Ensino fundamental atinge meta de 2009

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O aumento das médias dos alunos, especialmente em matemática, e a diminuição da reprovação fizeram com que, de 2005 para 2007, o país melhorasse os indicadores de qualidade da educação. O avanço foi mais visível no ensino fundamental. No ensino médio, praticamente não houve melhoria. 
 
Os novos dados a respeito da qualidade da educação brasileira foram apresentados ontem pelo MEC (Ministério da Educação) em Brasília na divulgação do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Brasileira). Trata-se de um indicador que leva em conta tanto o aprendizado dos alunos, medido em testes de matemática e português, quanto os percentuais de aprovação. 
 
Numa escala de zero a dez, o ensino fundamental em seus anos iniciais (da primeira à quarta série) teve nota 4,2 em 2007. Em 2005, a nota fora 3,8. Nos anos finais (quinta a oitava), a alta foi de 3,5 para 3,8. No ensino médio, de 3,4 para 3,5. 
 
Embora tenha comemorado o aumento da nota, ela ainda foi considerada “pior do que regular“ pelo ministro da Educação, Fernando Haddad. 
 
É por meio do Ideb que o MEC monitora as metas de melhoria da qualidade estipuladas até 2022. O objetivo é chegar às médias dos países desenvolvidos -6 na quarta série, 5,5 na oitava e 5,2 no ensino médio. 
De dois em dois anos, há uma meta intermediária. Para 2007, as metas do Brasil foram superadas, e o país já atingiu, inclusive, a de 2009, que era de 4,2. 
 
No caso do ensino fundamental, o avanço é coerente com outras avaliações do MEC, que, em 2005, já identificavam uma melhoria, ainda que tímida, no desempenho da quarta série. Já no ensino médio, os resultados não foram tão positivos, mesmo considerando que as metas de melhoria eram bastante tímidas nessa fase. 
 
Quando se analisa cada Estado, dez não conseguiram atingir suas metas: Rio Grande do Sul, Piauí, Pernambuco, Rio, Alagoas, Goiás, Amapá, Pará, Espírito Santo e Sergipe. Nos três primeiros, o índice ficou estável. Nos últimos, piorou. 
 
Uma análise menos superficial nos dados do ensino médio mostra que o Ideb desse nível só melhorou de 3,4 para 3,5 por causa de um avanço, bastante modesto, no percentual de estudantes aprovados. 
 
Esse percentual variou de 2005 para 2007 de 77,2% para 77,8%. No que diz respeito ao desempenho dos alunos em matemática e português (a segunda dimensão levada em conta no Ideb), a nota do ensino médio ficou estável em 4,4. 
 
Matemática 
 
A melhoria do ensino fundamental é explicada principalmente pela nota em matemática. Na disciplina, a média foi de 4,7 para 5,1, na quarta série, e de 4,7 para 4,9, na oitava. Em português, os avanços foram menores: de 4,5 para 4,6, na quarta, e de 4,4, para 4,5 na oitava. 
 
Outro fator que contribuiu para o desempenho melhor no ensino fundamental é que a população com idade adequada para esse nível (sete a dez anos) está estável e com tendência de diminuição -pela queda nas taxas de fecundidade. O percentual de crianças fora da escola nessa faixa etária desde 2002 está abaixo de 3%. 
 
O mesmo não ocorre no ensino médio, onde há 18% da população de 15 a 17 anos fora da escola e outros 34% estão atrasados (ainda no fundamental). 
 
 
 
Para Haddad, exame fez escolas se preocuparem  
 
O ministro da Educação, Fernando Haddad, atribuiu parte da melhoria do Ideb à divulgação dos indicadores educacionais por escola e por município, que começou durante a sua gestão. 
 
Para ele, essa divulgação fez com que as escolas tivessem um diagnóstico mais preciso dos problemas e passassem a se preocupar com o que era cobrado nos exames nacionais, por exemplo. 
 
“O casamento entre o que se ensina e o que se avalia pelos exames nacionais foi essencial“, disse o ministro ontem em entrevista coletiva, acrescentando que os resultados irão pesar nas eleições municipais deste ano. 
 
As primeiras notas divulgadas por Estado e por escola foram as do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2005, no ano seguinte, sob a gestão de Haddad e de Reynaldo Fernandes, atual presidente do Inep – o instituto que consolida os resultados. 
 
O ministro diz ter sofrido pressão, dentro e fora do MEC, para que os resultados não fossem divulgados. Ele chegou a comparar a divulgação a um ato de “coragem“. 
 
