perspectiva interdisciplinar, de forma articulada.”

 

No Colégio Estadual Ayrton Senna, que fica na Rocinha, a equipe de direção, professores e alunos também discutirão as inovações a serem colocadas em prática. Entre as possíveis opções para os alunos, estão atividades que trabalhem a leitura, a matemática do cotidiano, questões relativas à saúde, história étnico-racial, inglês instrumental e projetos na área de gênero e diversidade.

 

A idéia, segundo a diretora-adjunta, professora Maria da Conceição Rodrigues Lopes, é fazer com que a decisão sobre as inovações que a escola promoverá não fiquem restritas ao grupo que participou da capacitação.Ela reconhece que a formação tradicional pela qual passam os professores, onde a interdisciplinaridade não está presente, pode ser um obstáculo. Mas, acredita que, com empenho dos profissionais, a proposta pode ser colocada em prática com êxito. “Diante de qualquer tipo de mudança, temos de saber buscar junto à equipe o melhor que ela pode oferecer. E, no caso do ensino médio inovador, trata-se de algo que estamos querendo para crescer e melhorar. Então, por que não inovar?”, disse a diretora-adjunta, que também é entusiasta do projeto. “O principal benefício que trará, a meu ver, é a formação de um jovem crítico e com os princípios da ética, para a sociedade.”
 

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