Debate ressalta os paradoxos do mercado editorial

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As contradições do mercado editorial brasileiro foram o foco do debate que marcou no dia 31/10 à noite o início da série de eventos em comemoração dos dez anos da editora Publifolha. Com mediação de Arthur Nestrovski, articulista da Folha e editor da Publifolha, os convidados Galeno Amorim, coordenador do Plano Nacional do Livro e Leitura do Ministério da Cultura, Augusto Massi, professor de literatura da USP, e o escritor Márcio Souza lembraram que o país tem, de um lado, uma produção pujante, mas de outro, um potencial não explorado por falta de acesso aos livros, seja devido ao baixo índice de alfabetização do país ou a seu déficit de bibliotecas públicas. 
 
Problemas históricos 
 
Cada convidado teve inicialmente cerca de 15 minutos para levantar quais seriam, em suas perspectivas, as questões mais relevantes ligadas ao mercado editorial brasileiro. Márcio Souza, autor de “Mad Maria“, apontou que o país tem produção equivalente a países como a Espanha e centrou sua fala em aspectos históricos positivos, como o avanço no respeito aos direitos autorais e no modelo de relação entre autor e editor; e negativos, como a política patrimonialista do governo, que teria suas origens em 1937, no governo de Getúlio Vargas. 
 
“Órgãos como o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional [Iphan] conseguem fazer pressão nos ministérios da Fazenda e Planejamento, o que lhe garante um bom orçamento. Já o livro nunca fez parte de política pública séria, talvez por falta de compreensão de sua importância na cultura do país“, disse Souza. 
 
Galeno Amorim também apontou uma discrepância do mercado editorial brasileiro, cujo volume de títulos, especialmente os didáticos, insere o país entre os sete maiores produtores, à frente de Itália e Reino Unido, mas cuja média de livros lidos por pessoa, por ano, é de cerca de 1,8, índice inferior até mesmo ao da Colômbia, que é de 2,4. Amorim ressaltou ainda a importância das parcerias com empresas e a sociedade para estimular a formação de leitores. 
 
Críticas 
 
Em sua fala, Augusto Massi defendeu a importância da produção universitária e fez ressalvas a alguns pontos das políticas do Ministério da Cultura para o livro, como a desoneração fiscal, que liberam, desde dezembro de 2004, a cobrança de PIS, Cofins e Pasep de qualquer operação com livro. Para Massi, a formação do leitor não se resume ao mercado, mas deve contemplar aspectos educacionais e pedagógicos. 
 
“Se houvesse mais leitores, haveria maior compra de livros e as editoras poderiam pagar impostos, até mesmo como países nórdicos, onde a média de livros lidos por ano está acima de 10 por pessoa“, disse Massi, que também pleiteou o investimento na capacitação das bibliotecas existentes, em vez da criação de novos espaços. “O problema do Brasil é manter. Deve-se apostar nas instituições com bases sólidas, como a Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro ou a Mário de Andrade, em São Paulo.“ 
 
Amorim defendeu que o investimento em novos espaços, como comunidades carentes, é importante para atender os cerca de 14 milhões de brasileiros que não têm acesso a livros. 
 
“É importante lembrar também do cidadão que não tem dinheiro para pagar o ônibus até a biblioteca mais próxima“, concluiu. 
 

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