84,5% das crianças que não sabem ler estão na escola

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Pelo menos oito entre dez crianças que não sabem ler e escrever estão na escola, revela a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgada ontem. 
 
Segundo a pesquisa, 84,5% das crianças de 8 a 14 anos que não sabem ler freqüentam o colégio, o equivalente a 1,1 milhão de crianças. Deste total, 745,9 mil vivem no Nordeste. 
 
Ana Lúcia Saboia, gerente de Indicadores Sociais do IBGE, afirma que os dados de 2007 expõem a fragilidade do ensino fundamental no país, apesar dos ganhos nos últimos anos em relação ao acesso à escola. 
Na faixa de 7 a 14 anos, onde o ensino está praticamente universalizado (97,6%), o percentual dos que lêem e escrevem e estão na escola chega a 87,2% -o equivalente a 2,1 milhões de crianças. 
 
Para especialistas, aos 7 anos a criança pode ainda não estar de fato alfabetizada. Os resultados são obtidos em questionário respondido pelos responsáveis pelas crianças. 
 
O índice varia conforme a idade. Aos 7 anos chega a 90,8%; aos 10 vai a 85,6%, aos 12, para 71,4%; e aos 14, 45,8%. 
 
Aprovação automática 
 
Claudio Moura e Castro, consultor em educação, descarta relação do resultado com a aprovação automática e diz que o problema está ligado à qualidade do ensino. “A aprovação automática não atrapalha o pobre e pode tirar o medo do aluno de classe média de levar “bomba“ no fim do ano.“ 
 
Para ele, o que falta é ênfase dos professores no ensino. “A qualidade da escola é assustadora. Falta aos professores aprender a dar aula“, disse. 
 
Segundo André Lázaro, secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC, o resultado precisa ser relativizado e o ministério adota medidas para resolver o problema, como a Provinha Brasil, que será aplicada no segundo ano de escolarização das crianças. “Temos hoje instrumentos de identificação desse processo por escola e maneiras de investir na capacitação dos professores“, disse. 
 
Famílias 
 
Muitas famílias acabam responsabilizando o aluno. Na 4ª série, sem saber ler e escrever, Lídia Monteiro, 11, diz que “a brincadeira é demais“ na escola. “Ela não presta atenção na aula. Já procurei a escola para ver se alguém poderia fazer ela ficar quieta, mas não tem pedagogo nem nada“, diz a dona-de-casa Eliane Alves, 31. 
 
Para Ruben Klein, especialista em avaliação, o problema é o despreparo da escola. “Elas simplesmente não sabem o que fazer com as crianças. É claro que a família tem de incentivar, mas a escola tem de estar preparada para ensinar e atender as necessidades dos alunos.“ 
 
A dona-de-casa Suzana Juvencio Calado, 33, afirmou que apesar de o filho estudar desde os 4 anos, Luiz Fernando, 9, ainda não aprendeu a ler e escrever. Ele está na 2ª série. “A professora sempre manda bilhete dizendo que ele não consegue aprender. Mas acho que é tanta criança que se a professora ficar em cima de um não dá conta do resto“, disse. 
 
A pesquisa mostra ainda que a pobreza afeta mais as crianças do que a média da população. No total de entrevistados, 11,2% estavam em domicílios com renda familiar per capita de até 1/4 do salário mínimo. Entre as crianças, esse percentual era de 21,5%. 
 
 
 
Só 17,1% das crianças de até 3 anos freqüentam creches 
Folha de São Paulo 
 
A Síntese dos Indicadores Sociais mostra que apenas 17,1% das crianças de 0 a 3 anos freqüentavam creches no país em 2007. O percentual está bastante abaixo da meta do Plano Nacional de Educação do Ministério da Educação, de atender 50% das crianças dessa faixa etária até 2010. 
 
Apesar disso, o percentual de crianças atendidas aumentou nos últimos anos. Em 1997, somente 8,1% das crianças dessa faixa etária freqüentavam creches. 
 