“Não só houve uma resistência enorme como uma incredulidade se o MEC teria coragem de fazer [os resultados individualizados] e divulgar metas“, afirmou. 
 
No ano passado, após a divulgação pelo MEC das notas por Estado do Pisa -exame internacional de leitura, ciência e matemática-, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), acusou o ministro de fazer uso político dos dados. Na ocasião, Haddad havia dito que esperava um resultado melhor do Estado do governador tucano. 
 
“Melhor dos mundos“ 
 
Haddad afirmou que a queda na repetência e a melhora nas notas são “o melhor dos mundos“. 
Ele comemorou o que considerou uma “reversão do processo histórico“ de piora nos indicadores educacionais, que ocorre desde 1995. Evitou, porém, dizer se isso é permanente. “A avaliação precisa mostrar consistência no tempo.“ 
 
 
Em retrospecto, dados não são tão bons assim
Antônio Gois 
 
A melhoria no desempenho dos alunos do ensino fundamental de 2005 para 2007 é bem-vinda, mas deve ser celebrada com moderação. 
 
Olhando em retrospectiva, os avanços recentes nem sequer são suficientes para nos colocar, em termos de qualidade, no patamar -já lamentável- que estávamos em 1995. 
 
Ontem, o Ministério da Educação concentrou a divulgação do Ideb no período de 2005 a 2007. Faz sentido, já que o indicador foi criado no ano passado para monitorar as metas estipuladas até 2022. É, portanto, um índice que olha para o futuro. 
 
Esse olhar para o passado, porém, pode ser feito considerando apenas as médias dos alunos nas provas de português e matemática -o Ideb, além de considerar essa dimensão, leva em conta também os índices de aprovação. 
 
Na comparação, o otimismo com as melhorias recentes se dissipa um pouco com a constatação de que em apenas uma prova -a de matemática na 4ª série- os resultados de 2007 são melhores do que os de 1995. 
 
Nas demais, as médias em 2007 ainda ficam abaixo das de 12 anos antes. O pior resultado é verificado no 3º ano do ensino médio em língua portuguesa. 
 
Em 1995, o Saeb indicava um patamar de 290 pontos nessa avaliação. Em 2007, o resultado ficou em 261 pontos, ou seja, 29 pontos abaixo do patamar em que estávamos. 
 
De 1995 a 2006, o Brasil conseguiu reduzir de 10% para apenas 2% a proporção de crianças de 7 a 14 anos fora da escola. Essa inclusão, infelizmente, veio acompanhada de queda nas médias dos estudantes. Agora que a cobertura se estabilizou, chegou a hora de avançar e olhar para o futuro, mas sem perder de vista que ainda precisamos recuperar este tempo perdido em termos de qualidade da educação. 
 
 
 
Resultado diminui desigualdades regionais 
 
O avanço mais intenso em municípios das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país fez com que as desigualdades regionais em termos de qualidade do ensino diminuíssem, apesar de ainda serem bastante elevadas. 
 
No primeiro ciclo do ensino fundamental (primeira a quarta série), a melhoria mais significativa aconteceu no Nordeste, região onde o Ideb, em dois anos, passou de 2,9 para 3,5. No mesmo período, o índice do Sudeste variou de 4,6 para 4,8. 
 
Com isso, em 2005, 1,7 ponto separava as duas regiões. Em 2007, essa distância passou a ser de 1,3 ponto. 
 
Maior avanço 
 
Nessa etapa da educação, os Estados que apresentaram maior avanço foram Alagoas, Maranhão e Mato Grosso do Sul. Todos verificaram, de 2005 para 2007, um aumento de 0,8 ponto em seu Ideb. 
 
Em quase todas as unidades da federação, a melhora aconteceu tanto nas médias dos alunos quanto nos índices de aprovação, e as metas estipuladas para 2007 não só foram cumpridas como já ultrapassadas. 
 
O único Estado que não cumpriu a meta no primeiro ciclo do ensino fundamental foi Minas Gerais, apesar de ter chegado bem perto: teve média no Ideb 4,7, quando a meta para 2008 era 4,8. 
 
Para o ministro Fernando Haddad, é positivo que os Estados do Nordeste tenham melhorado mais, já que a meta para essa região era também mais rígida. “As metas para o patamar mais baixo são mais exigentes. É natural, porque o esforço para melhorar vai ficando cada vez mais presente. É quase como uma Copa do Mundo. O primeiro jogo não é igual à final. A dificuldade vai aumentando a cada jogada.“ 
 
Apesar da melhora, são os Estados do Norte e do Nordeste os que continuam nas piores posições no ranking da quarta série. Os menores Idebs nessa fase de ensino são dos Estados Bahia, Alagoas e Pará. Os melhores são de Distrito Federal, Paraná e São Paulo. 
 
