Brasileiro prefere a locadora de vídeos à biblioteca

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“Se houvesse demanda maior, as tiragens também seriam maiores e o preço unitário, logicamente, cairia.“ 
Wander Soares 
 
Na entrevista exclusiva que concedeu à Integração Econômica, o presidente da Abrelivros – Associação Brasileira dos Editores de Livros, Wander Soares, revelou critérios para fixação do preço do livro e explicou a falta do hábito de ler do povo brasileiro. Revelou também os nomes dos três maiores autores brasileiros (mais lidos) de todos os tempos. 
 
Soares disse que o brasileiro lê pouco pela dificuldade de acesso ao livro, referindo-se ao cidadão de nível médio. Acrescentou que o brasileiro também tem pouco acesso à alimentação adequada, ao teatro, ao cinema e às atividades de lazer em geral. Se ele quisesse realmente ler, iria a uma biblioteca, onde há livro para ler gratuitamente. Mas, existe uma alegação muito forte: as bibliotecas são poucas e distantes. “O brasileiro não tem o hábito de pertencer a uma biblioteca: de ser fichado, ter seu cartãozinho para retirar e depois devolver. Ele prefere ser fichado numa locadora de vídeo“ , disse. 
 
Em seguida, apresentou o segundo motivo: o brasileiro é um povo de forte tradição oral. Prefere conversar e ouvir assuntos, em vez de pegar um livro e fazer aquele exercício solitário de ler sobre o tema que quer conhecer. Esse procedimento traz certa superficialidade do conhecimento, porque se abastece de informações pelas bordas. 
 
Essa tradição oral talvez tenha sua origem nos nossos tempos de criança, quando algum adulto nos conta histórias, em vez de por um livro em nossas mãos. 
 
Procuramos saber de Soares, que também é diretor da Editora Saraiva, como fazer para baratear o preço do livro. Ele disse que existem várias respostas para essa questão. A mais fundamentada, nos pareceu, foi a baixa tiragem dos livros no Brasil. Ele acrescentou: “Se houvesse demanda maior, as tiragens também seriam maiores e o preço unitário, logicamente, cairia.“ E o economista Soares entrou em cena: “Assim, entramos, pois, numa economia de escala.“ 
 
Outra resposta para a mesma questão: esse preço alto do livro no Brasil é relativo. Se transformado em dólar, o preço do nosso livro é ridículo, diante do preço do livro estrangeiro. E ele mesmo contra-argumenta: “Pode-se dizer, vê o salário daqui e vê o de lá.“ 
 
Ele reforça que o brasileiro tem a percepção de que o livro é caro. E completa: “Principalmente aquele livro cuja compra é obrigatória. Livro didático, por exemplo, que os pais precisam comprar para os filhos. É sempre a mesma coisa, no início do ano letivo.“ 
 
“Um país se faz com homens e livros.“ 
Monteiro Lobato 
 
Como consta que o livro no Brasil, de certo modo, é vendido a peso, ou seja, quanto mais páginas, mais caro, pedimos que o presidente da Abrelivros nos esclarecesse. Obviamente, ele não confirmou, mas disse que o livro que consome mais papel é mais caro, embora ressalvando que nem sempre o preço é proporcional ao número de páginas. Aí, deu o exemplo atípico do livro que tenha consumido muito dinheiro numa tradução técnica e depois passado por revisão especializada, além de ter sido feito em capa dura, com cores nas páginas etc.: “Este livro certamente vai custar muito mais caro que outro mais simples.“ 
 
Mas, da nossa conversa ficou este saldo: se juntarmos dois livros com as mesmas características materiais, mesmo número de páginas, custarão quase o mesmo preço, mesmo que um autor seja famoso e o outro um ilustre desconhecido. 
 
Para tornar mais amena a conversa, procuramos saber do presidente da Abrelivros qual o autor brasileiro mais lido, depois de Paulo Coelho. Aí, ele extrapolou. Disse que, em todos os tempos, temos de considerar três autores: Machado de Assis, que é traduzido e lido no mundo inteiro; Jorge Amado, que tem enorme sucesso mundial; e Paulo Coelho, que é fenômeno mais recente (O Alquimista, por exemplo, já deve ter vendido quase dois milhões de exemplares). 
 
Na parte final da entrevista, conversamos sobre a Bienal do Livro. Ele explicou que, em termos de Brasil, ela é anual, pois, nos anos pares, acontece em São Paulo; nos ímpares, no Rio de Janeiro. Mas lembrou que em quase todas as capitais brasileiras existe uma feira de livros e mencionou a de Belo Horizonte, a de Porto Alegre e a de Recife 

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