Oba, hoje é dia de leitura!

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Não tem hora certa. O carrinho todo colorido pode aparecer no corredor a qualquer momento. E quando ele chega na classe é uma festa! A professora interrompe a aula e os alunos de 1ª a 4ª série escolhem quais livros vão levar para casa.  
 
Esse sistema de empréstimo começou a funcionar no Colégio Santo Antônio, em Belo Horizonte, para evitar que os pequenos tivessem que ir até a biblioteca, que fica em outro prédio. A estratégia deu tão certo que as visitas do carrinho a todas as classes não pararam mais. “As crianças ficam eufóricas. Muitas pegam dois ou três para ler sozinhas ou com os pais“, conta a coordenadora pedagógica Maria de Lourdes Lopes Cançado. Segundo ela, a garotada passou a se interessar mais não só por livros mas também por revistas e jornais.  
 
Na Escola Estadual Dom Orione, em Curitiba, a leitura também é prioridade. Todos os dias, alunos, funcionários e professores param durante 25 minutos para se dedicar a uma única atividade: ler. Nesse período, o silêncio toma o lugar das conversas e do corre-corre. Os professores aproveitam o período para colocar em dia a leitura acumulada com o excesso de trabalho. E os funcionários — parte deles com baixo grau de escolaridade — se familiarizam com a novidade.  
 
“Os resultados já aparecem. Eles estão se tornando mais críticos e se relacionando melhor com as crianças“, comemora Ana Maria Meier, supervisora da manhã. Assim, há seis anos, a escola mostra o valor da leitura e o prazer que um bom texto pode trazer. Mas por que é importante criar o hábito de leitura? De acordo com a consultora Maria José Nóbrega, de São Paulo, além de ser uma forma de entretenimento e de lazer, a leitura é um meio de aprendizado em qualquer área. “Lendo também nos mantemos atualizados sobre assuntos do nosso bairro, da nossa cidade, do nosso país.“  
 
A criança lê com prazer o livro que ela escolhe – Na Dom Orione, a garotada tem liberdade para escolher o exemplar que quiser na biblioteca ou mesmo para ler um trazido de casa. Terminada a leitura, o aluno escreve em uma folha o título da obra e, em poucas linhas, do que ela trata. Não há provas nem resenhas. “Queremos que todos leiam pelo prazer de ler“, diz Ana Maria. Para Maria José, a escola está na direção certa. “A leitura em si já é uma atividade“, explica. O ideal, ela afirma, é que os estudantes leiam muito e trabalhem apenas com uma ou outra obra.  
 
Missão importante do professor é a de ensinar a escolher bem a leitura — indicações inadequadas feitas pela escola podem afastar a garotada do mundo das letras. Mas dar liberdade não significa deixar cada um ler só o que quer. Os estudantes podem pegar textos muito fáceis ou difíceis para a sua competência. “O professor deve avaliar o nível da criança e, quando o texto estiver abaixo de sua capacidade, escolher desafios maiores“, diz Maria José. É o que vem sendo feito na escola Dom Orione. As revistas e os gibis que fazem parte do acervo só são lidos uma vez por semana. “Essa foi a forma que encontramos para que os alunos se abrissem a variados gêneros. No começo, eles só queriam ler quadrinhos, que acham mais fáceis“, explica a supervisora Ana Maria. 
 
Em classe, a leitura tem diferentes objetivos  
 
Na biblioteca da escola ou no cantinho de leitura da própria classe, há vários meios de incentivar a leitura. A professora Maria José Machado, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), sugere que os professores estimulem pesquisas sobre temas que intrigam os alunos ou fazem parte do cotidiano, como o tempo. “Assim, eles terão um bom motivo para procurar informações em livros, revistas e jornais.“  
 
Se você lê para as crianças o trecho instigante de uma publicação e a coloca na estante, elas vão retirá-la para descobrir mais sobre o assunto. A leitura compartilhada é outra opção. Você lê um trecho do texto em voz alta, um garoto continua, dá a vez para uma colega e assim por diante. Na Escola Municipal Anna Maria Harger, em Joinville (SC), além de participarem de atividades desse tipo, os alunos de 1ª a 4ª série se transformam em contadores de histórias. Eles se apresentam para os colegas, os pais e até para a comunidade, adquirindo o gosto pela leitura.  
 
