Indefinição sobre conteúdo do novo Enem preocupa cursinhos

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O formato do novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) está definido: continuará avaliando habilidades e competências dos estudantes e passará a exigir também conceitos teóricos. No entanto, ainda falta o Ministério da Educação (MEC) detalhar como e qual conteúdo será cobrado. Essa indefinição preocupa os cursinhos pré-vestibulares. 
 
“O MEC fala que os Parâmetros Curriculares Nacionais do ensino médio serão a base da prova, mas acontece que o currículo não é nacional. Por exemplo, em Minas Gerais, o currículo de história da rede pública não prevê o ensino de História Antiga, incluindo Grécia e Roma. Como ficam esses alunos se o Enem trouxer alguma questão disso?“, questiona Renato Ribas Vaz, diretor-geral do Curso Positivo. 
 
“Cada local tem uma realidade com diferentes propostas. Em alguns lugares, é cobrada filosofia e, em outros, não“, concorda Tadeu Terra, diretor editorial do material digital do Sistema COC. 
 
A lei federal diz que são disciplinas obrigatórias do ensino médio língua portuguesa, matemática, educação física, filosofia e sociologia. Cabe aos estados definirem os seus currículos. 
 
A proposta apresentada pelo ministério aos reitores das universidades federais sobre o novo Enem fala apenas que serão 200 testes de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias (incluindo redação); Ciências Humanas e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnologias; e Matemática e suas Tecnologias. 
 
Henrique Ferreira Villares, coordenador da unidade de São José dos Campos do curso Poliedro, faz coro aos seus colegas. “Acho a filosofia da proposta perfeita, mas o que causa insegurança nos vestibulandos é a falta de informação do que vai cair, porque o MEC não divulgou exatamente o conteúdo“, diz. 
 
“Esperamos que o MEC consiga fazer o que está prometendo e cobre menos conteúdo do que os vestibulares“, avalia Carlos Eduardo Bindi, coordenador do Curso Etapa. 
 
Preparação  
 
Para familiarizar o vestibulando com o novo Enem, os cursinhos pré-vestibulares pretendem aplicar simulados da prova assim que o conteúdo estiver definido, mas muitos não veem a necessidade de dar aulas específicas. 
 
Além dos simulados, o Curso Intergraus terá palestras informativas. O Curso CPV também acha que não é preciso montar um curso sobre o novo Enem. “Os alunos bem preparados continuarão se saindo melhor. Havendo uma definição, iremos aplicar simulados“, afirma Paulo Lima, coordenador pedagógico da unidade da Vila Olímpia. 
 
O Objetivo também não deverá ter aulas especiais. “Os nossos cadernos são feitos mensalmente. Então, é possível incluir mais questões no estilo do Enem nas nossas apostilas“, diz a coordenadora Vera Lúcia da Costa Antunes. Para ela, a proposta é positiva, mas, no formato apresentado, com 200 testes em dois dias, será muito cansativa para os estudantes. 
 
O Cursinho do XI, que é um curso comunitário fundado pelo centro acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito da USP, pretende ter aulas focadas no exame. “Teremos simulados e algumas aulas à tarde sobre a prova, e, a partir de junho, abriremos um curso específico para o Enem“, afirma a coordenadora Augusta Aparecida Barbosa Pereira. 
 
O Cursinho da Poli está pensando em ampliar o curso de um mês sobre o Enem que ofereceu em anos anteriores. “Nós percebemos que especialmente os alunos da escola pública ainda têm muitas dúvidas“, avalia Alessandra Venturi, coordenadora do curso. 
 
Críticas  
 
Um dos principais objetivos do MEC com a proposta do novo Enem é reorientar o currículo do ensino médio, de maneira que não sejam mais necessários os cursinhos preparatórios, chamados pelo ministro, Fernando Haddad, de “anomalia“. 
 
“O cursinho é uma anomalia criada justamente por uma situação de necessidade de nivelar a baixa qualidade do ensino“, rebate Villares, do Poliedro. “Com essa mudança, o cursinho não vai morrer, mas vai somente se transformar.“ 
 
“Se existe alguma coisa que não tem problemas na educação é o vestibular, selecionam pelo mérito e não apresentam fraudes. Além disso, há muito tempo que os bons vestibulares deixaram de ser decoreba. Em São Paulo, os processos seletivos são muito inteligentes. O que o MEC está fazendo é transferir o modelo paulista para o Brasil“, avalia Bindi, do Etapa. 
 
Ele lembra, por exemplo, que o vestibular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) traz uma tabela periódica na prova de química, o que mostra que “não interessa o acúmulo de conhecimento, mas como o candidato consegue utilizar esse conhecimento“. 
 
“Estão pregando o fim do vestibular, mas, na verdade, será aplicado o maior vestibular do país, pois os candidatos continuarão tendo que fazer uma prova exigente e cansativa“, diz Bindi. 
 
Nicolau Marmo, coordenador-geral do Anglo tem a mesma interpretação. “Isso é pura demagogia. Querem tirar o foco da questão. É muito mais fácil mexer no vestibular. Antes de se voltar para o vestibular, é preciso consertar o ensino básico“, afirma. “Falam o tempo todo que o ensino de cursinho é de decoreba, mas nós ensinamos de acordo com o que o Enem fala, prezando as competências, mas com conteúdo.“ 
 

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