Setor de Obras gerais viu queda na produção e vendas ao governo em 2022

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Livrarias virtuais se tornaram principal canal de vendas, segundo a Pesquisa Produção e Vendas; especialistas ouvidos pelo PN também comentam o preço do livro e o papel das livrarias físicas, feiras do livro e o trabalho das distribuidoras.

Assim como no subsetor de CTP, a Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro (ano base 2022) consolidou a participação das livrarias exclusivamente virtuais como principal canal de distribuição também do subsetor de Obras gerais, representando 50,8% do faturamento dessas editoras em 2022.

Segundo os dados da pesquisa, o subsetor apresentou uma queda na produção (-13%), muito por conta das vendas ao governo. Vale lembrar que Obras Gerais é o subsetor que mais atende o PNLD Literário e que, ano passado, houve atrasos e problemas no edital. Por esse motivo, o número de exemplares vendidos para o governo apresentou queda expressiva de 76%.

Por outro lado, o total de exemplares vendidos apresentou um leve crescimento de 0,3% e o crescimento no faturamento foi de 6%. “Esse crescimento também é em função do preço, mas se a gente olhar a variação nominal, que praticamente empata com a inflação, então podemos dizer que em termos reais, o preço do livro de obras gerais não sofreu alteração”, explicou Mariana Bueno, economista da Nielsen na apresentação da PeV.

Então o que tirar de conclusão dos resultados apresentados na pesquisa? Para J.A Ruggeri, publisher do Grupo Editorial Alta Books, o dado que mais se destaca desse segmento é justamente a lateralização da receita, já que o faturamento real (descontado a inflação) não cresceu. “Outro hotspot importante para olhar é que se produziu menos exemplares em 2022 em comparação ao ano anterior, porém a receita se manteve estável, muito provavelmente em virtude da reposição de preços”, avalia Ruggeri, lembrando também a queda acentuada nos exemplares vendidos para o governo.

Para Bruno Zolotar, diretor comercial e de marketing da Rocco, os dados refletem a realidade que ele acompanha na editora. “Os anos de 2020 e 2021 foram muito bons para as vendas, mesmo com a pandemia, em função do ‘boom’ do e-commerce. Por outro lado, 2022 foi realmente flat em volume, apesar de termos observado um crescimento em valor por conta dos reajustes de preços que o mercado praticou ― em função do aumento do papel”.

Livrarias exclusivamente virtuais

Outro fator que ditou as manchetes relacionadas à pesquisa foi o crescimento das livrarias exclusivamente virtuais no faturamento do subsetor. “Eu soube de varejistas cujas vendas cresceram, somente em 2020, o que estava projetado para cinco anos”, comenta Zolotar. “Em 2022, com a normalização das atividades e das despesas fora de casa, o consumo on-line caiu. Mas não há como negar que o patamar da compra de livros em sites hoje é bem maior do que o de antes da pandemia. O hábito de compra mudou”, completa o profissional.

Na visão de Ruggeri, “o estrangulamento do varejo tradicional com a redução das livrarias físicas e PDVs e o impulsionamento das vendas online ainda como herança do cenário pós-pandêmico, em especial com ganhos notórios para a Amazon”, são os principais fatores que contribuíram para o cenário apresentado na PeV. “Em termos de negócios, não é muito inteligente confrontar a gigante de Seattle (para citá-los), mas, sim, criar parcerias e sinergias em benefício de seus livros. Todo mundo ganha”, completa.

Mesmo com as livrarias exclusivamente virtuais dominando o mercado, Zolotar acredita que o varejo físico deva retomar, nos próximos anos, parte do território perdido. “Até porque estamos assistindo ao saudável processo de consolidação da expansão das redes Leitura, Livraria da Vila e Livraria da Travessa. Essas redes vêm recuperando para a categoria espaços em shoppings importantes, que no passado tiveram lojas da Saraiva e da Cultura”, lembra.

Feiras do Livro/Bienais

Nos últimos anos, as Bienais têm recebido elogios das editoras participantes pelos constantes recordes de público e faturamento. Uma das consequências foi o aparecimento das Feiras do Livro/Bienais entre os principais canais de distribuição do subsetor.

“Editores têm a eterna e difícil tarefa de encontrar canais alternativos para a venda de livros e conteúdo, logo potencializar a venda via feiras, eventos e canais diretos é consequência natural disso. E para muitos editores pequenos, feiras e eventos são fundamentais para manter um fluxo de caixa saudável, à medida que as condições comerciais ofertadas a eles são mais duras e desafiadoras”, comenta Ruggeri.

Para Bruno, o número relacionado a esse canal de distribuição deve ser até um pouco maior do que a pesquisa aponta. “No ano passado, as pessoas estavam sedentas por eventos presenciais, e o sucesso da Bienal de São Paulo foi um reflexo disso”. Mesmo assim, segundo ele, ainda há um longo caminho a ser percorrido. “O canal das Feiras tem muito potencial para crescer, mas há uma necessidade de maior profissionalização. Ainda há muitos casos em que as feiras são mal montadas, tanto do ponto de vista de infraestrutura quanto de programação. Isso sem falar que a divulgação deixa muito a desejar. Mas A Feira do Livro no Pacaembu, na semana passada, por exemplo, mostrou que um evento bem-organizado, com acesso fácil e boa divulgação, pode gerar boas vendas para editores”, comenta o Zolotar, lembrando que a Rocco vendeu seis vezes mais no evento em comparação com a primeira edição do evento.

Tendências

“As livrarias virtuais vão continuar a dominar o mercado nos próximos anos”, aposta Bruno, que também se diz otimista em relação às vendas para o governo em 2023. “Além disso, observo um movimento maior de Secretarias Estaduais e Municipais lançando editais e cotando livros”. O diretor da Rocco também lembra do trabalho das distribuidoras. “Vejo também movimentos interessantes de distribuidores como a Catavento e a Vitrola, num trabalho mais estratégico de criar novas oportunidades para vendas de livros em lugares não convencionais”.

Durante a apresentação da pesquisa em maio, Sevani Matos, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), comentou que acredita que o subsetor deve continuar numa leve curva ascendente nos próximos anos.

Veja a repercussão da Pesquisa nos diferentes subsetores:

+ Combinação de fatores contribuiu para quedas nos números do setor de livros didáticos no Brasil em 2022

+ Livros religiosos tiveram resultados positivos na Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro 2022

+ Setor de livros CTP vive entre o desalento e a esperança, após números negativos nas pesquisas

Publicado por TALITA FACCHINI – PUBLISHNEWS em 14/06/2023.

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