Educação freia desenvolvimento humano do Brasil, diz ONU

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O desempenho do Brasil na área da educação freou o desenvolvimento humano do país no início deste século 21, mostrou o relatório anual divulgado nesta quinta-feira pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). A evolução do Índice do Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil entre os anos 2000 e 2004 foi a pior desde 1975, ano em que se inicia a comparação histórica fornecida pelo estudo. Entre os anos de 2003 e 2004, o Brasil caiu no ranking do IDH – passou da 68ª para a 69ª colocação – mas uma mudança importante de metodologia impede comparações entre os dois períodos, disse o PNUD.  
 
Dentro de uma escala de zero a um – em que um é o resultado ideal – o IDH brasileiro atingiu a marca de 0,792 em 2004, contra 0,788 do ano anterior, ficando atrás de Romênia, Belarus, Bósnia e Herzegovina, República Dominicana, Omã e Ilhas Maurício. Entre os países latino-americanos comparados pelo relatório da agência das Nações Unidas (Argentina, Colômbia, Chile, Peru, México e Venezuela), somente a Argentina – que enfrentou grave crise política e econômica em 2001 – teve uma evolução menor do que o Brasil no IDH.  
 
Indicadores – O IDH é a síntese de quatro indicadores, sempre relativa aos números de dois anos antes: Produto Interno Bruto (PIB) per capita, expectativa de vida, taxa de alfabetização de pessoas com 15 anos ou mais de idade e taxa de matrícula bruta nos três níveis de ensino (percentual de população em idade escolar que está matriculado em algum tipo de ensino – fundamental, médio ou superior). No indicador de PIB per capita, o Brasil chegou a apresentar um aumento de cerca de 3,1%, passando a US$ 8.195 (em torno de R$ 17.529,00) em 2004. O país melhorou também na expectativa de vida (de 70,5 anos para 70,8 anos). No entanto, os números do IDH do Brasil ficaram estagnados no que diz respeito à taxa de alfabetização (88,6%) e taxa de matrícula (85,7%).  
 
Como resultado, caiu o ritmo de melhora no indicador: entre 2000 e 2004, o avanço foi de apenas 0,22%, contra 0,95% no período entre 1995 e 1999 e 0,79% nos cinco anos anteriores. Na América Latina e no Caribe, 13 países tiveram desempenho superior ao brasileiro em termos de desenvolvimento humano: México (53º no ranking, IDH de 0,821), Cuba (50º no ranking, IDH de 0,826), Uruguai (43º no ranking, IDH de 0,851), Chile (38º no ranking, IDH de 0,859) e Argentina (36º no ranking, IDH de 0,863). No topo do ranking estão Noruega, Islândia e Austrália, enquanto Mali, Serra Leoa e Níger ocupam a lanterna do ranking. 
 
 
 
Salsichas estatísticas e IDH  
Folha de São Paulo – Vinicius Torres Freire  
 
Na última década, ritmo de melhora do IDH do Brasil esteve na média mundial e dos países “semipobres“  
 
COMPARAÇÕES INTERNACIONAIS de avanços sociais, políticos e econômicos têm várias utilidades. As estatísticas sociais em especial, as quais chamam a atenção para os horrores sobre a terra e são mais raras. O mais comum é sermos atropelados por tsunamis de indicadores financeiros e de mercados -quem tem mais dinheiro paga pelas estatísticas que interessam. Mas não faz muito sentido a sensação causada pelas variações anuais dos rankings, por exemplo. Mesmo estatísticas e classificações muito meritórias e úteis, como o IDH, não podem ser lidas como tabelas semanais de campeonatos de futebol.  
 
Na tabela do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 2004, calculada pela ONU e divulgada ontem, o Brasil caiu do 68º lugar para o 69º, desta vez devido a mudança de método. Mas suponhamos que o Brasil tivesse caído ou subido mesmo uma ou duas posições. E daí? Variações em prazos tão curtos e de tão poucas posições não querem dizer muito. Com mais perspectiva, a informação melhora. De 2000 para 2004, entre 137 países para os quais há informação, a proporção da melhora do IDH brasileiro esteve bem abaixo da média mundial.  
 
No ranking da “velocidade“ da melhora, o Brasil estaria em 105º lugar nesse período. Ruim. Entre 2000 e 1995 o Brasil melhorou a um ritmo maior que o da média mundial: em termos de velocidade de desenvolvimento humano, foi o 32º em 137 países. Motivo? Educação e o crescimento mais razoável nesses anos. Na última década, ficamos na média global. No espaço de uma geração, entre 1985 e 2005, o avanço brasileiro ficou um pouco acima da média mundial, em 43º lugar entre 120 países. Decerto é argumentável que os países mais pobres tenderiam a melhorar mais rapidamente.  
 
Consideremos então apenas os países de renda média, grupo do Brasil. Entre 1995 e 2004, o Brasil avançou na média do seu grupo, ficando em 34º lugar entre 63 países. Para subir mais no ranking falta crescimento econômico ao Brasil. Mas, se desigualdade e outros índices de exclusão social fossem medidos no IDH, talvez a posição nacional piorasse muito. O trabalho de comparação internacional é difícil. É preciso conciliar as estatísticas de cada país. Como isso é muito trabalhoso e falta informação, os dados se restringem a renda per capita, expectativa de anos de vida, taxa de alfabetização de adultos e a taxa de pessoas matriculadas em escolas de todos os níveis. A renda per capita é calculada por meio do PIB per capita ajustado pelo poder de compra da moeda de cada país.  
 
Como toda comparação internacional de produção, renda e poder de compra, é uma estatística com suas precariedades e com variações que por vezes não refletem a realidade, em especial se a comparação é feita entre países com posições muito próximas no ranking. A taxa de matrícula nas escolas tem o problema de não aferir quantos estudantes se formam e o nível de sua formação. Isso posto, o IDH ainda é o melhor indicador internacional à disposição. Outros estudos do “Relatório de Desenvolvimento Humano“, embora não permitam comparações gerais, informam outros horrores sobre a terra, como a desgraça do saneamento precário ou a atenção à saúde de mães e bebês.  

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