No escritório de Monteiro Lobato

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A fim de analisar sob múltiplos aspectos a obra literária de Monteiro Lobato (1882-1948), um grupo de pesquisadores mergulhou durante quatro anos no acervo documental deixado pelo escritor. 
 
O projeto forneceu elementos para uma reflexão inédita sobre o processo criativo, a linguagem, as ilustrações e os conceitos editoriais de Lobato, possibilitando uma releitura completa de toda a sua obra infantil. 
 
Os resultados da pesquisa chegam agora ao público com a publicação da coletânea Monteiro Lobato, livro a livro: Obra infantil. O livro foi organizado por Marisa Lajolo, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade Mackenzie e secretária da Educação de Atibaia (SP), e por João Luís Ceccantini, professor da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Assis (SP). 
 
O estudo, que envolveu mais de 15 pesquisadores, foi um Projeto Temático apoiado pela FAPESP sob coordenação por Marisa, que é autora de Monteiro Lobato: um brasileiro sob medida (2000) e outros livros sobre o escritor paulista.
 
Uma das constatações feitas a partir da pesquisa, segundo Marisa, é que o processo de produção literária de Lobato se baseava em reescrever constantemente as obras, trabalhando o texto arduamente. 
 
“Lobato reescreveu suas obras até o fim da vida. A análise de seu processo de produção liquida a idéia de que a redação de um livro tem um fim definido. Ele nos ensina que, quando acabamos de escrever um livro, ele está apenas pronto para ser reescrito. Isso enfraquece muito a idéia da inspiração e traz a produção literária para uma base extremamente material”, disse Marisa à Agência FAPESP.
 
O projeto teve início a partir de uma farta documentação doada à Unicamp pela família de Lobato. São quase 2 mil itens que pertenceram ao autor, incluindo fotos, desenhos, livros, cartas e documentos editoriais e escolares. 
 
“Esse material resultou em uma dezena de estudos de mestrado e doutorado, que levaram ao projeto do livro. A obra é extremamente inovadora, porque aborda Monteiro Lobato por meio de cada uma de suas obras e revela seu processo de produção literária”, disse Marisa. 
 
Em cada capítulo do livro, um pesquisador analisa um livro infantil de Lobato. Há ainda capítulos exclusivamente dedicados à linguagem, à ilustração e à intensa atividade de Lobato como editor. 
 
“O incrível senso de modernidade do autor e sua preocupação com as questões sociais é o que chama a atenção de modo geral em todas as análises. Toda a literatura dele é comprometida tanto com a modernidade cultural como com a melhora da qualidade de vida da população brasileira”, ressaltou.  
 
Making of dos livros 
 
O livro é destinado a diferentes públicos. “Pelo tipo de informação que traz , ele será muito útil para aqueles que desejam seguir a carreira literária. O livro funciona como uma verdadeira visita ao escritório de Lobato. É uma espécie de ‘making of’ de seus livros”, disse Marisa. 
 
Outro público-alvo são os leitores de Lobato. “O livro resgata as lembranças de infância de várias gerações. Notamos que a reação do público é de encantamento, principalmente ao rever as ilustrações que estavam presentes nas primeiras edições de seus livros”, afirmou. 
 
A obra será também útil às escolas. “É uma oportunidade para que os professores mostrem em sala de aula tanto os procedimentos modernos de sua obra como seu trabalho de reescritura sucessiva, que desmistifica a idéia de que para escrever é preciso ter algum tipo de inspiração ou talento nato”, afirmou. 
 
Marisa afirma que o livro é também um ponto de partida para novas pesquisas. “O livro poderá mudar o patamar dos estudos sobre Monteiro Lobato. Vamos parar de dizer que ele é ótimo e finalmente discutir as razões pelas quais ele é ótimo. O livro é uma grande coleção de sugestões de pesquisas”, disse. 
 
A professora destaca que os direitos autorais do livro pertencem à Unicamp. “Achamos importante que os lucros fossem revertidos à instituição pública que tem o ônus da guarda do acervo do autor”, disse. 
 
Marisa defende que os documentos sob a guarda de instituições públicas possam ser acessados pelo público sem qualquer restrição. “A Unicamp tem se empenhado muito nesse sentido, garantindo total acesso dessa documentação. Afinal, a guarda do acervo de Lobato onera a instituição pública e é um patrimônio cultural coletivo que precisa ser divulgado”, afirmou. 
 
Grande parte dos documentos do acervo de Monteiro Lobato está disponível desde 2007 no site www.unicamp.br/iel/monteirolobato
 

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