Mercado mira agora sistemas de ensino

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Após dois anos de intensas aquisições envolvendo as faculdades, as atenções dos investidores agora estão voltadas para as escolas que possuem sistemas de ensino, ou seja, aquelas que vendem apostilas e metodologias de educação para outras escolas.

O mercado de sistemas de ensino movimenta cerca de R$ 600 milhões por ano, segundo levantamento do sistema Uno. Na área privada, a taxa de crescimento varia de 10% a 35%, dependendo da instituição. Além disso, tem um grande potencial de crescimento na rede pública.

Diante desse cenário, o assédio em torno de grupos com sistemas de ensino só deve aumentar. “Temos recebido propostas dos concorrentes, até porque somos uma empresa sem dívidas. Mas, no momento, não temos interesse em nos unir a outro grupo“, disse Guilherme Fainguenboim, diretor do Anglo, que é um dos mais antigos nesse segmento e atende 300 mil alunos.

“Após as operações da SEB e Kroton, o mercado está olhando atentamente o segmento. Hoje, a rentabilidade dos sistemas de ensino já é superior à das faculdades“, diz Ryon Braga, sócio da Hoper, consultoria especializada na área de educação, referindo-se à compra do Pueri Domus pela SEB e à aquisição de 50% da Kroton pelo Advent no mês passado.

O setor conta com aproximadamente 20 empresas que comercializam apostilas e metodologias de aprendizado, segundo a Associação Brasileira de Sistemas de Ensino (Abrase). Ainda de acordo com a entidade, cerca de 50% das escolas particulares no país já utilizam as apostilas. No Nordeste e Rio Grande do Sul, esse percentual é inferior, cerca de 20%.

Mas é no segmento público que os investidores e as empresas têm apostado suas fichas. Estimativas do mercado mostram que apenas 5% de um total de 25 milhões de alunos de escolas municipais estudam com as apostilas. “Entramos na área pública no ano passado motivados por seu potencial. Investimos de R$ 7 milhões a R$ 10 milhões na Projecta, bandeira voltada para escolas municipais“, disse Alicia Figueiró, vice-presidente da Kroton.

A rede pública tem conquistado cada vez mais espaço. O Objetivo, por exemplo, atende a 287 mil alunos de escolas particulares, área que opera desde 1975. Na rede pública, onde começou há apenas seis anos, já há 139 mil estudantes tendo aulas com o sistema Objetivo.

Porém, essa expansão não tem agradado todos. As editoras de livros didáticos estão incomodadas com a maior presença das apostilas nas salas de aula. Isso porque quando a prefeitura opta por comprar o sistema de sistema, ela precisa abrir mão dos livros distribuídos gratuitamente pelo governo federal. Os municípios têm mostrado interesse pelos sistemas de ensino porque se as escolas públicas da cidade conseguem notas boas em avaliações do governo, como a Prova Brasil, o repasse da verba de educação é maior. Além das apostilas, as empresas de sistemas capacitam os professores da rede pública.

“Já sugerimos ao ministro [Fernando] Haddad que nos paguem um adicional para que as editoras de didáticos também treinem os professores, como fazemos na rede privada“ disse Jorge Yunes, presidente da Associação Brasileira de Livros Didáticos (Abrelivros).

A atenção dos investidores para esse segmento da educação despertou com mais força com os dois grandes negócios fechados no mês passado. O fundo americano de private equity Advent desembolsou R$ 280 milhões para adquirir 50% da Kroton, instituição dona da rede Pitágoras. E, passados menos de 15 dias, a SEB comprou por R$ 41,5 milhões a escola Pueri Domus, que possui um sistema de ensino próprio, e juntou-se aos sistemas COC e Dom Bosco.

Um dos fatores que mais geraram interesse da SEB pelo Pueri Domus foram exatamente suas apostilas, que são distribuídas para 45 mil alunos. “Acreditamos que em cinco anos será possível dobrar o número de estudantes“, disse Marco Rossi, diretor financeiro e de relações com investidores da SEB.

O interesse das empresas vem acompanhado do fato de a SEB e a Kroton estarem capitalizadas para novas aquisições. A SEB tem R$ 100 milhões para novos investimentos e a Kroton, com forte atuação no ensino superior, tem em caixa R$ 200 milhões, podendo chegar a R$ 390 milhões se os acionistas acompanharem o aumento de capital promovido pelo fundo Advent nessa operação.

O setor de sistemas de ensino – que carece de informações precisas – ganha ainda mais força com o atual cenário do ensino superior. Hoje, há poucas faculdades com boa saúde financeira, grande volume de alunos e localização geográfica interessante. Há apenas nove faculdades com mais de 10 mil estudantes que se encaixam nesse perfil. No grupo das instituições com mais de 5 mil matrículas, 28 faculdades operam com essas características, de acordo a Hoper.
 
 
 

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