Abrelivros em Pauta entrevistou Renilda Peres de Lima, Secretária de Educação do Estado de São Paulo. A experiência pioneira da implementação do novo Ensino Médio no Estado, os desafios para setor educacional e o papel do livro escolar e do material didático foram alguns dos temas abordados. Confira:
Abrelivros em Pauta – Poderia nos atualizar sobre o processo de implementação do novo Ensino Médio no Estado de São Paulo?
Renilda Peres de Lima: O Estado de São Paulo foi pioneiro nesse processo. Foi o primeiro a homologar o currículo da etapa do Ensino Médio (em 2020) e a iniciar a implementação do Novo Ensino Médio nas escolas já em 2021, com a 1ª série (ofertando a Formação Geral Básica), em 2022 na 2ª série já com os Aprofundamentos Curriculares e, ao final de 2023, formaremos a primeira turma em toda a rede. Além dos 10 itinerários formativos por área de conhecimento (1 por área de conhecimento e mais 6 integrados entre duas áreas), ofertamos, em parceria com a Secretaria do Desenvolvimento Econômico, a formação técnica e profissional para os estudantes da rede estadual.
Abrelivros em Pauta – A que credita o sucesso da implementação do novo Ensino Médio em São Paulo? E de que forma o exemplo do Estado pode ser replicado em outras unidades de Federação ou em municípios?
Renilda Peres de Lima: Entendemos a implementação do Novo Ensino Médio como prioridade desde o início da gestão. O sucesso da implementação se deve ao trabalho em conjunto realizado com a rede por meio de escuta com os gestores das 91 Diretorias de Ensino, unidades escolares, professores, estudantes e comunidade escolar, levando em consideração as características de cada região. Aqui na Secretaria essa escuta se desdobrou em ações articuladas em todas as frentes de trabalho e em alto investimento com a produção de materiais, formação de professores, empenho de recursos pedagógicos e construção de normativos.
Entendendo a necessidade das escolas se prepararem para implementar os Aprofundamentos Curriculares, a Seduc-SP criou uma linha específica do Programa Dinheiro Direto na Escolas, o PDDE Paulista, com repasse de 250 milhões de reais. Com o PDDE Novo Ensino Médio, as escolas puderam adquirir rico acervo bibliográfico para potencializar a aprendizagem dos estudantes. No caso da formação de professores, a Seduc disponibilizou uma trilha de formação sobre os MAPPAs, material para uso dos professores, além da convocação mensal com os representantes das diretorias de ensino que possuem o papel de multiplicar a formação nas suas regionais.
Entendemos que esse modelo pode ser, sim, multiplicado para demais estados, porque a nossa rede é bastante diversa, e os desenhos realizados foram pensados para atender as diferentes escolas, com poucas e muitas turmas, rurais ou urbanas e para todos os estudantes.
Planejar a implementação com base nas características da rede, se utilizando de dados e evidências, e investir na formação dos gestores e professores são pontos fundamentais na implementação do novo Ensino Médio em todas as localidades do Brasil.
Abrelivros em Pauta – Qual tem sido o papel do PNLD e dos livros escolares na implementação do novo Ensino Médio nas escolas?
Renilda Peres de Lima: Por sermos pioneiros, o PNLD não nos atende em relação aos Aprofundamentos Curriculares. Os materiais enviados apoiam os estudantes sobretudo na Formação Geral Básica (Projetos Integradores e formação básica por área de conhecimento) e no componente de Projeto de Vida.
Abrelivros em Pauta – Quais são os maiores desafios para implementação do novo Ensino Médio, em geral e em relação à formação dos professores (as)?
Renilda Peres de Lima: O tamanho da rede de São Paulo é um grande desafio para a implementação. Só no Ensino Médio estamos falando em 3.720 escolas com mais de 1,2 milhões de estudantes e com a diversidade que temos, até mesmo em questões regionais. Isso é sempre algo que precisamos levar em conta em qualquer política que criamos.
Abrelivros em Pauta – Diante da pandemia, os dois últimos anos foram bem desafiadores para o setor educacional. Quais medidas acredita que serão eficazes para mitigar os prejuízos do tempo perdido na formação escolar? O que São Paulo está fazendo e o que ainda deve ser feito?
Renilda Peres de Lima: Durante a pandemia, a Secretaria viabilizou, em tempo recorde, o Centro de Mídias da Educação de São Paulo (CMSP), com aulas de forma remota, mediadas por tecnologia, para todos os componentes, de cada ano/série.
Além disso, a Secretaria da Educação disponibiliza para a rede dois programas de recuperação conhecidos por “Aprender Juntos” (para 3º ao 6º ano do Ensino Fundamental nos componentes de Língua Portuguesa e Matemática) e “Aprender Sempre” (para todos os ciclos de ensino, ou seja do 1º ano fundamental à 3ª série do médio), que caminha em paralelo com o desenvolvimento do currículo, com o intuito de apoiar as escolas e os estudantes na recuperação das defasagens da aprendizagem, disponibilizando materiais de apoio para auxiliar nesse processo.
Para atender os estudantes mais vulneráveis do 3º ano do Ensino Fundamental à 3ª série do Ensino Médio, a Seduc-SP também disponibilizou chips para acesso ao Centro de Mídias e demais canais da educação, com o intuito de combater a evasão escolar e atuar diretamente na recuperação de aprendizagem.
Abrelivros em Pauta – A adoção dos itinerários formativos é uma grande mudança do novo Ensino Médio. Como os professores estão lidando com essas mudanças na sala de aula, em termos de conteúdo, material didático e carga horária? Quais os desafios para a implementação dos itinerários?
Renilda Peres de Lima: Os conteúdos a serem desenvolvidos nos itinerários formativos já fazem parte da formação acadêmica do professor, a novidade está no processo metodológico. Para auxiliar os professores foram disponibilizados Materiais de Apoio ao Planejamento e Práticas dos Aprofundamentos (MAPPA), para cada unidade curricular de cada um dos 10 aprofundamentos curriculares que estão sendo ofertados pela rede estadual de São Paulo, com orientações para o desenvolvimento do tema abordado e das habilidades a serem desenvolvidas por cada componente curricular.
Para implementação, os professores estão passando por formações em Aula de Trabalho Pedagógico Coletivo, a ATPC, além das formações disponibilizadas em ambiente virtual e formações continuadas realizadas pelas Diretorias de Ensino.
A Seduc-SP distribuiu a carga horária dos itinerários formativos ao longo das séries de forma gradual aumentando o número de horas ao longo das 3 séries, sendo contempladas no turno que o estudante cursa o EM.
Abrelivros – Como imagina um PNLD de Itinerários Formativos?
Renilda Peres de Lima: Como um suporte para aprofundamento de conceitos temáticos desenvolvidos pelas áreas de conhecimento, como por exemplo: saúde, produção audiovisual, educação financeira, empreendedorismo, ética, entre outros, e que estimule o desenvolvimento de diversas competências e principalmente do próprio estudante.
Abrelivros em Pauta – Em que medida as editoras de livros escolares poderiam contribuir para a implementação dos itinerários formativos?
Renilda Peres de Lima: As editoras precisam ter como base os currículos dos estados, no caso de São Paulo, o Currículo Paulista, para desenvolver seus produtos e, assim, atender as especificidades de cada contexto.