Para educadores, ensino básico influencia vestibular

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A discussão sobre as “Formas de Acesso ao Ensino Superior“ chegou ao ensino básico. De acordo com os especialistas em educação que debateram o tema, na última terça-feira, dia 4 de abril, na Fundação Getúlio Vargas (FGV), a questão não se resume à relação ensino médio/ensino superior. Convidados para debater o assunto, os professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Marcelo Corrêa, doutor em educação e Maurício Luz, assessor da pró-reitoria de graduação, e a professora aposentada da Unicamp e coordenadora do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no governo Fernando Henrique Cardoso, Maria Inês Fini levantaram a questão da qualidade do ensino básico como ponto fundamental para diminuir as injustiças causadas pelo vestibular. Os três qualificaram o vestibular como um mal, mas não apontaram nenhum caminho alternartivo para substituí-lo. O encontro, mediado pela professora Marieta Ferreira, coordenadora do Projeto FGV Ensino Médio, contou com a presença de professores do ensino médio que cobraram uma maior articulação da universidade com as escolas e reclamaram do calendário dos vestibulares. Segundo ele, a realização de provas antes do final do ano letivo prejudica o ensino.  
 
Primeiro a falar sobre o assunto, Marcelo Corrêa fez um breve histórico do sistema de avaliação no país e ressaltou: “O problema de acesso não está antes ou depois do vestibular. Enquanto perdurar esse sistema de ensino vamos ficar discutindo essa questão que não é a mais importante nessa história“, disse. Ele afirmou ainda ser cético quanto ao sistema de cotas no ensino superior. “Acho que essa pode ser uma forma de desmobilizar um movimento social. Sempre uso o exemplo das mulheres. Elas conquistaram o seu espaço sem ações benevolentes“, disse.  
 
Radical em seu discurso, a professora da Unicamp definiu o vestibular como uma profunda agressão ao ensino médio e ao ensino básico e defendeu o sistema de reserva de vagas. “Ele tira um pouco o véu do cinismo da sociedade e mostra o problema da desigualdade social e econômica desse país. É uma excelente iniciativa, só que ainda é muito pouco“, disse a especialista que apontou alguns aspectos para a melhoria do ensino básico. “É preciso pensar melhor os gastos públicos com educação, considerar o nível socioeconômico e educativo das famílias, estar atento à formação dos professores, ao papel da pré-escola e do bolsa-escola“, disse Maria Inês, destacando que é preciso ter uma visão sistêmica da educação: “Não é que a escola pública sozinha seja ruim. O que é gritante é o nível de vida dos alunos dessas escolas. Isso também compromete o aprendizado“.  
 
Durante sua fala, a professora também questionou a formação dos professores. “Nas faculdades não preparamos os licenciandos para a sala de aula. Eles não aprendem a História, a Física, a Geografia que terão que dar no ensino médio e sim os conceitos mais avançados. Na verdade, não estamos formando professores e sim ministros“, brincou. Já o professor Maurício Luz apresentou o resultado de um estudo feito com base nos dados dos três últimos vestibulares da UFRJ. O objetivo da pesquisa era descobrir o impacto que a medida de cotas teria no ensino superior.  
 
De acordo com a análise dos dados, a reserva de vagas para alunos que fizeram todo o ensino básico na rede pública não ocasionaria uma grande diferença no perfil do aluno da universidade. “Fizemos uma simulação de reserva para alunos que cursaram apenas o ensino médio e para aqueles que cursaram todo o ensino básico na rede pública. Qualquer um deles levaria a seleção de alunos não muito diferentes“, disse Maurício. Para aprofundar mais a análise, o professor acompanhou o desempenho dos graduandos durante o primeiro período e concluiu que não há relação entre a nota do vestibular e o desempenho na faculdade. 

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