Matemática também é feminina

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Uma questão polêmica defendida em diversos círculos acadêmicos envolve a noção de que as mulheres teriam naturalmente menos facilidade do que os homens para a compreensão da matemática, especialmente em seus níveis mais complexos.

A controvérsia aumentou ainda mais em 2005, quando o então presidente da Universidade Harvard, Lawrence Summers – hoje assessor econômico do governo de Barack Obama –, comentou que a diferença entre os gêneros seria um dos motivos principais para explicar a escassez de professoras de matemática nas principais universidades dos Estados Unidos.

Agora, um novo estudo, que será publicado esta semana no site e em breve na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences, afirma que o motivo maior para a disparidade em relação à compreensão matemática entre os públicos masculino e feminino se deve não a fatores biológicos, mas culturais.

“Não se trata de uma diferença inerente entre homens e mulheres. Há países em que a disparidade entre os gêneros, com relação à performance em matemática, simplesmente não existe, tanto no nível médio como nos mais altos. Esses países tendem a ser os mesmos em que se verificam as maiores igualdades entre os gêneros”, disse Janet Mertz, professora da Universidade de Wisconsin-Madison, autora do estudo junto com Janet Hyde, da mesma instituição.

Após reunir dados de diversas fontes – exames estaduais, olimpíadas internacionais de matemática e o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), entre outros –, as cientistas documentaram um padrão de performance que aponta fortemente para fatores socioculturais como explicação para a disparidade.

O estudo verificou que o padrão tem se alterado grandemente nas últimas décadas e que meninas em níveis mais básicos de ensino passaram a ter aproveitamento semelhante aos dos meninos em exames. No ensino médio, meninas estão tendo aulas de cálculo em taxas similares às dos meninos. Outro ponto é que a proporção de doutorados em ciências matemáticas para mulheres pulou de 5% na década de 1950 para 30% na atual.

“Na média, as meninas estão atingindo a paridade com os meninos nos Estados Unidos e em outros países e a diferença em relação aos gêneros nos níveis mais altos está diminuindo bastante”, disse Janet Hyde.

No novo estudo, as pesquisadoras questionam a validade da hipótese defendida por Summers de que os homens teriam uma variabilidade biológica maior em relação à habilidade matemática. Elas apontam que as notas obtidas por meninas em alguns países e em alguns grupos étnicos nos Estados Unidos variam tanto como as dos meninos.

Segundo elas, a proporção de meninas para meninos com relação à performance em matemática é basicamente a mesma que se verifica na questão das diferenças entre os gêneros no país.

“Se oferecermos às mulheres mais oportunidades educacionais e de trabalho em campos que exigem o conhecimento avançado da matemática, certamente passaremos a encontrar mais mulheres aprendendo e executando muito bem essa área do conhecimento”, disse Janet Mertz.

“Nos Estados Unidos, é comum que os estudantes achem que o talento para a matemática é algo inato. Se alguém não for naturalmente bom na disciplina, não há o que fazer para reverter esse cenário. Mas, em outros países, a própria valorização da matemática é maior e as pessoas correlacionam o aproveitamento nessa área com o esforço”, disse Janet Mertz.

Segundo as autoras do estudo, a diferença em atitude é provavelmente o maior motivo por que as notas médias em matemática de meninas em países asiáticos são maiores do que nos Estados Unidos. E por que filhas de imigrantes desses países, educadas em escolas norte-americanas, tendem a apresentar bom conhecimento matemático.
 
 

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