O ministro português da Cultura, José António Pinto Ribeiro, recebeu um grupo de representantes do abaixo-assinado contra o acordo ortográfico, uma reunião considerada pelas duas partes como “cordial“.
“Foi um encontro que decorreu numa atmosfera de grande cordialidade e de compreensão recíproca“ disse à Agência Lusa o escritor Vasco Graça Moura, um dos organizadores do movimento contrário à reforma ortográfica.
Após uma hora de reunião, as duas partes reafirmaram os seus pontos de vista, com a delegação constituída por Graça Moura, António Emiliano e José Nunes reiterando as suas reservas face ao acordo ortográfico e o governo defendendo o projeto.
Os autores do abaixo-assinado entregaram ao ministro um dossiê com vários pareceres contra o acordo ortográfico, documentos que já tinham sido entregues ao presidente luso, Aníbal Cavaco Silva, à CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) e a todos os países que fazem parte da organização.
“Temos esperança no bom-senso dos titulares dos órgãos de soberania“, afirmou o escritor, acrescentando esperar que haja a compreensão destes para as “terríveis implicações do acordo“.
Críticas
“O texto do chamado acordo sofre de inúmeras imprecisões, erros e ambigüidades –não tem condições para servir de base a qualquer proposta normativa“, afirma o texto da petição que já deu entrada no Parlamento português, onde deve ser discutida na próxima sessão legislativa, aguardando ainda agendamento.
Os autores da manifesto entendem que o acordo ortográfico, firmado em 1990, deve ser revisto e negociado, e pedem a suspensão da sua aplicação independentemente da ratificação do protocolo modificativo de 2004.
“Não vejo que exista uma oportunidade para reabrir esta discussão“, disse o ministro da Cultura, em declarações à Agência Lusa.
Para o ministro, governo, parlamento e presidente português “assegurarão que não haja rupturas desnecessárias“, com a entrada em vigor do acordo, que só acontece depois de depositados os instrumentos de ratificação no Ministério das Relações Exteriores.
Neste momento, ainda falta a promulgação da lei que aprova o protocolo modificativo de 2004 (que revoga uma anterior norma indicando que o acordo só entraria em vigor quando fosse ratificado por todos os países) por parte do presidente luso.
Segundo o ministro, o acordo que visa uniformizar a escrita do português “é importante para a internacionalização do uso da língua“.
Processo de adesão
Numa primeira fase, a entrada em vigor significa que os documentos oficiais passam a ser escritos segundo as normas previstas no acordo, disse Pinto Ribeiro, destacando que haverá depois um “processo de adesão progressiva“, uma vez que o governo prevê um período de transição de seis anos.
“Quem escreve e trabalha com as palavras todos os dias cria com elas uma relação especial. Compreendo que quem tem essa relação sinta mais dificuldade em mudar“, disse o ministro, assinalando que as anteriores reformas ortográficas também foram bastante criticadas e que Fernando Pessoa foi um dos que se opôs à de 1931.
Os assinantes da petição vão agora pedir uma reunião com o primeiro-ministro português, José Sócrates, afirmou Vasco Graça Moura.