Mercado de livro de bolso cresce no país

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Record lança pacote com 24 títulos e prepara linha acadêmica, enquanto Objetiva adquire controle do selo Martin Claret 
 
Formato muitas vezes rejeitado e freqüentemente associado a edições de má qualidade, o livro de bolso está ganhando mais espaço nas livrarias e se firma no mercado brasileiro, mobilizando grandes editoras. 
 
Quem entra agora no segmento é a Record, maior editora brasileira, que lança o selo BestBolso, com 24 títulos. Os lançamentos incluem um dos principais romances de Umberto Eco, “Baudolino“, além de títulos conhecidos como “O Evangelho segundo o Filho“, de Norman Mailer, “O Diário de Anne Frank“, “A Queda“, de Albert Camus, e títulos de autores conhecidos pelos best-sellers, como Frederick Forsyth (“O Negociador“) e Graham Greene (“Fim de Caso“). 
 
A Record vai lançar uma média de cinco títulos mensais, cada um com tiragem de 6.000 exemplares. Além dos títulos de literatura internacional que começam a chegar às livrarias, a editora guardou para 2008 a edição de uma linha acadêmica e o lançamento dos títulos nacionais, que vai começar com “A Casa das Sete Mulheres“, de Letícia Wierzchowzki. 
 
Antes da Record, a Companhia das Letras vinha investindo no segmento desde maio de 2005, com sucesso. Sua linha de bolso já vendeu, até hoje, mais de 450 mil exemplares. As tiragens iniciais dos 57 títulos da linha pocket da Companhia têm entre 4.000 e 5.000 exemplares, com preços até 50% inferiores às brochuras. O recordista da coleção é “Além do Bem e do Mal“, de Friedrich Nietzsche, que já vendeu em bolso 38 mil exemplares. 
 
As duas editoras apostam num segmento em que a gaúcha L&PM se consolidou nos últimos anos, atraindo a atenção do mercado. Ivan Pinheiro Machado, editor da L&PM, conta que sua coleção conseguiu se firmar depois de 11 anos de investimento. “A fama dos livros de bolso era de edições de terceira categoria, existia a idéia de apenas se aproveitar o fundo de catálogo. Penamos cinco anos, tivemos que enfrentar essa herança“, afirma. 
 
Hoje, a L&PM já tem 650 títulos em sua coleção pocket e acaba de lançar na Bienal Internacional do Livro do Rio, encerrada no último dia 23, o “Dicionário Caldas Aulete de Bolso“, com 30 mil verbetes (1.072 págs., R$ 19,90). O dicionário foi lançado em co-edição com a editora Lexikon, de Carlos Augusto Lacerda. A L&PM mantém ainda parceria com a Nova Fronteira, com quem co-edita coleção de livros da britânica Agatha Christie. 
 
Alternativa 
 
Diferentemente do momento atual, que é de aquecimento nas vendas de livros, a L&PM apostou no formato pocket em momento de dificuldade. “Em 1996, estávamos em crise, existia o assédio das estrangeiras, [o pocket] foi nossa única alternativa de sobrevivência. Ou saíamos da visão tradicional ou íamos quebrar“, diz Machado. 
 
O sucesso atual dos pocket entre as grandes editoras pode ser explicado por uma combinação entre investimento em qualidade (que ainda permanece como o grande desafio e o calcanhar-de-aquiles do segmento), preços acessíveis e aposta em pontos alternativos de venda. 
 
De fato, ainda que as vendas pela internet estejam crescendo, o número de livrarias não se expande de forma significativa, ficando na faixa um pouco superior às 2.000 unidades. Machado, que não informa o número de vendas de sua editora, diz que 35% das vendas da L&PM Pocket são em pontos alternativos como supermercados e bancas de jornal, mas ainda aponta as livrarias como espaço fundamental (“o sucesso precisa ser comercial e editorial, mas também, principalmente, cultural“). A nova coleção da Record também pretende chegar aos supermercados. 
 
Segundo a diretora editorial da Record, Luciana Villas-Boas, “o mercado está aquecido e existe uma nova demanda. Há uma camada de público mais sensível ao preço“. Para ela, “o grande problema é que antes não se alcançavam os números necessários. O fundamental é a matemática“. 
 
A próxima grande editora a entrar no segmento pocket é a Objetiva, controlada pelo grupo espanhol Santillana. Ela acaba de anunciar a compra de 75% da Martin Claret, especializada em livros de bolso, que já tem canais de distribuição em todo o país. 
 
 
Estudo indica que livros são caros no país 
Folha de S. Paulo – Marcos Strecker  
 
Os preços certamente são fundamentais para explicar o sucesso atual do segmento de bolso. Alguns títulos da L&PM Pocket são vendidos por menos de R$ 10. O preço médio dos livros de bolso da Companhia das Letras é de R$ 19. O selo BestBolso, da Record, vai trazer edições que custarão entre R$ 14,90 e R$ 19,90. 
 
Os livros de bolso podem estar se tornando uma alternativa de compra para quem não teria como pagar as edições em brochura. 
 
Para economistas que acompanham o mercado editorial, como Fabio Sá Earp, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, os preços de venda ao consumidor no Brasil deveriam ser reduzidos a um terço do seu valor atual. 
 
Ele chegou a esse número a partir de dados coletados em 2002 no Brasil e em diversos países. Earp criou um “índice de capacidade de compra de livros“, que, segundo ele, chega exatamente ao mesmo resultado que o critério de paridade do poder de compra (PPP, em inglês), que considera o poder de compra das moedas dentro dos respectivos países e é usado para comparar diferentes economias. 
 
Ainda que não tenha dados atualizados específicos do mercado editorial no exterior para os últimos anos (“o que exigiria um grande investimento com institutos estrangeiros“), ele fez a atualização dos dados para o poder de compra de livros no Brasil. 
 
Em estudo recente que fez em parceria com George Kornis, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, também aproveitando a última pesquisa anual conjunta do Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livros) e da CBL (Câmara Brasileira do Livro), de agosto passado, o economista utilizou dados como renda per capita, PIB e preço médio do livro ao mercado no país. 
 
Earp mostra que o poder de compra de livros no Brasil (sem levar em conta as compras governamentais) está crescendo desde 2003 (quando registrou o pior resultado nos últimos dez anos), mas os números atuais ainda são muito inferiores aos de dez anos atrás. O poder de compra em 2006 representaria pouco mais de 60% daquele registrado em 1998, segundo o índice calculado pelo economista. Assim, não é surpresa que os livros de bolso, mais acessíveis, sejam a bola da vez nas livrarias. 

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