Segundo ciclo 
 
No segundo ciclo do ensino fundamental, avaliado a partir de provas aplicadas a alunos da oitava série e pelos índices de aprovação, somente dois Estados (Amapá e Pará) não atingiram as suas metas. Nessa etapa, os melhores desempenhos são de São Paulo, Santa Catarina e Paraná, enquanto os piores são encontrados na Paraíba e em Pernambuco e Alagoas. 
 
Ensino médio 
 
Essa tendência de diminuição das desigualdades regionais só não se mostrou no ensino médio, onde os resultados, em geral, não foram tão positivos quanto nos níveis anteriores. Nesta etapa da educação brasileira, dez Estados não cumpriram suas metas e, em sete deles, o resultado até piorou. 
 
O destaque negativo desse grupo é de Sergipe, como Estado que já não estava entre os melhores e onde foi verificada maior diminuição do Ideb. 
 
Em 2005, a nota média dos sergipanos no ensino médio era de 3,3, o que colocava o Estado na 11ª maior média. Dois anos depois, a nota caiu para 2,9 e, com isso, passou a ser apenas o 22º do ranking. 
 
No ensino médio, os melhores desempenhos foram verificados no Paraná, em Santa Catarina, no Distrito Federal e em São Paulo. No final da lista aparecem Piauí, Amapá e Pará. 
 
 
MS: MÉDIA BAIXA EM 2005 CONSCIENTIZOU ESCOLAS, DIZ SECRETÁRIA 
 
O mau resultado no Ideb em 2005 foi a base da recuperação de Mato Grosso do Sul em 2007, disse a secretária da Educação do Estado, Maria Edilene da Costa. Segundo ela, a avaliação ruim obtida há três anos deu início a um trabalho de “conscientização“ nas escolas. Entre 2005 e 2007, a média dos primeiros anos do ensino fundamental passou de 3,6 para 4,3. No caso do ensino médio, a média passou de 3,3 para 3,8, e o Estado subiu da 12ª para a 5ª colocação no ranking nacional. 
 
MT: GOVERNO ATRIBUI MELHORA NO RANKING A INVESTIMENTOS 
 
O governo do Estado de Mato Grosso atribui a melhora no Ideb a investimentos em infra-estrutura, capacitação profissional e política salarial. “Sabíamos que nossa avaliação era ruim e que precisávamos melhorar. Decidimos abrir diálogo com os sindicatos, diretores de escola e professores“, disse o secretário da Educação do Estado, Ságuas Moraes. No ensino fundamental, o Estado viu sua média subir de 3,1 para 3,8, passando da 18ª para a 10ª colocação no ranking nacional. 
 
 
AL: PREFEITURAS INVESTIRAM NA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO 
 
Para a secretária da Educação de Alagoas, Marcia Valéria Lira Santana, o avanço no Ideb no ensino fundamental ocorreu principalmente pelo esforço das prefeituras, que investiram em qualidade da educação. “Queria parabenizar o esforço do conjunto dos municípios, que concentram as matrículas nesta faixa de ensino.“ Em Alagoas, a melhora no Ideb da quarta série do ensino fundamental foi de 2,5 em 2005 para 3,3 no ano passado. 
 
 
SE: SECRETÁRIO DIZ QUE BAIXOS ÍNDICES SÃO REFLEXO DA EVASÃO ESCOLAR 
 
O secretário da Educação de Sergipe, José Fernandes de Lima, disse que o mau resultado do Estado no Ideb reflete as taxas de reprovação e evasão escolar no ensino médio na rede estadual. “As taxas de reprovações e abandonos, somadas, giram em torno de 30% dos alunos.“ Para ele, o maior desafio no Estado é dar condições para que alunos não abandonem as escolas. “Precisamos colocar o ensino médio nos povoados, mais próximo aos alunos.“ 
 
 
MA: PARCERIA ENTRE ESTADO E MUNICÍPIOS MELHORA DESEMPENHO 
 
A parceria entre Estado, municípios e Ministério da Educação foi decisiva para a melhora do Ideb no Maranhão, segundo o secretário da Educação do Estado, Lourenço Vieira da Silva. A nota nas séries iniciais passou de 2,9 em 2005 para 3,7 em 2007. Um dos instrumentos da parceria é a Amde (Assessoria aos Municípios para o Desenvolvimento do Ensino), que dá consultoria para execução do PAR (Plano de Ação Articulada), criado para atingir o Ideb 6 em 2022. 
 


