Acordo altera só 0,5% das palavras no Brasil

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O Acordo Ortográfico, que entrou em vigor no dia 1º, muda uma pequena parcela do vocabulário brasileiro -apenas 0,5%- e 1,5% a 2% das palavras do vocabulário lusitano, que é seguido por países africanos de língua portuguesa (Moçambique, Angola, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau), além de Timor Leste.  
 
Por isso, especialistas acreditam que a adaptação dos brasileiros às novas regras não será tão complexa. “É tão pouca coisa [que muda para o brasileiro], que eu não acho que vá causar problemas“, afirma Carlos Alberto Faraco, doutor em linguística e professor da UFPR (Universidade Federal do Paraná).  
 
Apesar de já ter entrado em vigor, o texto do Acordo ainda deixa algumas dúvidas. Acadêmicos apontam como uma falha o governo federal ter iniciado o processo de implementação do Acordo antes de ter publicado o Volp (“Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa“), que registra a forma oficial de escrever as palavras. Ainda não foi definida a grafia correta de palavras como “coabitar“ -se continuará assim ou se será “co-habitar“.  
 
De acordo com o Ministério da Educação, o Volp deve ser publicado entre o final de fevereiro e o início de março. Portanto, quem quer aprender as novas regras logo deve tomar cuidado com dicionários publicados recentemente e corretores ortográficos que já podem ser baixados na internet, já que não se sabe como ficarão alguns vocábulos. Atualmente, há cerca de 240 milhões de pessoas que falam a língua portuguesa no mundo.  
 
 
 
Jovem aprende mais rápido, diz docente  
Folha de São Paulo – Luisa Alcantara e Silva 
 
Professora da Unesp de Araraquara e autora de nove livros de gramática e de seis dicionários, Maria Helena Moura Neves acredita que o tempo de adaptação às novas regras para os jovens será curto. Ela diz também que “as mudanças não vão poder ser desculpa para mau desempenho ortográfico nos vestibulares“. Leia trechos da entrevista. 
 
FOLHA – Qual é o tempo necessário para um jovem que ainda está na escola se adaptar?  
MARIA HELENA – Vai ser muito rápido, naquilo que está regrado sem margem de dúvidas: sai um acento aqui e outro ali, retira-se o trema.  
 
FOLHA – Para um jovem que está indo para o último ano do ensino médio, será fácil se adaptar até os vestibulares do meio do ano?  
MARIA HELENA – Em primeiro lugar, os vestibulares serão irracionais se se fixarem nos pontos obscuros do texto do Acordo. Quanto às regras inequívocas, foi muito pouco o que mudou. E, na verdade, a maior parte dos problemas que os vestibulandos têm com a ortografia diz respeito a outras questões que não as que foram objeto de mudança: por exemplo, o uso de s ou ss ou ç; o uso de x ou ch. As mudanças não vão poder ser desculpa para mau desempenho ortográfico nos vestibulares. Além disso, há um prazo escalonado legalmente (até 2012) para a vigência absoluta das regras no Brasil.  
 
FOLHA – Os jovens devem se adaptar mais facilmente às mudanças que pessoas mais velhas? Por que isso acontece?  
MARIA HELENA – Obviamente, vão se adaptar primeiro as pessoas mais inseridas em situação de contato com a escrita e com atividades ligadas à produção linguística. Como essa é, pelo menos em tese, a situação escolar, é de se esperar que haja proporção maior de jovens do que de pessoas mais velhas com a adaptação facilitada.  
 
FOLHA – O que as pessoas podem fazer para se acostumar às mudanças?  
MARIA HELENA – Não houve nenhuma revolução no trato comum das pessoas com a língua portuguesa, nem mesmo com o modo de escrever. Lembro que uma das acusações que se tem feito ao Acordo é que ele é “tímido“. Ora, esse adjetivo nada mais quer dizer do que o seguinte: nada mudou na essência, as mudanças são poucas e pouco profundas. Assim, acostumar-se a elas vai ser muito fácil para as pessoas inseridas em situações de letramento, e, nos dias de hoje, estamos expostos a textos escritos em todas as horas do dia. O difícil vai ser decidir os casos mal resolvidos no texto do Acordo, mas aí já entraríamos no mérito do documento.  
 
FOLHA – A senhora é a favor da reforma? Por quê?
MARIA HELENA – Sou a favor daquilo que você está chamando de reforma, não por se tratar de uma reforma da nossa ortografia, mas por constituir um acordo ortográfico entre os países de língua portuguesa oficial. É óbvio que, para fazer o Acordo, foi necessário que fizessem mudanças, ou seja, reforma. Em outras palavras, não são as mudanças em si que eu defendo, mas o fato de ter sido empreendida uma unificação da ortografia na comunidade de países que têm a língua portuguesa como língua oficial.  
 
 

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