Segundo Ana Lúcia Saboia, gerente de Indicadores Sociais do IBGE, o resultado está abaixo do desejável. “O ideal é que tivéssemos uma política pública para crianças de 0 a 3 anos. A falta de creches dificulta o acesso da mulher ao mercado de trabalho“, disse. 
 
Para especialistas, a questão do acesso a creches está ligada não só ao ensino, como também à melhoria da qualidade de vida. 
 
Em famílias pobres, onde há menor percentual de crianças em creches, muitas vezes a mãe deixa de trabalhar para cuidar dos filhos ou deixa com os filhos mais velhos a tarefa de tomar conta dos menores. 
 
A região Norte é a que tem menor percentual de crianças em creches: 7,5%. A maior taxa de freqüência escolar nessa faixa etária foi encontrada no Sudeste: 22,1%. 
 
A pesquisa mostra que o acesso a creches está ligado à renda. Nas famílias com renda domiciliar per capita de até meio salário mínimo, apenas 10,8% das crianças de 0 a 3 anos freqüentavam creches em 2007. 
 
Nas famílias com renda per capita superior a três salários mínimos, a taxa de participação era de 43,6%. 
 
Outros dados reforçam a relação entre freqüência a creches e renda. No grupo de crianças entre 0 a 3 anos é onde existe a maior proporção de freqüência à rede privada: 40,5%. No ensino fundamental, por exemplo, apenas 12% das crianças estavam em escola particular. 
 
Para Ruben Klein, especialista em avaliação educacional, pesquisas mostram que o estímulo a crianças de faixa etária menor é eficiente, desde que não se trate de um esforço isolado. 
 
“O problema da creche é que não basta ser um lugar para deixar a criança. Se ela não tiver atividades que estimulem o aprendizado, não fará diferença“, disse. 

Para Claudio Moura e Castro, consultor em educação, em grande medida a oferta de creches é um benefício mais voltado para os pais do que para os alunos entre 0 e 3 anos. 
 
“Teoricamente, todos os países que têm um nível de educação de primeira grandeza não investiram primeiro nisso. Esse fenômeno é uma coisa recente“, disse. 
 
 
Cresce total de crianças que trabalham em casa
Folha de São Paulo 
 
O percentual de crianças entre dez e 15 anos que fazem trabalho doméstico foi o que mais cresceu nos últimos dez anos, de acordo com a Síntese de Indicadores Sociais, do IBGE. 
 
O estudo mostra que 5,4% das crianças nessa faixa etária que trabalhavam estavam ocupadas no próprio domicílio em 1997, contra 8% no ano passado. O trabalho de crianças fora de casa -em outro domicílio ou em área ou via pública- também teve aumento. 
 
O percentual de crianças que prestava trabalhos domésticos para outra pessoa passou de 8%, em 1997, para 9,1%, em 2007. Já a proporção de crianças que trabalhavam em área ou via pública subiu de 5% para 5,7%, entre 1997 e 2007. 
 
Em compensação, houve queda na ocupação em fazendas, sítios e granjas -a participação teve queda de 43,4% para 36,5%. Também caiu a proporção das crianças ocupadas em lojas, oficinas e fábricas (de 26,9% a 24,5%). 
 
Apesar do aumento na proporção de crianças ocupadas em alguns locais, houve redução do trabalho infantil em todas as áreas, de acordo com o IBGE. Em 1997, 20,6% das crianças de dez a 15 anos estavam trabalhando, enquanto no ano passado eram 12,8%. 
 
“Os resultados indicam que está havendo maior fiscalização do Ministério do Trabalho“, afirmou Lara Gama, do IBGE. De acordo com ela, o trabalho em casa pode estar relacionado à colaboração para a família na produção de algo para vender. 
 
“Em números absolutos, o trabalho infantil caiu em todas as formas de ocupação, o que mudou foi a distribuição dessa mão-de-obra“, disse Gama. 
Para o coordenador do programa de erradicação do trabalho infantil na Organização Internacional do Trabalho, Renato Mendes, a mudança no perfil do trabalho infantil impõe um desafio para a estratégia de combate a essa prática. 
 