Índice de aprovação alto põe SP entre os 4 melhores do país 
 
De 2005 para 2007, Estado registrou aumento das notas dos alunos em português e matemática no exame do MEC 
 
Para a secretária estadual da Educação, boas notas não são determinadas pelo alta taxa de aprovação, mas pela melhora na nota das provas 
 
 
Nas notas do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) divulgadas ontem pelo Ministério da Educação, o Estado de São Paulo aparece sempre entre as quatro melhores unidades da federação. 
 
O que mais explica a boa posição paulista no ranking nacional são os elevados índices de aprovação dos alunos. 
 
Isso não significa que, de 2005 para 2007, a nota média dos estudantes nas avaliações oficiais do Ministério da Educação tenha piorado nas escolas estaduais e municipais de São Paulo. Tanto nas provas de português quanto nas de matemática, as notas dos alunos paulistas melhoraram. 
 
Isso mostra que a trajetória de queda na nota dos alunos de São Paulo -verificada em anos anteriores especialmente na oitava série do ensino fundamental e no terceiro ano do ensino médio- foi interrompida. 
 
Avaliações locais 
 
Assim que o resultado do Ideb foi divulgado, a Secretaria de Estado da Educação divulgou uma nota chamando a atenção para a boa colocação. O título: “São Paulo tem a melhor educação de quinta e de oitava série do Brasil“. 
 
No entanto, avaliações criadas pelo governo estadual e pela Prefeitura de São Paulo para monitorar a qualidade das escolas públicas chamaram a atenção por dados que revelam as deficiências do ensino. 
 
No caso do Saresp, a avaliação estadual, apenas 7 das 5.183 escolas obtiveram nota de país desenvolvido. Mais de 60% dos alunos do terceiro ano do ensino médio erraram uma questão simples de soma de frações. 
 
Na Prova São Paulo, a avaliação municipal, descobriu-se que perto de 15% dos alunos da segunda série conseguem ler textos simples, mas não compreendê-los. 
 
Para Volmer Áureo Pianca, um dos diretores da Udemo (entidade que reúne diretores de escolas estaduais de São Paulo), as avaliações locais são mais fidedignas que as nacionais porque consideram as realidades específicas da região. “As avaliações externas incorrem no erro da generalização.“ 
 
A secretária estadual da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, afirma que a avaliação nacional e a estadual “não apontam nada diferente“: “As duas mostram melhoras razoáveis“. 
 
Procurado pela Folha, o secretário municipal da Educação de São Paulo, Alexandre Schneider, disse que não comentaria as notas pelo fato de o Ideb ainda não ter os dados específicos da rede municipal. 
 
Aprovação automática 
 
O alto índice de aprovação de alunos, que puxa a nota de São Paulo para cima, é em boa parte explicado pela política de aprovação automática (ou progressão continuada). 
 
Na rede estadual e na rede municipal da capital, a aprovação automática vale até a oitava série. Só há reprovação em casos excepcionais. 
 
A influência da aprovação no resultado do Ideb fica evidente quando os Estados são colocados separadamente pela sua taxa de aprovação e pelas notas dos alunos. 
 
Na oitava série, São Paulo apresenta a oitava maior média nas provas de português e matemática. Mas se é considerada apenas a taxa de aprovação dessa mesma série (89,2%), o Estado pula para a primeira posição. Juntando os dois critérios, a oitava série de São Paulo fica em primeiro lugar no Ideb. 
 
No ensino médio, em que não há aprovação automática, São Paulo fica em quarto lugar na taxa de aprovação e em sétimo na nota dos alunos. No final, acaba na quarta posição. 
 
A secretária estadual da Educação, porém, afirma que as boas notas de São Paulo não são determinadas pelo alto índice de aprovação nas escolas da rede. “São Paulo melhorou foi na nota das provas“, afirma ela. 
 
 
 
Secretária de SP comemora, mas admite que não há “mar de rosas“ 
Folha de São Paulo – Ricardo Westin e Vinícius Queiroz Galvão 
 
A secretária estadual da Educação de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro, comemorou os resultados obtidos pelo Estado no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Ela, no entanto, admitiu que a educação pública de São Paulo ainda “não é um mar de rosas“. O Ideb analisa as redes estadual e municipais.  
 
“A melhora foi em São Paulo e no Brasil inteiro. Isso tem de ser comemorado“, disse ela, que já foi secretária-executiva do Ministério da Educação.  
No caminho contrário, a Udemo (entidade que reúne diretores de escolas estaduais de São Paulo) diz que não há motivos suficientes para comemoração. “Ainda estamos no fundo do poço. É muito cedo para acharmos que houve uma melhora significativa“, diz Volmer Áureo Pianca, um dos diretores da entidade.  
 
