Portugal aceita unificação ortográfica

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Portugal aprovou na sexta, 16, o acordo que unifica a ortografia em todos os países de língua portuguesa. Segundo decisão do parlamento português, as mudanças deverão entram em vigor dentro de seis anos. 
 
Apesar dos protestos de intelectuais e políticos promovidos nas últimas semanas, apenas 3 dos 230 parlamentares votaram contra. A principal crítica ao acordo, levantada pelo partido Centro Democrático Social (CDS), é que ele representa uma concessão aos “interesses brasileiros“. “A língua portuguesa é o maior patrimônio que Portugal tem no mundo“, afirmou o deputado Mota Soares. 
 
Uma das iniciativas que geraram maior mobilização foi um abaixo-assinado na internet, iniciado no dia 2 de maio, que recolheu mais de 35 mil assinaturas. Mas dois deputados que encabeçaram a petição na internet contra o acordo – Zita Seabra e Vasco Graça Moura – não estavam no plenário na hora da votação. Zita alegou que, como é editora, havia conflito de interesses. 
 
O QUE MUDA 
 
Segundo o acordo – assinado em Lisboa em 1990 e já ratificado pelo Brasil e outros dois países de língua portuguesa -, a norma escrita em Portugal terá 1,42% das suas palavras modificadas. No Brasil apenas 0,43% das palavras mudam. 
 
Para os portugueses, caem as letras não pronunciadas, como o “c“ em “acto“ e “director“, o “p“ em “Egipto“ e “óptimo“, o acento que distingue o pretérito perfeito do presente (em Portugal escreve-se “levámos“, no passado, e “levamos“, no presente). A utilização do hífen também será uniformizada (mais informações nesta página). 
 
Apesar do acordo, continuará a haver diferenças no português dos dois lados do Atlântico. Os portugueses vão continuar a escrever “António“ e “género“ com acento agudo, enquanto no Brasil fica o circunflexo. Também vão manter o “c“ em “facto“, porque “fato“ em Portugal é roupa – e tiram o “p“ que não pronunciam na palavra “recepção“. 
 
NEGÓCIOS 
 
A presidente da Câmara Brasileira de Livros (CBL), Rosely Boschini, recebeu bem a decisão do parlamento português. “A unificação da escrita vai fortalecer a língua portuguesa“, afirma. “Além disso, abrirá um novo mercado para as editoras brasileiras.“ Questionada sobre o potencial risco que as empresas portuguesas podem representar para o mercado de livros no Brasil, Rosely aposta na produção editoral do País. “Nossas editoras estão bem evoluídas. A concorrência vai ser difícil para os portugueses aqui.“ 
 
Sérgio Molina, editor e tradutor da Editora 34, lembra que o acordo pode abrir a África para os brasileiros. “Até agora, (os países africanos) são como uma reserva de mercado de Portugal, pois adotam a mesma ortografia. Com a padronização, as editoras brasileiras, especialmente as maiores, terão mais facilidade para entrar lá“, afirma.  
 
Mesmo assim, Molina lembra que o “maior abismo“ entre o português do Brasil e o de Portugal não é a ortografia, mas “a gíria, o fraseado, o léxico“. “Não vamos vender traduções de literatura inglesa para os portugueses, por exemplo“, avalia. 
 
DIDÁTICOS 
 
O diretor presidente da Associação Brasileira de Editores de Livros, Jorge Yunes, considera positiva a aprovação do acordo pelo parlamento português, mas ainda é cético quanto aos impactos comerciais da medida para os livros didáticos. “O currículo escolar é muito diferente de um país para outro. Seria necessário uma unificação curricular para que entrássemos em outros mercados“, aponta. “Quanto aos outros livros, precisaremos de grande capacidade comercial, porque as editoras portuguesas também são muito boas.“ 
 
Em Portugal, esta semana saíram os dois primeiros dicionários portugueses que já incluem modificações previstas. “Tínhamos certeza de que o acordo seria aprovado“, diz Paulo Gonçalves, porta-voz da Porto Editora. Mas Gonçalves chama a atenção para a resistência dos dois maiores países africanos de língua portuguesa às mudanças: “Há sinais evidentes de que por parte de Moçambique e Angola o acordo ortográfico não vai ser bem acolhido pelas autoridades.“ 
 
Ainda em sua avaliação, o acordo não aproxima o português falado em Portugal do falado no Brasil. “Tenho dúvidas de que vá levar a uma aproximação.“ 
 
No Brasil, o acordo deve entrar em vigor já em 2009 – só depende da assinatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Ministério da Educação enviará a Lula nos próximos dias minuta de decreto com essa previsão.  

Parlamento português aprova acordo ortográfico
Folha de São Paulo – Angela Pinho, Johana Nublat

O parlamento português aprovou na sexta-feira, 16, o acordo ortográfico da língua portuguesa já ratificado por Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.

Em tese, mesmo sem a aprovação de Portugal, as novas normas já estariam em vigor no Brasil, porque para isso bastam as assinaturas de três países da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa).

A implantação da reforma ortográfica, porém, estava sendo adiada devido à não-adesão de Portugal. Agora, o país europeu estabeleceu um prazo de seis anos para a adaptação de livros e provas de concurso público, entre outros.

O acordo foi firmado em 1990. Em 1995, o Congresso brasileiro o aprovou. Agora, a implantação definitiva depende só de um decreto do presidente Lula, ainda sem data.

O MEC (Ministério da Educação) informou, via assessoria de imprensa, que, na semana que vem, o ministro Fernando Haddad irá procurar o seu par no governo português para definir um cronograma conjunto.

No Brasil, porém, o prazo de adaptação será mais curto. Recentemente, o MEC determinou que, em 2010, os livros didáticos de escolas públicas já terão de estar adaptados. As editoras podem começar a mudança já no ano que vem.

O ministério irá definir também um cronograma para a implantação das novas regras em outros suportes, como livros de literatura e dicionários.

Entre as novas regras, estão o fim do trema, do acento agudo nos ditongos abertos “ei“ e “oi“ em palavras paroxítonas, como “idéia“ e “jibóia“, e do acento diferencial para distinguir o verbo “pára“ da preposição “para“. Também deixarão de existir consoantes mudas ainda usadas em Portugal (“óptimo“).
A reforma causou polêmica em Portugal. Nesta semana, um abaixo-assinado contrário a ela obteve 33 mil adesões.

Um dos motivos para que Portugal demorasse a aprovar o acordo, que é de 1990, foi a pressão das editoras nacionais, que tinham medo de perder mercado para as brasileiras.

Editoras brasileiras ouvidas pela Folha, porém, dizem que ainda há dificuldades para entrar nos mercados africano e português, como as diferenças de vocabulário e de currículo.

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