Biblioteca em falta para um milhão de alunos

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on email

As letras deveriam estar em destaque, mas são os números que chamam a atenção quando o assunto é biblioteca escolar: no Estado do Rio, 40% dos alunos do ensino fundamental estudam em escolas que não têm bibliotecas, ou seja, 984.789 estudantes não podem pesquisar nem pegar livros emprestados no colégio onde estudam. A situação hoje é ainda pior do que em 1997, quando apenas 26,9% dos alunos estudavam em escolas sem bibliotecas.  
 
E as bibliotecas das escolas também nem sempre são o ambiente ideal para incentivar o hábito da leitura. Acompanhada da bibliotecária Maura Esandola Tavares Quinhões, professora da Escola de Biblioteconomia da Universidade do Rio de Janeiro (Uni-Rio), uma equipe do GLOBO visitou as bibliotecas de oito escolas públicas e particulares na semana passada, para avaliar suas condições. De acordo com educadores, o aumento do percentual de escolas sem biblioteca contribui para a redução do acesso à leitura, justamente na fase em que o aluno deveria ser incentivado a ler. Os dados, divulgados recentemente, fazem parte do estudo “Geografia da Educação“, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) do MEC.  

Acesso aos livros nem sempre é liberado a alunos  

Em relação ao ensino médio, os números também desapontam: 17,7% dos estudantes, ou seja, 125.271 alunos, estão matriculados em escolas que não têm bibliotecas. Parte deles estuda na rede estadual de ensino. De acordo com Gloria Roland, subsecretária adjunta de planejamento pedagógico da Secretaria estadual de Educação, cerca de 10% das 1.925 escolas estão nessa situação:  
 
— Gostaríamos que 100% das escolas tivessem biblioteca. A leitura é a base para o cidadão desenvolver o senso crítico. As escolas devem incentivar trabalhos de pesquisa, que podem ser feitos com a ajuda de bibliotecas volantes.

Carlos Henrique de Araújo, diretor de avaliação da educação básica do Inep, usa dados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) para mostrar que um aluno com acesso fácil aos livros rende mais: na avaliação de 2001, em língua portuguesa, os estudantes da 4 série de escolas com bibliotecas tiveram média de proficiência (ou seja, capacidade, habilidade) de 172 pontos, 20 pontos a mais do que os alunos que não têm biblioteca no colégio. Carlos Henrique ressalta que tão importante quanto ter uma sala cheia de livros é criar projetos de leitura para os alunos:  
 
— A situação é calamitosa. Os alunos não aprendem a ler. Os adolescentes de hoje têm dificuldade para interpretar, seja um livro, uma tabela ou um texto publicitário. Muitos são filhos de pais semi-analfabetos e a escola precisa incentivar o hábito da leitura. Nas visitas feitas a pedido do GLOBO, a bibliotecária Maura Esandola Tavares Quinhões constatou que nem sempre o cenário encontrado é o ideal. No Colégio Santo Antônio Maria Zaccaria, no Catete, e no Liceu Franco-Brasileiro, em Laranjeiras, por exemplo, a oferta de livros é variada, mas são as bibliotecárias ou as auxiliares que pegam os volumes para os alunos.  

No Franco, onde as estantes também são muito altas (mais de dois metros de altura), a diretora pedagógica, Celuta Reissmann, diz que nos horários de menor movimento os adolescentes podem mexer nas prateleiras. E, segundo ela, a escola desenvolve regularmente projetos de leitura. Por falta de pessoal — há somente uma bibliotecária — a sala do Colégio Estadual Infante Dom Henrique, em Copacabana, fica fechada em alguns horários. Aluno do 2 ano do ensino médio, Marcos Vinícius Soares lamenta: 
 
— Nem sempre dá tempo de pesquisar fora da escola.  

Equipe reduzida não é o único problema da Infante Dom Henrique. A bibliotecária da unidade, Sylvia de Castro e Costa, faz uma caixinha com o dinheiro que recebe da multa por atraso na entrega de livros para comprar mais volumes, em sebos. Também foi ela quem fez, com cartolina, as placas que separam os títulos por área de conhecimento.  
 
Por enquanto, as turmas de ensino médio não são contempladas pelos programas nacionais do Livro Didático (PNLD) e da Biblioteca Escolar (PNBE), do MEC, que beneficiam apenas séries do ensino fundamental. Em 2003, o PNDL terá recursos de R$ 550 milhões para comprar livros didáticos de 1 a 4 série. Já no PNBE serão investidos R$ 20 milhões na compra de coleções para as bibliotecas escolares e para os alunos da 4 série. As bibliotecas do Colégio de Aplicação da UFRJ, na Lagoa; da Escola Técnica Estadual Ferreira Viana, no Maracanã e do Colégio Metropolitano, no Méier, também foram avaliadas por Maura, que apesar de não ver problemas nelas, sentiu falta de projetos desenvolvidos pelos funcionários da biblioteca:  
 
— É função do bibliotecário desenvolver atividades para chamar a atenção do aluno. Ele não pode ficar esperando a iniciativa dos professores. Nas escolas municipais, duas realidades diferentes: na George Pfisterer, no Leblon, as prateleiras das salas de leitura estavam sem identificação dos livros. Na Oswald de Andrade, em Anchieta, as crianças são estimuladas desde cedo a ter o hábito da leitura. — Livro é o máximo. Alguns têm histórias tristes, mas às vezes acabam com um final feliz — diz Jupiara dos Santos, do 3 ano do ensino fundamenta. 
 

Menu de acessibilidade