Ele critica o baixo salário dos professores e dos diretores, a falta de infra-estrutura das escolas e a burocracia da rede. “As escolas não estão bem“, diz.  
Questionada sobre essas críticas, a secretária estadual respondeu: “Nenhum lugar é um mar de rosas“, afirmou a secretária estadual. A Secretaria Municipal da Educação foi procurada pela Folha, mas não quis se manifestar pelo fato de o Ideb ainda não ter dados específicos da rede pública paulistana.  
 
Aprovação 
 
Pianca também critica a aprovação automática (ou progressão continuada), que é adotada na rede estadual e na municipal paulistana até a oitava série. “Você tem aluno no ensino médio que não sabe fração e que não entende a palavra multiplicação“, diz ele. A professora Maria Márcia Malavasi, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), lembra que a implantação da progressão continuada trouxe críticas de professores, de pais e de parte dos alunos. “Temos crianças que dizem que passaram de ano sem aprender nada“, afirma. Ela, porém, afirma que a aprovação é importante para evitar a evasão escolar. “A progressão continuada não é ruim. Ruim é a forma como ela foi implantada. Ela foi imposta.“ A aprovação dos estudantes é um dos fatores considerados pelo Ministério da Educação na composição da nota do Ideb. Na quarta e na oitava série do ensino fundamental, São Paulo aparece em primeiro lugar no critério taxa de aprovação.  
 
 
Resultado é positivo, mas metas são baixas, afirma conselheiro 
 
Eleito ontem vice-presidente da Câmara de Educação Básica do CNE (Conselho Nacional de Educação, órgão consultivo do MEC), Mozart Neves Ramos afirmou que são positivos os resultados do Ideb, mas chamou a atenção para o fato de as metas da educação pública -que foram alcançadas pelo Brasil- serem baixas.  
 
“As metas iniciais são modestas. Não adianta colocar metas ambiciosas no início. Isso é natural quando se está iniciando um processo. Daqui para a frente, os esforços terão de ser cada vez maiores se quisermos atingir as metas“, disse Ramos, presidente-executivo do movimento Todos pela Educação. 
 
Ele destacou o fato de os resultados positivos mais consistentes terem sido nas primeiras séries. “É preciso começar pela base. Os alunos estão saindo daí numa situação melhor do que dez anos atrás. Isso vai ter conseqüências daqui a algum tempo no ensino médio. O ensino médio de hoje é, ainda, um reflexo das primeiras séries de dez anos atrás.“  
 
Para Paulo Renato Souza, ministro da Educação no governo Fernando Henrique Cardoso, a melhoria no ensino fundamental era esperada. “Achava que ela apareceria antes, porque todos os outros indicadores haviam melhorado, como o percentual de professores com nível superior, o financiamento via Fundef e a distribuição de livros didáticos. A melhoria só não aconteceu antes porque, desde 1995, ampliamos bastante a matrícula com a inclusão de alunos que estavam fora da escola. Agora, com praticamente todos estudando, é natural que os resultados apareçam“, disse.  
 
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), ministro no primeiro ano do governo Lula, afirmou que é positiva a melhora do Brasil, mas a avaliou como “muito lenta“. Ele afirmou que o avanço não é suficiente porque os outros países também estão avançando. “Mesmo quando a gente melhora, a gente fica atrás“, disse.  
 
A presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação, Justina Iva de Araújo Silva, aponta que os resultados mostram avanços, mas não excelência. Ela vê as médias principalmente como resultado de ações de formação de professores pelos municípios e pelo MEC, um dos fatores do melhor desempenho dos alunos em matemática, diz ela.  
 
A professora Maria Márcia Malavasi, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), concorda que os resultados do Ideb são positivos, mas lembra que o Ministério da Educação trabalha com médias, e não com as notas individuais.  
 
“É perigoso trabalhar com médias, porque você não considera os alunos ruins. Enquanto eu tiver um aluno com desempenho péssimo, eu não posso dizer que está tudo bem. Na educação, temos que cuidar de todos, e não da média“, afirma.  
 
Para a professora, é importante que os governos façam avaliações da educação. “Não havia essa cultura até pouco tempo atrás. É por isso que nos enganávamos tanto dizendo que a educação no Brasil ia bem. Quando tivemos que nos submeter a exames internacionais, como o Pisa, sofremos um susto grande“, diz ela. “Agora, a partir dos dados, temos que tomar iniciativas para melhorar.“  
 

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