O projeto atrai mais as crianças com idade a partir de 9 anos. “As menores vêem os colegas contando histórias e se entusiasmam para ler o livro que está sendo apresentado“, conta a professora de Português Celina Pimentel Hostin, que trabalha na biblioteca. Celina vê o avanço dos alunos na comunicação e compreensão de textos. E não é só. Maria José Machado destaca que essa prática aprimora o raciocínio lógico, a criatividade e a percepção da realidade. Levar para a classe coleções de um determinado autor, trabalhar com algumas de suas obras e, quando possível, convidá-lo para conversar com a meninada são outras ótimas estratégias.  
 
No Colégio Santa Maria, no Recife, periodicamente há uma votação entre classes de 1ª a 4ª série para a escolha do autor do mês. Ziraldo, Ana Maria Machado, Ruth Rocha e Monteiro Lobato já disputaram o voto dos estudantes. Depois da eleição, a garotada pesquisa a biografia e as obras do eleito e quem tem alguma em casa leva para mostrar aos colegas. “Livros do autor escolhido não param nas prateleiras da biblioteca durante o mês“, conta Edna Carneiro, coordenadora pedagógica de 1ª a 4ª série. Para envolver também a família no trabalho, o colégio estimula a apresentação para os pais de trechos de algum livro lido em forma de peça de teatro.  
 
Mostrar à família a importância dos projetos de leitura é fundamental, explica a professora Regina Lúcia Giffoni Luz de Brito, da PUC-SP. “A escola deve fazer uma parceria com os pais para que o ambiente em casa também seja motivador para a criança.“ Regina sugere aproveitar a reunião de pais nesse sentido. “Esse momento pode ser usado para conversar com os pais sobre leitura, livros e escritores.“ 
 
O trabalho continua em livrarias e bibliotecas 
 
Antes de optar por uma ou outra leitura, a turma precisa conhecer o que há à sua disposição. “Nada melhor do que incentivar a visita a bibliotecas e livrarias“, diz Maria José Nóbrega. Além de ver as capas, conferir os títulos e se informar sobre os autores, os estudantes aprendem a circular nesses locais. De acordo com ela, poucas crianças e jovens visitam bibliotecas e livrarias. “Uma garota me disse que tinha alugado um livro na biblioteca, certamente em referência ao que faz em uma locadora“, relata.  
 
Muita gente acredita que a falta de dinheiro para comprar um livro é motivo para não entrar em livrarias. Nada disso. Quando a garotada vai sempre a esses lugares, acaba se sentindo à vontade. Em muitas lojas é possível se sentar e ler trechos de livros. Maria José recomenda ao professor ficar atento às atividades desenvolvidas gratuitamente por livrarias, como lançamentos de obras e encontros com autores.  
 
A Casa de Livros, livraria de São Paulo especializada em educação, desenvolve o Projeto Vitrine, em parceria com escolas. Baseado em um tema sugerido pelos professores, a livraria seleciona obras que vão compor a vitrine da loja, trocada toda segunda-feira. “Nesse dia, estudantes, familiares e professores se reúnem para a inauguração do espaço“, explica a psicóloga Denise Carvalho, uma das proprietárias. As crianças conhecem o autor, quando isso é possível, e apresentam músicas e textos relacionados ao tema escolhido.  
 
O Colégio Friburgo, em São Paulo, já participou do projeto e, neste ano, vai repetir a experiência. Em 2004, a 2ª série trabalhou com o livro Mata – Contos do Folclore Brasileiro, de Heloisa Prieto (Companhia das Letrinhas). As crianças fizeram uma leitura compartilhada e discutiram o texto. Em grupos, leram então uma segunda vez. Depois, desenharam e pintaram os personagens escolhidos e escreveram seus sentimentos sobre eles. Esses trabalhos foram parar na vitrine.

“Todos se envolveram com o projeto. No dia da inauguração, tivemos a apresentação de uma poesia musicada e do coral“, conta Eni Spimpolo, coordenadora de 1ª a 4ª série. Mesmo que livrarias ou bibliotecas de sua cidade não desenvolvam atividades específicas para estudantes, a ida a esses locais vale a pena. A própria circulação dos grupos de crianças e jovens nesses espaços pode servir de incentivo a ações. Às vezes elas não existem simplesmente por falta de demanda. 

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