“O fiscal tem atuação limitada quando se trata de fiscalização do trabalho doméstico. Há uma dificuldade de caracterizar uma atividade exploratória num trabalho dentro da própria casa ou mesmo na rua“, afirmou ele. 
 
 
 
Cota não levou mais negros à universidade
Folha de São Paulo 
 
A política de cotas, implementada em mais de 60 universidades públicas do país, ainda não resultou em redução da desigualdade na participação de brancos, pretos e pardos no ensino superior, revela a Síntese de Indicadores Sociais. 
 
No ano passado, a taxa de freqüência (proporção de pessoas que dizem estar indo à universidade) para alunos de 18 a 25 anos na população branca era de 19,4%. Entre a população preta e parda (nomenclatura usada pelo IBGE, que usa como critério a cor por autodeclaração), a taxa era de 6,8%. Os dados mostram que, na faixa de 18 a 25 anos, os estudantes pretos e pardos ainda não alcançaram a taxa de freqüência que brancos tinham em 1997. 
 
Na faixa de 21 anos, por exemplo, a freqüência de alunos pretos e pardos era de 2,6% em 1997. No ano passado, subiu para 8,4%. No mesmo período, a população branca ampliou seu índice de 12,2% para 24,2%. Na prática, cresceu a distância em pontos percentuais. 
 
Para José Luiz Petruccelli, do IBGE, os dados mostram que não houve impacto da criação de vagas para a população preta e parda. “Não existe uma política pública nacional de cotas. A lei que propõe isso está parada no Congresso. O pouco que está sendo feito não tem impacto.“ 
 
O pesquisador afirma ainda que os números deveriam refletir a autodeclaração de cor. “O país tem metade da população que se identifica como branca e outra como não-branca. Se a cor não estivesse relacionada à apropriação de riqueza, deveríamos ter metade de brancos e metade de não-brancos nas universidades.“ 
 
Segundo Marcelo Paixão, economista da UFRJ e coordenador do Observatório Afrobrasileiro, o governo mostra apenas tolerância sobre políticas afirmativas, e as únicas ações oficiais até agora foram o Prouni (Programa Universidade para Todos, que dá bolsas, com cotas para pessoas autodeclaradas indígenas, pretas ou pardas) e o Fies (Programa de Financiamento Estudantil). 
Para ele, a participação dos pretos e pardos cresceu em ritmo acelerado, mas, em razão da base baixa, não foi possível reduzir a distância em relação à população branca. 
 
“As políticas de ações afirmativas e o esforço de cada estudante ainda não foram suficientes para mudar um quadro em que mais de 90% dos jovens negros estão fora da universidade. Mesmo 120 anos depois da abolição, o país não consegue colocar 10% da população negra na universidade“, disse. 
 
O coordenador da ONG Educafro no Rio, André Guimarães, afirma que um dos principais problemas é a falta de divulgação do Prouni. “Fui na semana passada a uma escola em Inhaúma (zona norte do Rio) e, quando falei do Prouni, os olhos dos estudantes brilharam. Eles nem sabiam que eles tinham esse direito“, afirmou. 
 
Vanderson Luiz da Silva, 22, aluno de um pré-vestibular voltado para pretos e pardos, por exemplo, disse que desconhecia o programa no ano passado, quando completou o ensino médio e tentou pela primeira vez o vestibular para história. 
 
O hiato entre pessoas que já concluíram o ensino superior também aumentou. Em 1997, 9,6% dos brancos e 2,2% dos pretos e pardos tinham nível superior completo. Em 2007, 13,4% e 4%, respectivamente. 
 
Não só no ensino superior há discrepância. Em 2007, dos cerca de 14 milhões de analfabetos no país, quase 9 milhões eram pretos ou pardos. Na população branca, era de 6,1% para aqueles com 15 anos ou mais e de 14% para pretos e pardos. 
 

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