O Brasil fez muito nas últimas décadas em matéria de educação, mas hoje há relativo consenso de que o baixo nível educacional da nossa força de trabalho é um dos fatores limitativos do crescimento. A constatação está no documento Brasil, o estado de uma nação, lançado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Segundo o texto, a população brasileira é formada por pessoas que “podem ser tuteladas e podem até atingir bons níveis de produtividade“. O estudo ressalta que essas pessoas têm baixa capacidade para realizar tarefas mais complexas e tomar decisões que exigem capacidade analítica mais sofisticada, o que impede o desenvolvimento.
Embora reconheça que há mais ofertas, o Ipea diz que falta qualidade no ensino. Entre 1970 e 2000, o número de matrículas saiu de 1,119 milhão para 3,680 milhões no ensino médio, e de 425 mil para 2,694 milhões no ensino superior. Entretanto, o texto qualifica de “lastimável“ a educação básica no país, ao compará-la à de outros lugares. “A pior notícia das comparações internacionais é a constatação de que a capacidade de compreensão de leitura dos alunos das nossas elites é inferior ao nível obtido pelos alunos de classes mais baixas da Europa“.
Apesar do aumento do número de vagas, especialmente no ensino fundamental, os pesquisadores do Ipea consideram má a qualidade do ensino, e constatam que não há estímulo para a permanência do aluno na escola. Embora o ensino fundamental tenha se universalizado, ou seja, todos entram na escola, somente 84% concluem a quarta série e 57% terminam o ensino fundamental.
No nível médio, o índice de conclusão é de apenas 37%, sendo que, entre indivíduos da mesma idade, que entram ao mesmo tempo na escola, apenas 28% saem com diploma. O estudo relaciona a evasão à condição social do aluno. Na categoria dos 20% mais pobres do país, 95,2% dos alunos entre 7 e 14 anos estão na escola. Quando chegam à idade entre 15 e 17 anos, a proporção cai para 73,6%. No grupo entre 18 e 24 anos, apenas 28% permanecem estudando.
Entre os 20% mais ricos, 99,3% das crianças entre 7 e 14 anos estão na escola. Dos 15 aos 17 anos a parcela é de 94,6% e dos 18 aos 24 anos, 51,6%.
“A ordem do dia é investir incansavelmente em qualidade, passando pela melhor qualificação dos professores, pela melhoria da infra-estrutura de ensino e pela motivação de seus profissionais“, conclui o texto do Ipea.
Segundo estudo, quase 70% dos alunos não completam o ensino médio no Brasil
Folha Dirigida (RJ) – Rafael Massadar
A segunda fase do estudo “Brasil – O Estado de uma nação“ realizado pelo Ipea (Instituto de Política Econômica Aplicada) concluiu que a exclusão social ainda é um resultado do problemático sistema educacional brasileiro. Apenas 84% dos alunos que entram no sistema educaciona concluem a 4ª série e 57% terminam o ensino fundamental. No ensino médio, o índice de conclusão é de 37%. O estudo destaca que a exclusão atinge a população com menos recursos. Na primeira série, cerca de 66% dos estudantes vêm de segmentos mais pobres da população. Já no ensino superior, menos de 5% têm essa origem.
Embora o país já consiga fazer com que todas as crianças entrem na escola, o Instituto destaca o aumento de alunos no ensino básico e o crescimento do ensino superior. E ressalta a importancia de investimentos de qualidade e o aumento do ensino médio. Outro problema destacado pelo estudo, é a entrada muito cedo da população no mercado de trabalho, o que leva, posteriormente, à procura de programas de educação e treinamento para aumentar o seu salário.
A economia brasileira sofre com os relatos do estudo, que classifica metade dos alunos de 4ª série inaptos de ler um texto de nível mediano de dificuldade, o que transforma o brasileiro uma mão-de-obra barata em comparação com países industrializados. O pequeno destaque ficou por conta do aumento dos números do nível superior. Em 1980, eramos 1,4 milhão de alunos e hoje somos 4,2 milhões. O crescimento do número de vagas oferecidas foi de 64%, no setor privado, e de 56%, no setor público, mas ainda há uma demanda represada. Esses dados, sofrem ressalva, pois o aumento das vagas foram realizadas através do crescimento desenfreado de instituições privadas de nível superior no Brasil, que muitas vezes não oferecem um ensino de qualidade. Mais um fator determinandte é que na popualação designada pobre, praticamente não estão matriculados em estabelecimentos de 3° grau, tanto público, quanto privado.
Segundo o Ipea, hoje, o Governo Federal gasta 0,82% do PIB (Produto Interno Bruto) em investimentos na educação superior no país. Os números são irrisórios comparados com a Finlândia, que hoje tem um dos melhores índices de desenvolvimento humano do mundo e por lei a educação superior de graduação é gratuita. Passou de 0,841 em 1975, para 0,941 em 2003. No mesmo período, o IDH do Brasil evoluiu de 0,645 para 0,792. A expectativa de vida ao nascer dos finlandeses é de 78,5 anos. A dos brasileiros, 70,5. O índice de educação da Finlândia é de 0,99, o do Brasil é de 0,89. A desigualdade da Finlândia é dos mais baixos do mundo, enquanto do Brasil continua dos mais altos.